domingo, 10 de fevereiro de 2013


MATURIDADE CRISTÃ
Educação integral 
          A partir da missão integral da igreja e da antropologia bíblica será necessário considerar o ser humano de modo integral, muito mais abrangente, portanto, que os modelos reducionistas adotados pela abordagem salvacionista e pragmática. Se houver uma preocupação que demonstre que o cristão deverá apenas se ocupar com a pregação do evangelho, com a salvação alma, acaba deixando a formação cristã em direção a maturidade num plano inferior e, consequentemente o ensino como atividade de pequena importância.
          A educação integral elaborada a partir da antropologia bíblica indica a construção de um processo educacional que considere o ser humano como um todo, não apenas em seu aspecto cognitivo (SABER), que poderá apenas privilegiar a memória, mas também será necessário dar-lhe oportunidade para construir o conhecimento refletindo sobre ele (REFLETIR). Além disso, será necessário considerar que o ser
humano convertido ao evangelho é desafiado a desenvolver e utilizar os seus dons, por isso precisará ser capacitado a servir no reino de Deus (FAZER). A vida cristã afeta todo o ser, portanto a vida mental e emocional deverá ser transformada e aperfeiçoada pela efetivação do evangelho em sua vida (SENTIR). Desde o Éden o ser humano foi criado para o relacionamento que também precisará ser atendido no desenvolvimento da vida cristã (CONVIVER / SERVIR) e, desde que o Evangelho deve promover uma radical transformação na vida, será necessário que o cristão seja atendido no aperfeiçoamento de seu caráter (SER). Estes verbos de ação pedagógica – SABER/REFLETIR, FAZER, SENTIR, CONVIVER/SERVIR e SER – muito mais do que tópicos curriculares deverão ser implementados transversalmente em toda educação religiosa na igreja, o que significa que isso ultrapassará o âmbito da sala de aula e eclesiástico.
Princípios teológicos da educação 
          Dentro deste capítulo torna-se necessário alistar princípios teológicos que se constituem em norteadores da visão cristã de educação. Em resumos apresentamos os seguintes princípios:
          1. Fonte da verdade: a fonte da verdade para o cristão está em Deus e em sua Palavra.
A verdade científica produzida pelas pesquisas da Ciência se refere aos fenômenos da natureza, aos fatos da vida. Quando as pesquisas científicas tratam da cultura, dos relacionamentos humanos e mesmo dos fatos propriamente chamados científicos que se referem aos valores da vida, a Palavra de Deus deve ser o critério superior. A Palavra de Deus é nossa fonte de verdade no âmbito de nossa fé mas, também, de nossa vida
prática cotidiana.
          2. Deus 
–  Deus é um ser pessoal, infinito, eterno, soberano, criador, mantenedor, juiz e redentor do Universo e o que nele contém;
– Deus coexiste em três pessoas, numa triunidade – Pai, Filho e Espírito Santo. Cada pessoa da Trindade, dentro da economia divina, tem um papel fundamental no plano global divino para o Universo.
– Deus não é limitado por nada e tudo pode fazer, não tendo criado o mal que surgiu como opção da rebelião de Satanás e do ser humano que, por isso, se afastaram da comunhão e convívio com Deus e de sua vontade.
– Deus é tanto transcendente quanto imanente, exercendo a sua vontade, seja 19 diretiva, seja permissiva, no Universo.
          4.  O mundo foi criado por Deus do nada (creatio ex-nihillo), portanto, a ele pertence e por ele é mantido.
          5. O ser humano:
Sua finalidade: o ser humano foi criado por Deus, à sua semelhança, para viver para a sua glória, adorando-o, servindo-o.
Sua natureza: o ser humano é individual, mas foi criado para a convivência social. Para a Bíblia, o ser humano deve ser considerado integralmente. É dotado de uma parte material (seu corpo) e da parte imaterial e, neste sentido, é espiritual, mas, também, portador de uma natureza psicológica e mental. Portanto, o ser humano é de natureza ética e é, por Deus, considerado responsável.
Seu relacionamento com o mundo criado: o ser humano foi criado por Deus para viver em harmonia e numa relação de estabilidade em nível vertical com Deus, em nível horizontal com o seu próximo, homem ou mulher, e com a natureza que Deus lhe deu para gerir.
          6. A queda e restauração do ser humano 
A queda: com a entrada do pecado no mundo a ordem da criação foi pervertida, os valores da vida invertidos e o ser humano foi afastado da comunhão com Deus deixando de viver para os fins para os quais fora criado. O ser humano e a própria natureza criada foram afetados, necessitando de restauração.
A restauração: com a morte de Jesus na cruz do Calvário e a sua ressurreição, Deus providenciou a restauração integral do ser humano decaído.
–  A salvação: a restauração do ser humano decaído é fruto da graça de Deus e destinada a todos os que crerem em Jesus Cristo, seu Filho, e se arrependerem de sua condição de perdido.
          7. A vida restaurada 
           7.1 – A vida da pessoa restaurada 
 Restauração das finalidades da criação: uma vez restaurada a vida de uma pessoa pela salvação por meio de Jesus Cristo, a sua condição anterior à queda é restaurada e passa a ter como alvo viver para a glória de Deus, desenvolvendo uma vida integral e de incondicional dedicação a Deus e ao seu reino.
Em busca da maturidade: após a conversão, começa na pessoa um processo de desenvolvimento de sua vida em direção à maturidade cristã, a partir do modelo de vida desenvolvido por Jesus.
O evangelho todo para o homem todo e para todo homem: o evangelho deve ser compreendido e aceito em toda a sua extensão e implicações. Deve ser destinado para a restauração do homem todo, isto é, dele em seus mais variados aspectos representado especialmente pelos verbos SER, SENTIR, CONVIVER, FAZER, SABER/REFLETIR.Mas, também, o evangelho tem o seu caráter universal, pois é dirigido a todos os homens, sem distinção.
         7.2 – A igreja como comunidade dos salvos 
Nascemos para o relacionamento: no momento da criação Deus deixou claro que não era boa a solidão para o ser humano (Gn 2.18). Com a queda, iniciou-se um grave distúrbio no relacionamento humano em todos os seus variados sentidos. A restauração providenciada por Deus tem, entre outros motivos, a finalidade de restaurar as relações humanas.
 A igreja: o instrumento que Deus providenciou para o desenvolvimento dos relacionamentos humanos é a igreja, que não é um templo, mas os crentes salvos por Jesus Cristo.
A igreja local: como batistas, entendemos que a igreja local é a célula básica da comunidade cristã, isto é, a igreja local é completa em si mesma, não havendo relação piramidal ou de hierarquia entre as igrejas batistas locais, mas uma relação de fraternidade e de cooperatividade.
A missão da igreja: a missão primordial da igreja é promover uma vida cristã que glorifique a Deus e lhe seja leal. Para isso, a igreja deve, também, desenvolver a sua missão dirigida ao mundo seja por meio da evangelização, do trabalho missionário e do atendimento social tanto em busca do pecador perdido, como sendo sal da terra e luz do mundo. Como a pessoa que é salva precisa partir em busca de maturidade,
nos seus mais variados sentidos – doutrinária, relacional, espiritual etc., a igreja tem, também, como missão dirigida para si mesma, promover o desenvolvimento da vida cristã de modo que o salvo possa crescer na fé e na sua vida pessoal.
            7.3 – O cristão e a comunidade
– Como a missão da igreja é ampla – dirigida a Deus, ao mundo e a si mesma – requer uma diversidade de serviços para que seja cumprida.
– Para que a diversidade da missão da igreja possa ser cumprida, Deus deu aos crentes variados dons de serviço que precisam ser descobertos, aperfeiçoados e desenvolvidos.
          8. O papel do cristão e da igreja no mundo 
          8.1 - O papel do cristão 
– O cristão deve ter Jesus Cristo como seu modelo de vida, sendo sua leal testemunha para que, com seu exemplo de vida e testemunho pessoal, as pessoas tenham a oportunidade de conhecer o evangelho e aceitar Cristo como seu Senhor e Salvador.
–  Além disso, o cristão deve ser útil na sociedade em que vive, seja como profissional, seja como cidadão. Deve exercer a cidadania com responsabilidade e contribuir ativa e positivamente para o desenvolvimento histórico do mundo em vez de ser um mero consumidor da realidade.
          8.2 – O papel da igreja 
– Como instrumento de Deus para ser um solo fértil do desenvolvimento da vida restaurada, a igreja deve promover um ambiente saudável de modo a ser exemplo para o mundo na busca de restauração de vidas em seu sentido mais completo.
– Como comunidade dos salvos, a igreja deve desenvolver influência positiva no tratamento das questões e dilemas humanos.
– Como portadora da Palavra da vida, a igreja deve promover a vida e, por meio de seus membros, desenvolver ações biblicamente fundamentadas que objetivem trazer ao mundo melhores condições de vida.
          9. O final dos tempos: com esperança aguardamos o momento da volta de Cristo, da restauração completa e final de todas as coisas.
Aplicação dos fundamentos teológicos à educação religiosa
        O estudo da Bíblia na busca do preenchimento dos objetivos educacionais essenciais ou básicos torna-se fundamental, uma vez que ela é o nosso livro texto. Um acurado estudo das virtudes cristãs como, por exemplo: as bem-aventuranças (Mt 5.1-12); fruto do espírito (Gl 5.22,23); matéria-prima do pensamento (Fp  4.8) indicará o perfil que aspiramos formar em nossos alunos: humildes de espírito, sensíveis (os que choram), mansos, têm fome e sede de justiça (retidão), misericordiosos, limpos de coração, pacificadores, corajosos a ponto de serem perseguidos por causa da justiça, amorosos, alegres, benignos, bondosos, fiéis, supercontrolado,  amantes da verdade, respeitáveis, justos, possuidores de boa fama, virtuosos, louvadores, etc. Enfim, a educação deverá, não apenas dar  INformação ao aluno sobre a Bíblia, mas oferecer  FORmação de seu caráter e de sua vida na igreja e no mundo, bem como promover uma TRANSformação do que precisa ser redimido pelo evangelho em sua vida total.
 
           Assim, é preciso considerar que:
1. A educação religiosa faz parte da missão integral da igreja e tem como finalidade principal, entre outras, capacitar plenamente o cristão, inclusive para conhecer a sua fé e ter uma vida consagrada e leal a Deus, além de capacitá-lo em seus dons para o serviço no reino de Deus, na igreja e no mundo, por meio do discipulado.
2. A fonte da verdade está em Deus, e o conteúdo que se constitui pesquisa de base para a educação religiosa é a Palavra de Deus.
3. A educação religiosa se realiza num  processo multilogal, isto é, se realiza num processo comunicacional que tem seu ponto de partida – Deus e sua Palavra – e se concretiza relacionalmente entre o professor e o aluno.
4.  A educação religiosa deve considerar o aluno como um sujeito histórico integral e não apenas como mão-de-obra para a igreja. Isto implica considerar o aluno em seus mais variados aspectos e níveis. Assim, na elaboração do sistema educacional a ser desenvolvido na igreja, será preciso começar pela formação e transformação do caráter do aluno  (SER) mas, também, considerar a sua afetividade  (SENTIR), a sua vida relacional dentro e fora da igreja  (CONVIVER), a sua compreensão da fé e da vida (SABER), a sua capacidade para refletir sobre o ensino recebido (REFLETIR). Como o aluno recebe dons de serviço para o reino de Deus, é também preciso considerar sua capacitação continuada (FAZER).
5.  Sendo integral, a educação religiosa deverá considerar a igreja local em sua missão integral, que tem suas características peculiares especialmente por estar inserida num ambiente próprio, tendo em seu entorno um papel fundamental. Neste sentido, a educação religiosa precisa considerar os objetivos educacionais contextuais que vão representar as demandas específicas de cada igreja local. Por isto, a educação religiosa precisa ser contextualizada em seu projeto funcional mas, também, precisa ter como ponto de partida os valores e objetivos cristãos aplicáveis a qualquer época e cultura, pois refletem os valores permanentes do reino de Deus.
B. Fundamentos educacionais

Educação orientada por conteúdos 
ou por valores e objetivos? 

          Para alcançar um dos principais apelos das igrejas locais no atendimento de suas necessidades contextuais não será mais possível adotar um modelo que poderemos
chamar de conteudista, isto é, que privilegia o conteúdo e um currículo nacional único.
Este modelo deixa a igreja local à mercê de uma agenda temática genérica aplicável ao
país como um todo. Deixa também a igreja local dependente do que é decidido fora dela,
distante de seu contexto e necessidades, ainda que se lhe ofereça um currículo aplicável
a diversos anos. Assim, os conteúdos são fornecidos por empréstimo de alguma
organização ou editora, preparados fora do ambiente em que vai ser ministrado. Numa
abordagem assim, não apenas a sequência, mas também o entrelaçamento de disciplinas
e o seu conteúdo desconsideram o contexto de sua aplicação. Desta forma, as
necessidades, os dilemas, as características peculiares do âmbito de aplicação do
conteúdo educacional deixam de ser contemplados. Essa abordagem também não
contempla a sintonia e a integração de todo conjunto do programa educacional de uma
igreja. Desta forma, as diversas faixas etárias seguem, em geral, sua própria matriz
curricular, assim também as diversas organizações educacionais existentes na estrutura
eclesiástica, o programa do culto e a educação religiosa doméstica quando existir. A
consequência disso é que ocorrerá, pelo menos, redundância e falta de coesão de
c

Nenhum comentário:

Postar um comentário