quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


A volta de Dom Pedro I

A exumação dos corpos do imperador e de suas duas mulheres elucida dúvidas sobre a monarquia, reconta detalhes da história e traz o passado do País para mais perto dos brasileiros

João Loes
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Não são muitas as oportunidades de testemunhar a história ser reescrita. Às vezes, na academia, ela até ganha novas leituras à luz da época e das teorias de quem se propõe a reinterpretá-la. Mas fatos novos surgirem é coisa rara. Isso torna ainda mais importantes as descobertas que começam a ser feitas a partir da exumação inédita dos corpos de dom Pedro I, imperador do Brasil, e suas duas mulheres, dona Leopoldina e dona Amélia. Fruto do extenso trabalho que envolveu 11 instituições dos três âmbitos de governo e mobilizou uma equipe liderada pela arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel, os resultados iniciais, divulgados pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, têm o fascínio de trazer o passado para os dias de hoje. O interesse despertado pela pesquisa também é sinal da onda de valorização da história que se nota no mundo todo, com um público global que parece ávido por saber um pouco mais sobre o que já foi um dia. Os estudos que a intrincada exumação incentiva devem ainda dar início a um processo de revisão e redescobrimento da história nacional. Em breve, teorizam historiadores ouvidos por ISTOÉ, poderemos até ver algumas modificações nos livros didáticos brasileiros a partir do que dizem os restos mortais da família imperial. Entre os personagens examinados, dom Pedro I e a imperatriz Leopoldina renderam as revelações mais saborosas da pesquisa. Ele, em especial, por sua importância histórica e por ser o eixo central dos três exumados, foi quem mereceu mais atenção.
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TRABALHO MINUCIOSO
Estudos dos restos mortais do imperador e de suas esposas
permitem rever fatos históricos. Abaixo, dona Amélia mumificada
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Dom Pedro I, feito imperador do Brasil em 12 de outubro de 1822, morreu e foi enterrado em Portugal em 1834. Ele havia abdicado do trono brasileiro três anos antes e regressado para a Europa. Seus restos mortais foram trasladados para o País em 1972, na comemoração dos 150 anos de Independência, sendo abrigados na cripta do Monumento à Independência, em São Paulo. A abertura do caixão, em fevereiro do ano passado, foi trabalhosa e demorada (leia mais às págs. 62 e 63). Um levantamento preliminar do material já permitiu a revisão de algumas verdades estabelecidas sobre o imperador, além de novas interpretações de fatos conhecidos.
Por mais de um século, a imagem propagada de dom Pedro I era a de um homem esguio, forte e alto. Assim ele foi retratado em telas e, posteriormente, no cinema e na tevê. Por isso, o patriarca da independência que habita o imaginário brasileiro é o do imperador montado no cavalo branco, grande e imponente como o pintou Pedro Américo num dos principais quadros do Museu da Independência. Ou o dom Pedro I galã, interpretado, em 1972, por Tarcísio Meira no filme “Independência ou Morte”. A verdade, porém, é que nem porte de galã ele tinha. Segundo as conclusões iniciais da pesquisa, ele media entre 1,66 m e 1,73 m. Portanto, era baixinho para os padrões atuais, mas de boa estatura para a época. A partir da estrutura óssea pode-se inferir que era atlético. “Bate com os relatos que temos de que ele era um sujeito hiperativo, sempre envolvido com algum tipo de atividade física”, afirma Mary del Priore, historiadora e autora de “A Carne e o Sangue”, sobre a família imperial.
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A exumação também revelou que quatro costelas do lado esquerdo estavam quebradas. Elas são resultado de acidentes em vida porque havia marcas de cicatrização, processo que cessa após a morte. É um achado que confirma a documentação existente sobre os acidentes sofridos por dom Pedro I – um em 1823 e outro em 1829 –, mas que também expande a discussão sobre as aptidões e o estilo dele para exercer o poder. “De informações como essa, que confirmam lesões graves decorrentes dos riscos que o imperador assumiu, podemos inferir que ele não era um homem talhado para a vida em gabinete”, diz a historiadora Maria Aparecida de Aquino, da Universidade de São Paulo (USP).
De fato, dom Pedro I era mais talhado para a ação do que para reflexões. Ao regressar para Portugal, por exemplo, depois da abdicação do trono no Brasil, fez treinamento na França para melhorar a condição física como preparação para a guerra que travaria com seu irmão, dom Miguel, pelo trono português. Negociar uma saída diplomática não era sequer uma possibilidade. “Todo governante constrói para si a imagem que deseja ter, e dom Pedro I sempre quis ter fama de cavaleiro destemido e apaixonado”, diz o historiador Maurício Vicente Ferreira Jr., diretor do Museu Imperial em Petrópolis. “De certa forma ele conseguiu, tanto para o bem quanto para o mal.”
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FAMÍLIA
A historiadora e arqueóloga Valdirene Ambiel com o crânio de dom Pedro I.
No alto, a segunda mulher, dona Amélia, e acima a primeira, dona Leopoldina
Dona Leopoldina, sua primeira mulher, sentiu na pele o lado passional de dom Pedro I. Dado a variações de humor, toda energia que ele tão facilmente depositava nas causas em que acreditava podia rapidamente se tornar agressividade. A imperatriz narrava em suas cartas a violência psicológica a que era submetida. Queixava-se do marido à irmã mais velha, Maria Luisa de Áustria, e a amigas como Maria Graham, sua educadora na infância. A correspondência mais reveladora, de 8 de dezembro de 1826, endereçada a Maria Luisa, fala de sofrimento e morte iminente – a imperatriz morreria três dias depois de ditar esta carta. “Há quatro anos, minha adorada mana, como a ti tenho escrito, por amor de um monstro sedutor me vejo reduzida ao estado de maior escravidão e totalmente esquecida pelo meu adorado Pedro”, desfia. Mais adiante, faz menção a um “horroroso atentado que será a causa de minha morte”.
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Isso ajudou a propagar a história de que dom Pedro I, em um acesso de raiva, teria dado um pontapé na imperatriz grávida, jogando-a escada abaixo no palácio na Quinta da Boa Vista, em São Cristovão, no Rio de Janeiro. O ataque teria quebrado o fêmur da imperatriz, causado seu último aborto e deflagrado a infecção generalizada que a matou em 1826. A origem da briga era a relação de dom Pedro I com a amante Domitila de Castro e Canto Melo, a Marquesa de Santos, a quem ele havia promovido a dama de companhia da imperatriz. A gota d’água para Leopoldina foi o fato de dom Pedro resolver assumir publicamente Isabel Maria, a filha que teve com Domitila, concedendo o título de duquesa de Goiás à menina de dois anos. Leopoldina o censurou numa carta: “Escolhes entre a esposa e a amante!” A reação brutal do imperador foi testemunhada pelo Barão de Mareschal, um agente do governo da Áustria, além de outras duas pessoas. Segundo Mareschal, ele gritou com a mulher que “lhe tiraria os cavalos para passeio e outros impropérios”. O austríaco também teria sido um dos responsáveis por espalhar na corte que dom Pedro espancara a esposa.
Uma das revelações importantes dos restos exumados de dona Leopoldina foi a de que não havia sinais de fratura em seu fêmur. Essa informação, em tese, desmentiria o episódio da Quinta da Boa Vista. “É uma história de origem pouco conhecida, mas que foi repetida infinitamente e acabou sendo tratada como verdade”, diz Isabel Lustosa, historiadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e autora do livro “D. Pedro I: Um Herói Sem Nenhum Caráter”. Na Europa, tias e amigas de dona Leopoldina na Áustria espalharam a versão sobre a morte da imperatriz pelas cortes do continente. No Brasil, ela ganhou as páginas de jornais de oposição, como o republicano “O Repúblico”, que chegou a chamar dom Pedro I de monstro. Seria uma mancha imensa na história da família imperial, se é que a história é verdadeira. Mas os ossos intactos deram ânimo aos descendentes da monarquia. “Ele não era esse monstro”, rebate dom Antônio João Maria de Orléans e Bragança, 62 anos. “Está provado que não houve nenhuma agressão”, reforça dom Betrand Maria de Orléans e Bragança e Wittelsbach, 72 anos, que autorizou as exumações, nas quais esteve presente um sacerdote. A pesquisadora responsável pelo estudo, porém, diz não ser possível fazer tal afirmação. “O que dá pra dizer é que ela não foi vítima de violência com força suficiente para quebrar um fêmur”, esclarece Valdirene.
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Os ossos da imperatriz, no entanto, desfazem a imagem de que ela era rechonchuda. Quando a jovem Leopoldina chegou ao Brasil, aos 19 anos, era “pequena, muito branca e com cabelos de um loiro fosco”, segundo historiadores. Depois de algum tempo no Rio de Janeiro teria engordado, passando a ser descrita como “baixa e corpulenta”. Uma amiga que a visitou no Paço Imperial, a Baronesa de Monet, chegou a ser ferina no relato da silhueta da imperatriz: “Parece talhada numa peça só.” Mas os exames da ossada sugerem, segundo Valdirene, que ela era uma mulher magra. Talvez o fato de dona Leopoldina ter tido nove gestações durante os nove anos em que viveu no Brasil tenha contribuído para essa imagem de gordinha.
No fim da vida, a depressão tomou conta da imperatriz que, além de tudo, estava sem dinheiro. Ela contraiu dívidas com comerciantes para dar conta de suas despesas enquanto dom Pedro I, sovina, regulava até a despensa da casa e a privava da mesada que seus familiares austríacos mandavam. Isso poderia explicar porque a imperatriz foi enterrada praticamente sem joias, apenas com um brinco simples e sem luxo, supostamente ornado por uma gota de resina, como mostrou a exumação. “Não dá para dizer qual é o material porque os exames ainda não foram concluídos”, ressalva a arqueóloga Valdirene. “E ainda que seja resina, há resinas caríssimas, como o âmbar.” Mesmo assim, surpreende a ausência de outras joias no caixão. “Onde estão as tiaras, os colares e as pulseiras que condizem com o status de imperatriz que ela tinha?”, questiona Maurício Vicente Ferreira Jr., do Museu Imperial de Petrópolis. “dona Leopoldina foi enterrada com o vestido que usou para a coroação do marido, é esperado que ele tenha sido desenhado com um conjuto de joias próprio, que, surpreendetemente, não está presente.”
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HOMENAGEM
Os corpos das três figuras históricas estão abrigados na cripta imperial
do Monumento à Independência, no parque da Independência, em São Paulo
As vestimentas do enterro de dom Pedro I também foram motivo de surpresa para os pesquisadores. Não havia qualquer comenda brasileira entre as seis encontradas nas roupas militares do imperador. “É preciso entender o contexto da morte dele”, diz o professor Paulo Jorge Fernandes, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. dom Pedro I morreu em Portugal como dom Pedro IV depois de se sair vitorioso de uma dura batalha contra o irmão tirano, dom Miguel. O foco estava na pátria-mãe. “É natural que ele ganhasse estas insígnias, não há desrespeito com a história brasileira”, afirma.
Para entender a divergência, convém separar a vida de dom Pedro I em três estágios distintos. O primeiro, em Portugal, como primogênito de dom João VI, o segundo, no Brasil, como imperador, e o terceiro, de volta a Portugal, como o rei soldado dom Pedro IV. Quando ele voltou a Portugal, sua vida havia mudado de tal maneira que ele já estava, inclusive, casado com sua segunda mulher, dona Amélia de Leuchtenberg, que também foi exumada da cripta do Monumento à Independência. Do caixão dela veio uma das maiores surpresas de toda operação: seu estado de conservação. Ela tinha pele, olhos, cílios e cabelo intactos. Em 1982, quando houve o traslado do seu corpo para o Brasil, foi constatado que ela estava preservada, mas sua localização na cripta era a pior, por isso, a expetativa era de grande deterioração.
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Curiosamente, dona Amélia queria um velório simples. “Em testamento, ela pediu, textualmente, para não ser autopsiada ou embalsamada”, afirma a pesquisadora Cláudia Thomé Witte, especialista na história da segunda mulher do imperador. Porém, o texto foi lido dois dias depois do enterro, na Ilha da Madeira, onde dona Amélia morava na época. Quem preparou seu corpo foi o médico Francisco Antônio Barral, também responsável por embalsamar a filha dela, Maria Amélia do Brasil, que morreu de tuberculose aos 21 anos em 1853. Na época, era comum europeus com a doença rumarem para ilha atrás de ar puro e repouso. Para o corpo da jovem, a imperatriz havia pedido o melhor método de embalsamamento da época, pois ela tinha intenção de velá-la por muito tempo – a cerimônia fúnebre durou impressionantes dois meses. E quando dona Amélia morre,u Francisco Barral decidiu usar na imperatriz a mesma técnica aplicada na infanta. O acaso ainda colocou dona Amélia no caixão e sarcófago mais bem fechados dos três que estão na cripta, o que criou uma situação ideal de preservação. Quando foi aberto, em 10 de agosto de 2012, o cheiro de cânfora dominou o ambiente, pois a substância era um dos principais ingredientes do embalsamamento.
Dona Amélia teve uma vida muito mais calma do que dona Leopoldina. Dom Pedro I, mais velho e consciente da dificuldade que seus assessores tiveram para lhe encontrar uma segunda mulher – sua fama de violento ainda dominava as cortes europeias e ele ouviu oito recusas, da Baviera ao Piemonte, até ser aceito –, foi amoroso e atencioso com a nova imperatriz. Para a pesquisadora Cláudia, isso explica o fato de dona Amélia ter guardado luto por 39 anos, até sua morte. Ela foi enterrada de preto.
Muitas outras interpretações ainda serão feitas a partir da pesquisa da arqueóloga Valdirene, apresentada como um projeto de mestrado no departamento de história da Universidade de São Paulo na semana passada. Novos dados também surgirão a partir da análise da montanha de informação acumulada pelas fotos e exames médicos desses três protagonistas da nossa história. A análise levará anos e ajudará a compor um perfil mais fiel da família imperial. Há muito trabalho por fazer e Valdirene Ambiel, 41 anos, pretende se encarregar de pelo menos parte dele em um doutorado. “São poucas as oportunidades que temos de mostrar ao grande público, de forma tão clara e direta, que a história não é uma verdade única e inquestionável, descansando em um livro”, diz a historiadora Maria Aparecida de Aquino. Estamos diante de uma delas.
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Colaboraram: Laura Daudén, Mariana Brugger e Juliana TiraboschiMontagem sobre de João Castelano/Ag. Istoé; Divulgação

Medicina abaixo de zero

Método que usa frio extremo para tratar lesões cardíacas e cerebrais começa a ser testado contra dor e tumores

Mônica Tarantino
O uso de aparelhos para promover resfriamento do corpo e até o congelamento de células é um recurso consolidado para remover pintas e lesões cutâneas e também na cardiologia e neurologia. Durante paradas cardíacas ou acidentes vasculares cerebrais, o resfriamento diminui a atividade metabólica das células nervosas, o que pode tornar mais fácil para as células cardíacas e cerebrais sobreviverem ao evento. Seguindo essa linha de raciocínio, na semana passada, pesquisadores da Universidade de Washington (EUA) anunciaram resultados promissores de um estudo que resfriou em até quatro graus negativos o cérebro de cobaias que sofreram lesões traumáticas na cabeça. “Os traumas são a principal causa da epilepsia adquirida em adultos jovens e, em muitos desses casos, as crises não são controladas com medicação”, explicou Matthew Smyth, líder do trabalho. Enquanto um grupo de animais recebeu fones de ouvido com capacidade de resfriamento, outro colocou os mesmos fones, mas sem esse poder. Os ratos cujos cérebros foram resfriados apresentaram apenas uma convulsão breve quatro meses após terem sofrido uma lesão cerebral. Já os outros tiveram quadros mais graves. “Se confirmarmos a eficácia da refrigeração em humanos, o método pode se transformar em uma maneira segura e relativamente simples de prevenir convulsões e até evitar a epilepsia nesses pacientes”, disse Smyth. O trabalho foi publicado na revista “Annals of Neurology”.
Outra área em que há progressos com a chamada crioterapia é o controle da dor. O Instituto Nacional dos EUA está financiando estudos para avaliar o potencial do método de aliviar dores no joelho de pacientes com osteoartrite. Neste caso, agulhas conectadas a tubos de gás argônio são inseridas logo abaixo da pele. Quando o gás é liberado, surgem cristais de gelo que cauterizam vasos sanguíneos e impedem a nutrição dos nervos, o que reduz a transmissão dos sinais de dor.
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OPÇÕES
Alfer (acima), do hospital Albert Einstein, usa o método contra tumor de rim
e de próstata. Ricci, do Icesp, prepara estudo sobre câncer de mama
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Mas é na luta contra o câncer que se vê o maior esforço para ampliar o emprego da técnica. Há progressos contra tumores de próstata, rim e diversos experimentos para avaliar seu desempenho contra o câncer de mama. Nos EUA, o urologista Fernando Kim, da Universidade do Colorado, aplica a crioablação (feita com as agulhas e equipamentos ultrassom) contra tumores na próstata e nas suas metástases. Para Kim, um dos pioneiros no estudo da técnica, uma das vantagens sobre a cirurgia tradicional é reduzir as chances de incontinência urinária e impotência. Ele também trata tumores localizados em pontos específicos, o que é uma tendência chamada tratamento focal.
Em São Paulo, o método é indicado pelo urologista Wladimir Alfer, do Hospital Albert Einstein, em casos de falhas no tratamento do câncer com radioterapia e para idosos que não querem conviver com um tumor de próstata, apesar de não haver risco de virem a morrer por causa dele. Alfer também usa o recurso para metástases no rim e no fígado. Nestes casos, o paciente entra em um tomógrafo para que as agulhas sejam inseridas com precisão milimétrica. “Hoje a técnica é mais segura por causa do uso de aparelhos de imagem para monitorar a inserção das agulhas e destruição das células”, diz o especialista.
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O efeito das agulhas geladas no câncer de mama está em avaliação em centros como a Universidade Cornell, nos EUA, e no Japão, onde foram tratadas até agora no Kameda Medical Center quatro pacientes com a doença em fase inicial. No Instituto do Câncer de São Paulo, o mastologista Marco Ricci está estruturando um estudo para avaliar a eficácia da remoção com crioablação de tumores de mama de até um centímetro e meio de mulheres idosas sem condições de fazer uma cirurgia. O equipamento para realizar o procedimento já chegou. Segundo o especialista, que avalia outras técnicas com a mesma finalidade, a criocirurgia pode alcançar 95% de chances de eliminar completamente tumores pequenos de mama. “É um método promissor, porém mais pesquisas são necessárias. Mas isso não deve demorar muito. O futuro é investir no estudo de estratégias para diminuir o papel da cirurgia”, diz o cirurgião Alfredo Barros, coordenador do núcleo de mastologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Fotos: Rafael Hupsel e Kelsen Fernandes/Agência Istoé

O conclave já começou

Diante de uma igreja desfigurada por denúncias de uma rede homossexual e de corrupção no Vaticano, e prevendo uma das eleições mais complicadas da história, cardeais se reúnem para costurar alianças

Débora Crivellaro
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RITOS FINAIS
Assistentes carregam a poltrona papal durante
celebração de Bento XVI na Basílica de São Pedro
Procura-se um exímio gerenciador de crises, dotado de inquestionável erudição, com coragem para implementar reformas, visão global, capacidade de comunicação, carisma, e uma profundidade espiritual irradiantes. Essa tem sido a obsessão dos príncipes do Vaticano, como são conhecidos os cardeais católicos, que desde a renúncia de Bento XVI têm a bíblica missão de escolher quem ocupará o trono de Pedro neste período turbulento da milenar instituição. E a situação só se agrava com o passar dos dias. Na quinta-feira 21, detalhes sobre o dossiê Vatileaks, que o papa decidiu apresentar para os cardeais eleitores antes de deixar o cargo oficialmente, mostraram uma rede de prostituição homossexual e um poderoso esquema de corrupção e desvio de dinheiro dentro da Santa Sé. Pressionados pela sucessão dos acontecimentos que destroçam a imagem dos católicos, os religiosos se reúnem em encontros privados para tentar influenciar o voto ou, simplesmente, discutir, quem, dentre os 117 do Colégio de Cardeais, apresenta as características necessárias para ser o 266º papa da história. Por mais que invoquem o Espírito Santo neste momento, e digam que ele é o responsável pela escolha do líder dos cristãos no mundo, os cardeais sabem: será necessário muita política e diplomacia para se chegar a um nome que consiga reconstruir as almas divididas da Igreja.
Para evitar um conclave muito longo, mais um desgaste para a Igreja Católica, tão açodada por escândalos nos últimos anos e nos holofotes da humanidade desde que Bento XVI desocupou a vaga de Pedro como se ela fosse um assento no parlamento, desmistificando, assim, seu posto, os cardeais já vivem a atmosfera do conclave. O grande problema é que há uma luta fratricida na Cúria Romana, que a renúncia papal só fez acirrar. Grupos rivais, principalmente entre os 28 poderosos cardeais italianos, tentam emplacar seus nomes, numa campanha eleitoral que permite, inclusive, a desmoralização velada, discreta, e nada cristã, dos oponentes. E para conferir ainda mais dramaticidade ao intrincado quadro da sucessão papal atual, está a figura de Joseph Ratzinger, cuja morte institucional após o dia 28 de fevereiro tem sido muito questionada – afinal, o religioso alemão estará a poucos quilômetros do Vaticano quando os cardeais estiverem escolhendo seu substituto. Cada palavra que Bento XVI tem proferido desde que renunciou, e pelos próximos dias, tem sido e será interpretada como uma mensagem para o conclave. Como no Angelus de domingo 17, quando falou sobre aqueles que “instrumentalizam Deus para seus próprios fins, dando mais importância ao sucesso...”
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MISSÃO
Cardeais com as vestes roxas da Quaresma: período de reflexão
para os príncipes do Vaticano, que irão escolher o novo papa
Discretos, os príncipes do Vaticano se encontravam em apartamentos particulares e pequenos restaurantes de Roma para eletrizantes conchavos. A partir da segunda-feira 18, as conversas veladas passaram a ser intercaladas pelos exercícios espirituais anuais da Quaresma, realizados na capela Redemptoris Mater, no Palácio Apostólico, com a liderança do cardeal papável Gianfranco Ravasi e a presença de um concentrado e aparentemente relaxado Bento XVI . A expectativa é que praticamente todos os 117 cardeais eleitores estejam em Roma no dia 28 de fevereiro, na despedida do pontífice alemão. Mais uma justificativa para a mudança de regras para a antecipação do conclave, aventada oficialmente pelo porta-voz da Santa Sé Federico Lombardi (leia na pag. 79).
A pressa de Ratzinger é grande porque a crise só se aprofunda no reino da Santa Sé, com intrigas dignas das cortes renascentistas. Na quinta-feira 21, o jornal “La Repubblica” publicou mais detalhes acerca do relatório secreto entregue por três cardeais de confiança de Bento XVI – o espanhol Julián Herranz, o italiano Salvatore De Giorgi e o eslovaco Jozef Tomko – no dia 17 de dezembro de 2012 sobre o escândalo de vazamento de documentos oficiais do Vaticano, conhecido como Vatileaks, que teria sido determinante para a decisão da renúncia. O periódico desfia detalhes do dossiê de 300 páginas, divididos em dois volumes encadernados em couro vermelho, que descreve uma teia de corrupção, sexo e tráfico de influências por entre as colunas da Santa Sé. Seu conteúdo abateu o religioso alemão de tal forma – foi a primeira vez que a palavra homossexualidade foi pronunciada dentro dos aposentos pontifícios – que ele teria dito: “Este documento será entregue ao próximo papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera.”
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O dossiê revelou uma rede de prostituição de jovens seminaristas, descoberta em 2010. No centro, o presidente do Conselho Nacional Italiano de Obras Públicas, Angelo Balducci, que teve o telefone grampeado por suspeita de corrupção. Foi descoberta uma conexão entre ele e o nigeriano Thiomas Eheim, membro do coro da Basílica de São Pedro, que seria o agenciador de encontros que aconteciam numa sauna, num centro estético, numa residência nos arredores de Roma e até dentro do Vaticano. Numa das ligações interceptadas, o nigeriano disse a Balducci: “Só digo que ele tem dois metros de altura, pesa 97 quilos, tem 33 anos e é completamente ativo.” Parte dos encontros homossexuais também se dava numa residência universitária na capital italiana onde vivia Marco Simeon, 33 anos, diretor da TV Rai Vaticano. Na semana da renúncia do papa, o jornal italiano “La Stampa” já havia falado sobre Simeon, mas como um exemplo do ajuste de contas que teria sido deflagrado na Cúria a partir da demissão papal. O diretor da RAI seria protegido de Bertone e considerado intocável durante a atual administração, mas foi demitido dias após o anúncio de Bento XVI. Resta saber se por causa da rede gay ou pelo enfraquecimento de Bertone. O relatório denuncia a existência, ainda, de um “lobby gay”, uma “rede transversal unida pela orientação sexual dentro do Vaticano”, e religiosos homossexuais chantageados por causa da vida dupla. No documento, também é apresentado um grupo especializado em montar e desmontar carreiras na Cúria e um terceiro, cujo objetivo era usar grandes somas de dinheiro do Banco do Vaticano para seus próprios interesses. O dossiê deve ser determinante para a eleição do próximo papa, uma vez que os eleitores terão acesso a ele.
Diante de uma Cúria esfacelada, e um papa clamando por mudança e renovação, o lobby dos italianos, incontestavelmente os mais poderosos, em número (são 28 no Colégio de Cardeais) e influência territorial, pode perder força, segundo vaticanistas, justamente por eles simbolizarem o status quo. Eles são divididos em facções muito bem delimitadas, que não se unem por ideologia ou visões afins da Igreja, mas por relações pessoais e redes de clientelismo, segundo o escritor e vaticanista John Allen Jr., da National Catholic Reporter. Há o grupo do secretário de Estado Tarcisio Bertone, que apoia Gianfranco Ravasi, 70 anos, prefeito do Conselho Pontifício para a Cultura, um dos mais fortes candidatos – não esquecendo do ditado mais falado no momento: “Quem entra papa no conclave, sai cardeal.” Há os círculos em torno de dois inimigos de Bertone, os também poderosos Angelo Sodano, decano dos cardeais, e Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana. Além daqueles que seguem o antecessor de Bagnasco, o conservador Camillo Ruini. O favorito de Bento XVI é considerado um míni-Ratzinger, com um toque mais popular: Angelo Scola, o influente arcebispo de Milão, que tem estado em evidência demais numa campanha em que muita publicidade pode significar o beijo da morte.
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A atmosfera pré-conclave tem lembrado muito a segunda eleição de 1978, após a inesperada morte de João Paulo I, um mês depois de tomar posse, afirma o vaticanista italiano Giorgio Bernardelli. Na época, depois de várias rodadas de votação, os cardeais continuavam num impasse, pois vários eram contrários à nomeação do arcebispo de Gênova, Giuseppe Siri, como papa. Foi essa conjuntura de divisão e ansiedade que fez florescer e consolidar o desconhecido Karol Wojtyla. Isso não necessariamente fortalece a tese de um papa da América Latina ou da África, mas de um líder com coragem para fazer as mudanças necessárias e expurgar o rosário de pecados da Santa Madre.
Fotos: Franco Origlia/Getty Images; GABRIEL BOUYS/AFP PHOTO

O declínio da igreja da bispa Sônia

A líder evangélica enfrenta a decadência de sua Renascer em Cristo, que já fechou 70% dos templos, a doença do filho e sucessor natural, em coma há dois anos, e os processos na Justiça por formação de quadrilha e estelionato

João Loes e Rodrigo Cardoso
Confira alguns vídeos que ajudaram a chamuscar a imagem da bispa Sônia Hernandes :
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CRISE
Aos 52 anos, a religiosa que brilhava entre as estrelas
evangélicas do País vê o poderio de sua igreja definhar
"É difícil pensar em alguém menos apropriado que a bispa Sônia para escrever um livro intitulado ‘Vivendo de Bem com a Vida’." A frase é de um ex-bispo que foi do alto escalão da Igreja Renascer em Cristo por mais de uma década e sintetiza o momento da instituição neopentecostal brasileira liderada pelo casal Sônia, 52 anos, e Estevam Hernandes, 57. No ano em que comemora um quarto de século, a denominação, tida como a grande promessa evangélica dos anos 1990, dá sinais claros de que está em franca decadência. Com cisões internas, uma complicada crise sucessória, um crescente número de lideranças migrando para outras denominações, templos fechados por falta de pagamento de aluguel e um sem-número de indenizações a serem pagas num futuro próximo, as perspectivas não são nada boas. “O futuro da igreja está nas mãos de Deus”, disse a bispa em entrevista exclusiva à ISTOÉ (leia aqui).

O livro “Vivendo de Bem com a Vida” (Ed. Thomas Nelson), que narra parte da trajetória desta que ainda é uma das figuras femininas de maior peso do movimento neopentecostal brasileiro, será lançado oficialmente no sábado 10, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Com tom professoral e confessional, o título já vendeu as 17 mil cópias da primeira impressão e está a caminho de esgotar as dez mil da segunda, uma raridade para o mercado editorial brasileiro. Parte desse quinhão será oferecida para os fiéis nos templos da Renascer a preços bem acima da média. “Quero cinco pagando R$ 300 por cada um destes livros até o final do culto”, anunciarão os bispos, como já fazem com os CDs, DVDs e livros nos templos da instituição. Tudo para aumentar a arrecadação do grupo. “A sede deles por dinheiro é absolutamente insaciável e está destruindo a igreja”, afirma o ex-bispo.
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NOS EUA
Presa com dólares na "Bíblia". Acima, a mansão em Miami
Sede essa que não é mais condizente com a estrutura encolhida que a igreja tem hoje. Em 2002, a Renascer em Cristo contava com 1.100 templos espalhados pelo Brasil e o mundo. Atualmente são pouco mais de 300. O líder que poderia imprimir agilidade à administração, o bispo Tid, primogênito de Estevam e Sônia que sempre teve saúde frágil, está em coma profundo há quase dois anos num leito de hospital. Da equipe de aproximadamente 100 bispos de primeiro time que a denominação tinha espalhada pelo Brasil até 2008, metade saiu para outras igrejas levando consigo pastores, diáconos e presbíteros. Para o lugar deles, ascenderam profissionais com menos experiência, o que, especula-se, pode ser um dos motivos da debandada de fiéis.

Quem acompanha a bispa hoje, porém, pode até acreditar que ela viva de bem com a vida, como diz o título de seu livro. Com um salário que gira em torno dos R$ 100 mil, ela continua com programas televisivos e de rádio diários, se veste com as mais exclusivas grifes e está sempre adornada com joias e relógios caros. Do apartamento triplex onde mora, em um bairro nobre na zona centro-sul da capital paulistana, ela sai pela cidade para cumprir suas obrigações de carro importado, blindado e escoltada por dois seguranças. Isso quando não usa um helicóptero avaliado em R$ 2,5 milhões para visitar seus sítios e haras no interior paulista. Mas que o observador não se engane. A riqueza que ela ostenta hoje não tem a retaguarda do começo dos anos 2000, quando a Renascer nadava de braçada no mar do crescente movimento evangélico brasileiro. “Hoje os Hernandes sangram a igreja para dar sobrevida ao padrão de vida nababesco que têm”, acusa um dissidente. Se nos anos 1990 a opulência do casal servia de chamariz para os adeptos da teologia da prosperidade, que celebra a riqueza material como uma dádiva proporcional ao fervor com que o devoto professa sua fé, hoje ela é uma ameaça à sobrevivência da instituição.
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DOR
Juris Megnis perdeu mãe e avó no desabamento
do templo da Renascer e ainda não foi indenizado
Mas como uma neopentecostal de envergadura internacional, que trouxe eventos gigantescos ao País, como a Marcha para Jesus, capaz de arregimentar 3,5 milhões de pessoas na capital paulista num único dia, e criou marcas de imenso sucesso como o Renascer Praise – o maior show de música gospel do Brasil, com mais de 15 edições –, entrou numa espiral descendente e, aparentemente, irreversível, de prestígio e credibilidade? Por que uma líder tão carismática como Sônia Hernandes perdeu apelo tão rápido? Dois eventos, próximos um do outro, desencadearam a derrocada da instituição. O primeiro começou na madrugada do dia 14 de janeiro de 2007, uma terça-feira. A caminho de Miami, nos Estados Unidos, Sônia, Estevam, dois filhos e três netos embarcaram na primeira classe de um voo levando US$ 56.467 em dinheiro. Ao pousar, tentaram passar pela alfândega americana sem declarar o valor. Foram pegos, presos, admitiram a culpa e cumpriram pena de reclusão em regime fechado e semi-aberto. Na época veio a público a informação de que parte da quantia foi encontrada dentro de uma “Bíblia”.

O impacto na igreja por aqui foi de nítido enfraquecimento. Segundo o professor Paulo Romeiro, da pós-graduação em ciências da religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, casos como esse podem até reforçar os laços de quem tem vínculos exclusivamente emocionais com a instituição. Mas para o fiel pragmático – cada vez mais presente no rol de devotos, como bem mostra a alta no trânsito religioso entre denominações – a força de um caso desse pode ser devastadora. Somada às acusações de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e estelionato feitas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), que vieram a público em 2007, a prisão nos Estados Unidos potencializou as incertezas dos fiéis. “Eles perderam a confiança do rebanho”, garante outro dissidente. Em 2008, o reflexo da debandada chegou aos cofres da instituição. Naquele ano, como arrecadou menos, a dívida com aluguéis de imóveis bateu os R$ 7 milhões.

Pouco depois, enquanto o casal ainda cumpria pena nos Estados Unidos, veio o segundo baque. Em 18 de janeiro de 2009 o telhado da sede da Renascer, na avenida Lins de Vasconcelos, no Cambuci, área central de São Paulo, desabou. No espaço onde boa parte dos cultos era filmada e transmitida, nove pessoas morreram e 117 ficaram feridas. Um laudo preliminar apontou como causa do acidente problemas de conservação e manutenção da estrutura. Dois anos e oito meses após a tragédia, ninguém foi formalmente indenizado. Em pelo menos dez processos, a igreja foi condenada a pagar valores aos fiéis e parentes das vítimas fatais que variam entre R$ 10 mil e R$ 150 mil. Mas os representantes da entidade recorreram de todas as decisões de primeira instância. Somente o advogado Ademar Gomes promove 37 ações de indenização. “A responsabilidade da igreja em relação ao que aconteceu já está comprovada pelos laudos técnicos do Instituto de Criminalística.” O professor de inglês Juris Megnis Júnior, 43 anos, perdeu a mãe, Maria Amélia de Almeida, 60, e a avó Acir Alves da Silva, 79. Sem chance de escapar dos escombros, elas morreram abraçadas. “Não há um dia em que não pense nisso. Nada vai reparar”, afirma. Dirigentes da Renascer respondem criminalmente e na área cível pelo caso em dois processos, que ainda não têm perspectiva de desfecho.
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MOMENTOS
A bispa na Marcha para Jesus, em São Paulo,
e com os filhos, Gabriel, Felippe e Fernanda
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Com a credibilidade abalada, a frequência nas igrejas e a arrecadação caíram ainda mais. Nas reuniões com o bispado nessa época, que aconteciam às terças-feiras, para rever os resultados da semana anterior, as humilhações se multiplicaram. Se antes Estevam e Sônia maltratavam os bispos que não atingiam as metas, agora, dos Estados Unidos, as broncas vinham por videoconferência, com muito mais veemência. “As reu­niões sempre foram um massacre”, lembra um dissidente. “Mas, com eles nos Estados Unidos, as coisas pioraram, embora um time de bispos daqui, junto com o filho do casal, o bispo Tid, tenha articulado um saneamento nas contas da instituição.”

Quando o plano começou a dar resultados, em agosto de 2009, Tid, ou Felippe Daniel Hernandes, precisou fazer uma operação para reparar uma cirurgia de redução de estômago malsucedida. Durante o procedimento, ele teve uma parada cardiorrespiratória que causou um edema cerebral, comprometendo o funcionamento do órgão e, para todos os efeitos, interditando Tid, que passou a viver em estado vegetativo. A fatalidade, terrível para qualquer família, foi ainda pior para os Hernandes, que tinham no filho um sucessor natural preparado para assumir a Renascer quando Sônia e Estevam se aposentassem. O futuro de uma igreja que já se arrastava ficou ainda mais incerto. Embora na instituição ainda se fale em um milagre, para os médicos, o coma do herdeiro, hoje com atividade neurológica quase nula, é irreversível. Sônia é vista quase diariamente visitando o filho na ala de tratamento semi-intensivo do Hospital Albert Einstein. Muitas vezes a visita é feita tarde da noite, depois dos cultos. Quando Tid precisa passar por qualquer procedimento, como foi o caso na semana do dia 5 de setembro, momento em que trocou uma sonda de alimentação, a bispa para tudo para ficar ao lado do primogênito.
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DESFALQUE
A saída do casal Kaká e Caroline Celico, abaixo com Estevam e Sônia, da
Renascer representou um baque e tanto à instituição: eram os principais dizimistas
Em meados de 2009, foi o agravamento do estado de Tid que adiantou a volta do casal dos Estados Unidos. A Justiça americana autorizou o retorno 15 dias antes do fim da sentença, no começo de agosto, para que os pais estivessem no Brasil, caso o estado de saúde do filho piorasse. O retorno marcou uma piora na instituição. O saneamento das contas foi interrompido de vez e a torneira voltou a se abrir para bancar os gastos de Estevam e Sônia. “Não podíamos tirar da contagem nem o dinheiro para pagar o papel higiênico, que dirá o aluguel do templo”, diz um bispo sobre a época que sucedeu o retorno do casal. Contagem é o nome dado pelos religiosos para o procedimento que acontece logo depois do culto, quando as doações são somadas. “Tínhamos que remeter tudo direto para a sede.” Com o aluguel atrasado em diversos locais, a igreja começou a receber ordens de despejo. Em levantamento de dezembro de 2010 feito pelo site Folha Renascer, uma espécie de fórum aberto sobre assuntos ligados à igreja dos Hernandes, 29 templos aparecem com a ordem registrada por falta de pagamento de aluguel em nove foros paulistanos. Hoje com fama de má pagadora, a Renascer tem dificuldade de encontrar proprietários dispostos a tê-la como inquilina.

Foi também em 2010 que a igreja perdeu seu garoto-propaganda e principal dizimista, o jogador de futebol Kaká. Com a mulher, Caroline Celico, eles formavam uma dupla que fortalecia e divulgava a Renascer no Brasil e no mundo. O casal Hernandes não comenta a saída, muito menos o atleta do Real Madrid. Apenas Caroline arrisca alguns comentários enviesados. “Confiei no que me falavam. Parei de buscar as respostas de Deus para mim e comecei a andar de acordo com a interpretação dos homens”, escreveu ela em seu blog. O mau uso do dízimo pago pelo craque, que sabia do fechamento de templos e da fuga de lideranças, teria motivado o rompimento com a igreja. Foi um baque financeiro e tanto. Kaká é o sexto jogador mais bem pago do mundo e, estima-se, depositava nas contas da Renascer 10% dos R$ 21 milhões anuais que recebia.
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No fim, quem mais sofre é o fiel. Sua religiosidade acaba envolvida, marginal e injustamente, em questões pouco sagradas. Os evangélicos têm todo o direito de pagar o dízimo e as igrejas de recolhê-lo. O problema é quando o dinheiro desaparece dos templos para reaparecer em forma de ternos, sapatos, brincos e anéis de lideranças pouco comprometidas com a fé. “Estamos nos trâmites finais do processo, em primeira instância, que acusa tanto Estevam quanto Sônia por dissimulação de patrimônio, também conhecida como lavagem de dinheiro”, diz o promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco-SP), Arthur Lemos Júnior. O casal costuma atribuir as acusações à perseguição ou à ação de forças malignas. Até meados dos anos 2000 esse discurso tinha algum efeito. Hoje, porém, as coisas mudaram. “A Renascer nunca mais será o que foi”, sentencia Romeiro. Será difícil honrar seu nome de batismo.

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 Colaborou Flávio Costa
PUBLICADO NA EDIÇÃO 2183

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


MOTIVAÇÃO PARA A ORAÇÃO

           Os homens de oração vinham das mais diferentes funções - leigos, pastores e evangelistas. Eles não eram necessariamente considerados os mais bem-sucedidos em suas igrejas ou comunidades, nem pastoreavam grandes igrejas ou recebiam os mais altos salários. Entretanto, eles possuíam, a mais valiosa  característica de um cristão: um coração submisso a Deus. 
Eles estavam sempre inflamados com o amor de Jesus Cristo. Para eles, a vitória não significava o sucesso nos padrões determinados pelo mundo, eles viam a vitória na obediência à vontade de Deus.
          A igreja do século XI pouco se interessa por assuntos espirituais. Os jovens rejeitam os valores cultivados pelos mais velhos. As drogas e o misticismo oriental os atraem, tensões raciais invadem as escolas. E os padrões seculares penetram nas igrejas.

- A ausência de vitória em nossa sociedade
          Cada geração precisa receber um novo toque de Deus; do contrário, o evangelho se torna deturpado. Os manipuladores da religião usam o nome de Jesus para os seus próprios interesses e, assim, o evangelho não tem efeito nas vidas das pessoas ou na sociedade com um todo.
          A igreja evangélica se habituou com os pregadores da fé que imploram por dinheiro, em vez de confiar em Deus. Isso se tornou agora a regra, em vez de uma exceção.
         Eles falam  de sucesso e prosperidade, em lugar da vitória da cruz. Tem produzido uma geração de cristãos que creem que diamantes e carros caríssimos são provas de uma vida cristã bem-sucedida. Tem esquecido de que foram chamados para serem iguais a Jesus. E Jesus não pensou em sucesso aparente, Ele viveu com o pensamento da obediência. Sua alegria era fazer a vontade do Pai.

          Uma nuvens escura paira sobre muitas igreja. O cristão evangélico, recentemente, passaram por um dos mais embaraçosos períodos da sua história. Jornais publicam casos de pecados e perversões entre os cristãos. Muitos aguardam com profunda preocupação, imaginando quem sera o próximo pastor ou líder a se expor com o seu pecado. Outros ostentam o seu pecado com um casamento, um divorcio, outro casamento, enquanto, ao mesmo tempo, escrevem seus livros, pastoreiam suas igrejas, ou produzem seus discos. Estes proclamam que descobriram uma nova compreensão do pecado, infelizmente, é um perdão em arrependimento, que não produz santidade.
          A igreja tem se transformado em motivo de piadas, em vez de ser a luz do mundo e o sal da terra.
          O orgulho tem estado na raiz do pecado do homem por milhares de anos. Foi o orgulho que fez lúcifer exaltar o seu coração e favoreceu uma rebelião contra Deus. E agora, ele está continuamente a incentivar o orgulho nos corações dos homens e mulheres a fim de que estes se juntem a ele em sua rebelião.
Ele veste o orgulho com vários tipos de capas - a capa da auto-retidão, do orgulho cultural e racial e da arrogância espiritual.  O pecado secreto do orgulho é finalmente exposto pela luz de Deus. A única capa que é própria do filho de Deus é a da justiça e graça de Cristo  - capa do coração humilde.
          O primeiro sinal de que um escândalo atingiu o céu é a ausência de oração. Quando o doce cheiro suave das orações do povo de Deus cessa de subir ao Seu trono. A igreja começa a depender da tecnologia e dos talentos, substituindo, assim, o poder de Deus pela ingenuidade do homem. A igreja começa então a caminhar através da burocracia e não através de joelhos dobrados.
Quando a oração é substituída por forma de função, a igreja se torna anêmica espiritualmente. "A oração é o pulmão da vida; através deste, o médico pode dizer qual é a condição do coração. O pecado da ausência da oração é a prova para um cristão comum, e ao mesmo para um ministro, de que a vida de Deus na alma está seriamente enferma e fraca",
          Se a igreja precisa reaver seu distintivo. Ela não é construída sobre a manipulação ou sobre o dinheiro. Ela é construída sobre o poder de Deus. Se a igreja deve ser luz nesta geração perversa, ela deve também se humilhar e ora. Ela deve compreender que a vitória vem como resultado de joelhos dobrados.

- O potencial para a vitória com Cristo
         A oração é a manifestação de um coração humilde. A humildade assegura a graça de Deus e a nossa vitória. O coração humilde não é uma opção; é uma necessidade. É a humildade de coração que traz a vida de oração para perto de Deus. É esta mesma humildade de coração que dá asa à oração. É o que dá acesso a Deus quando outras qualidades fracassam. E a graça de Deus é aplicada
          Jesus sabia que a humilhação precedia a exaltação. a essência da sua vida foi a humildade. Ele dependia do Pai para todas as coisas. Sua humildade foi demonstrada através da sua vida de oração.
          Deus não constrói o seu  reino na força do homem, mas em corações humildes.
         Certa vez um homem de negócio disse: Em meu negócio, eu aprendi a pensar grande. Entretanto, em se tratando do reino de Deus, fui ensinado a pensar pequeno. Deus abençoa o coração que já experimentou o fracasso e a derrota. ele abençoa o coração dolorido. Deus usa pessoas simples, pessoas que já aprenderam que o professor fracasso volve os nossos olhos na direção de Deus. Essa pessoas aprenderam Que é somente quando elas se tornam em nada, que Deus pode se tornar tudo. Como resultado dessa lição, elas são capazes de ver a glória de Deus.
         Esta geração precisa aprender que a vitória vem do Senhor e não de nossas próprias habilidades. Nós temos procurado convencer o mundo com os métodos do mundo. Temos aprendido o jeito de Hollywood e o poder da manipulação psicológica e emocional. Mas temos sido derrotados.
          Precisamos, então, nos matricular na escola de Deus, e aprender seu método. O método de Deus prevê homens e mulheres de oração, simples, humildes e santos. Deus pode fazer mais com um Moisés derrotado no deserto, do que com um trapaceiro e poderoso Moisés no Egito. Deus está procurando homens e mulheres quebrantados que buscam sua face.
         Muitas das vezes nós temos perdido o propósito e essência da oração. oração não é uma hora quando nós chegamos para receber uma bênção de Deus. oração é um encontro com 0 Deus Santo. É chegar atá a sua presença - entrar nos seu companheirismo e participar de um relacionamento com Ele. Esse é o meio pela qual nós conseguimos conhecê-lo. E desse conhecimento pessoal  e íntimo, a vitória de Jesus flui em nós e no mundo à nossa volta.
        A oração é o ferro usado por Deus para nos marcar. Nós não causaremos impacto no mundo até que tenha sido marcados pelos Mestre. A marca de Deus no nosso ser interior trará às igrejas, comunidades, e nações. Precisamos aprender que a vitória vem como resultado de joelhos dobrados.