O culto dos príncipes
Com discurso descontraído, roqueiro convertido comanda celebração evangélica que defende valores como a virgindade masculina antes do casamento e atrai centenas de fiéis
Wilson AquinoASTRO
Pastor Claudio Mauri, o Brinco, líder da
Igreja: para ele, não pode nem beijo na boca
“Estamos tentando resgatar os valores que foram perdidos. Vamos andar na contramão do que o mundo dita”, conclama Brinco, que já teve seus dias de mulherengo. “A pastora Sara fala, com razão, que sou um ex-cachorrão”, admite o roqueiro convertido, mencionando a cunhada Sara Sheeva, que ministra celebração semelhante, mas direcionada exclusivamente ao sexo feminino: o culto das princesas. No dos príncipes, a presença de mulheres é proibida (“pode dispersar a atenção dos varões”, afirma Brinco). E no das princesas, menino não entra.
No Rio, o culto dos príncipes acontece no salão do Clube Olympico, alugado pela ICI. Cerca de 200 cadeiras de plástico brancas são distribuídas em frente ao púlpito – um palco coberto por carpete vermelho, onde um músico toca órgão ininterruptamente. De camisa roxa, Brinco caminha de um lado para outro, falando sem parar. Normalmente, os cultos lotam. Porém, na quinta-feira 16, pouco mais de 40 homens compareceram à reunião. O pastor exibia a “Bíblia” para afirmar que sexo fora do casamento é pecado de fornicação, mas pouco consultava o livro sagrado. “Não estou dizendo que sexo é pecado. Afinal, quem inventou sexo foi Deus”, afirmava ele, ressalvando que o jovem deve se guardar até o casamento para ser considerado príncipe, que no caso é o filho do Rei (Deus). “Quem ama espera, respeita e paga o preço. Uma das formas de saber se o homem quer ficar com a mesma mulher até o final é ele pagar o preço da santidade.”
FÉ
Aos 22 anos, Leandro Soares pretende se manter virgem até o casamento
“É castidade antes do casamento e depois vai à forra”, diz o professor de ciência da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Jorge Cláudio Ribeiro, salientando que os protestantes, pelo menos, falam com conhecimento de causa. “Pastores e pastoras podem casar e sabem o que é relação sexual. O que não é o caso da Igreja Católica, que defende o sexo somente para procriação”, afirma. “Numa sociedade tão erotizada, de repente falar em castidade acaba chamando a atenção”, observa a psicóloga e terapeuta sexual Margareth dos Reis, ressaltando que o importante é não criar uma normatização para a vida sexual. “Se esse modelo é coerente com aquilo que o casal acredita, é provável que faça bem”, explica.
O estudante Marcelo Victor Franco Carrera, 18 anos, namora há um ano e sete meses uma jovem que frequenta o culto das princesas. “O Brinco está certo, a castidade fortalece a relação”, diz Carrera, que terminaria caso cedesse e fizesse sexo com a namorada. Brinco reserva o final do encontro para esclarecer as dúvidas dos fiéis, independentemente de serem príncipes ou não. Um deles, aflito, quer saber se existe um tempo máximo para esperar. “Ah, no máximo dois anos, né? Mais do que isso ninguém aguenta.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário