segunda-feira, 18 de junho de 2012


2. A experiência dos crentes anímicos


A vida dos crentes anímicos

Inevitavelmente, a alma varia de uma pessoa para outra. Não pode ser estereotipada. Cada um de nós tem uma individualidade particular, algo único, que se estenderá por toda a eternidade. Não é destruída quando tem lugar a regeneração. De outro modo, na eternidade, a vida seria completamente monótona! Bem, como há variação nas almas dos homens, naturalmente deduz-se que a vida dos cristãos anímicos igualmente variará de pessoa a pessoa. Conseqüentemente, podemos falar aqui só em termos gerais, e meramente apresentaremos os traços mais proeminentes com os quais, basicamente, os filhos de Deus podem comparar suas próprias experiências.
Os cristãos anímicos são excepcionalmente curiosos. Por exemplo, pelo mero desejo de conhecer o que lhes reserva o futuro, tratam de satisfazer sua curiosidade e estudam conscientemente as profecias da Bíblia.
Os cristãos carnais têm tendência a mostrar suas diferenças e superioridades no vestir, no seu modo de falar e em seus atos. Desejam causar impressão nas pessoas para que sejam reconhecidas todas suas obras.
Naturalmente, essa tendência pode já ter existido neles antes da conversão; mas acham muito difícil vencer esta propensão natural, depois. Ao contrário dos cristãos espirituais, que procuram não tanto a explicação como a experiência de ser um com Deus, esses crentes procuram diligentemente uma compreensão na mente. Gostam de discutir e raciocinar. O fracasso em fazer com que seus ideais se transformem em realidade não é o que os preocupa; é sua incapacidade para compreender esta falta de experiência espiritual que os perturba! Assumem que conhecer mentalmente é possuir na experiência. Isto é um grande engano.
Muitos crentes anímicos adotam uma atitude de justiça própria, embora freqüentemente seja difícil perceber. Aferram-se tenazmente às mínimas opiniões. Sem dúvida, é correto manter as doutrinas básicas e essenciais da Bíblia, mas certamente podemos nos permitir conceder certa margem de tolerância em questões menores. Podemos ter a convicção de que o que acreditamos é verdade absoluta; porém, se engolirmos o camelo mas tentarmos peneirar o mosquito, isso absolutamente não agradará a Deus. Deveríamos pôr de lado as diferenças pequenas e prosseguir para o objetivo comum.
Às vezes, a mente dos cristãos anímicos é assaltada pelo espírito maligno; daí seu pensamento se torna confuso, misturado e, às vezes, poluído. Em suas conversas, freqüentemente respondem o que não lhes foi perguntado; sua mente se embota; trocam o tópico da discussão com freqüência, demonstrando o quanto seus pensamentos estão dispersos. Mesmo que orem e leiam a Bíblia, sua mente se perde na lonjura. Embora estes cristãos geralmente atuem de forma que raramente põem em ordem seu pensamento sobre alguma coisa com antecipação, podem dizer aos outros que sempre operam sobre princípios e que consideram cuidadosamente cada ação, inclusive citando alguns incidentes de suas vidas para corroborar suas pretensões. Embora pareça estranho, de vez em quando pensam três e até dez vezes antes de executar um ato. Suas ações são verdadeiramente imprevisíveis.
Os crentes carnais são facilmente mutáveis. Há ocasiões em que estão extremamente entusiasmados e contentes; em outras, abatidos e tristes. Nos momentos de felicidade podem julgar que o mundo é muito pequeno para contê-los, por isso se elevam pelos ares, asas do vento, para os céus; mas nos momentos de tristeza chegam à conclusão de que o mundo já está farto deles e de boa vontade se desembaraçariam de sua pessoa. Há ocasiões de entusiasmo em que seus corações são agitados como se fosse por um fogo ardendo dentro, ou como se tivessem subitamente achado um tesouro. Igualmente há horas de depressão em que seu coração não pode ser estimulado, mas sim cedem a um sentimento de perda que os deixa extremamente deprimidos. Seu gozo e sua pena igualmente dependem principalmente do sentimento. Suas vidas são suscetíveis de mudanças constantes, porque são governados por suas emoções.
A hipersensibilidade é outro traço que geralmente marca os anímicos. É muito difícil viver com eles porque interpretam qualquer movimento que acontece ao seu redor como dirigido a eles.
Quando alguém os trata com menos cuidados, se zangam. Quando suspeitam que os outros mudaram  de atitude a seu respeito, se magoam. Exibem o sentimento da inseparabilidade. Uma leve mudança em tal relação produz em sua alma uma dor inexprimível. E assim estas pessoas se enganam pensando que sofrem pelo Senhor.
Deus conhece as fraquezas dos anímicos quando fazem do seu eu o centro, e se consideram especiais quando conseguem um pequeno progresso no reino espiritual. Deus lhes concede dons especiais e experiências sobrenaturais que lhes possibilitam vivenciar momentos de bem-aventurança inefável, assim como momentos de maior intimidade com o Senhor, como se O tivessem visto e tocado. Mas Ele usa estas graças especiais para que se humilhem e assim possa trazê-los para o Deus de toda graça. Infelizmente, esses crentes não seguem os propósitos de Deus. Em vez de glorificar a Deus e aproximar-se mais dEle, apoderam-se da graça de Deus para sua própria jactância. Agora se consideram mais fortes que outros; porque imaginam, em segredo, que são mais espirituais que aqueles que não tiveram estes encontros. Além disso, os crentes anímicos têm numerosas experiências sentimentais que os induzem a considerar-se mais espirituais, sem se dar conta que não passam de evidências de que são carnais. Quem é espiritual não vive pelo sentimento, mas sim pela fé.
Com freqüência o cristão carnal é perturbado pelas coisas de fora. As pessoas ou os assuntos ou as coisas no mundo que os rodeia facilmente invadem seu homem interior e perturbam a paz de seu espírito. Se colocarem um cristão anímico em um ambiente feliz, se sentirá feliz. Ponha-o em um ambiente penoso e se sentirá de causar pena. Carece de poder criador. Em vez de possuí-lo, adota a compleição peculiar daqueles com os quais está em contato. Os que são anímicos geralmente prosperam na sensação. O Senhor lhes concede o sentido de Sua presença antes de alcançarem a espiritualidade. Tratam esta sensação como um gozo supremo. Quando lhes concede um sentimento assim, imaginam que fazem grandes progressos para o auge da maturidade espiritual. Contudo, o Senhor alternadamente concede e retira esses toques, para poder treiná-los gradualmente a prescindir da sensação e a andar por fé. Eles, porém, não entendem o método do Senhor, e chegam à conclusão de que sua condição espiritual é mais elevada quando sentem a presença do Senhor e mais baixa quando deixam de senti-la.
Os cristãos carnais têm uma marca comum: a verbosidade. Suas palavras deveriam ser poucas, sabem muito bem, mas se vêem impulsionados a discussões intermináveis, com a emoção mais entusiasta. Carecem de controle de si mesmos na fala; uma vez que tenham aberto a boca, a mente parece não ter rédeas para freá-la. As palavras saem como uma avalanche.
Em certo momento, o cristão anímico  percebe que não deveria falar sem parar, mas por alguma razão lhe é impossível inibir-se uma vez que a conversa tenha iniciado. Então há pensamentos de todos os tipos que rapidamente invadem a conversação,  precipitando-se em uma contínua mudança de assuntos infalivelmente cheio de palavras. E «quando as palavras são muitas, não falta a transgressão», diz Provérbios 10:19. Porque o resultado será ou uma perda de controle devido ao muito falar, a perda da paz por causa das discussões, ou até a perda de amor por causa das críticas, porque de modo secreto e hipócrita ajuízam a outros dizendo que são loquazes e consideram que não deveriam sê-lo. Percebam que esta volubilidade não é adequada ao santo
A pessoa carnal não consegue parar de falar frivolamente, e prossegue falando e escutando brincadeiras pobres. Ou pode haver conversações alegres e vivazes, que acredita que não pode perder, custe o que custar. Embora às vezes se aborreça desse falar sem proveito e ímpio, não é durante muito tempo; quando a emoção é de novo estimulada, automaticamente volta ao seu passatempo favorito.
Os cristãos anímicos se permitem também o «desejo dos olhos». O que com freqüência governa suas atitudes é o ponto de vista particular, artístico ou estético, que prevalece momentaneamente no mundo corrente. Não assumiram ainda a atitude de morte quanto aos conceitos artísticos humanos. Em vez disso se orgulham de possuir a visão penetrante do artista. Caso que não sejam admiradores ardentes da arte, podem saltar ao outro extremo e ser totalmente indiferentes à beleza. Esses vão vestir farrapos como demonstração do que sofrem pelo Senhor.
Os intelectuais entre os que vivem segundo a alma tendem a ver-se a si mesmos como «boêmios». Em uma manhã ventosa, ou uma noite de lua, por exemplo, é provável achá-los derramando suas almas em canções sentimentais.
Com freqüência lamentam suas vidas, vertendo muitas lágrimas de auto-compaixão. Esses indivíduos adoram a literatura, estão famintos dela e devoram sua formosura. Também recitam poemas líricos, porque isto lhes dá um sentimento transcendental. Vão ver as montanhas, os lagos e as correntezas, posto que isto os leva para  mais perto da natureza. Ao ver que o curso do mundo declina, começam a pensar em viver uma existência isolada dos demais. Que elevados e que puros são! Não como os outros crentes, que lhes parecem materialistas, vulgares, metidos em mil assuntos. Esses cristãos se consideram muito espirituais, não reconhecendo o incrivelmente anímicos que são na realidade. Uma carnalidade assim representa o maior dos obstáculos para que possam entrar em um reino totalmente espiritual, porque são governados completamente por sua emoção. O que constitui o maior risco para eles é que não conseguem perceber sua posição perigosa e o seu total contentamento próprio.
Os crentes carnais podem abundar em conhecimento chamado espiritual, mas ficam curtos na experiência. Daí que condenam os outros mas não se corrigem a si mesmos. Quando ouvem o ensino de dividir a alma e o espírito, sua mente natural o assimila rapidamente e sem dificuldade. Mas o que acontece então? Ficam a discernir e ordenar os pensamentos e atos anímicos, não de suas vidas, mas sim das dos demais. Sua aquisição de conhecimento meramente os impulsiona a julgar a outros mas não a ajudar-se a si mesmos.
Esta propensão a criticar é uma prática comum entre os anímicos. Têm a capacidade da alma de receber o conhecimento, mas carecem da capacidade espiritual para ser humildes. No relacionamento com as pessoas dão a impressão de serem frios e duros. Seus entendimentos com outros possuem certa rigidez. Ao contrário dos crentes espirituais, seu homem exterior não foi quebrantado e portanto não é fácil aproximar-se deles ou acompanhá-los.
Os cristãos que prosperam na vida da alma são muito orgulhosos. Isso é devido a fazerem do eu o seu centro. Por muito que tratem de dar a glória a Deus e reconhecer todo mérito como a graça de Deus, os crentes carnais têm a mente posta em si mesmos. Tanto se considerarem suas vidas boas ou más, seus pensamentos giram ao redor de si mesmos. Não se perderam ainda em Deus. Ficam muito magoados se forem postos de lado, seja na obra ou no julgamento dos outros. Não podem tolerar os mal-entendidos ou as críticas, porque — ao contrário de seus irmãos mais espirituais — ainda não aprenderam a aceitar alegremente as disposições de Deus, quer estas resultem em elevação ou em rejeição.
Resistem em parecerem inferiores, ou serem desprezados. Mesmo depois de terem recebido a graça de conhecer o estado real de sua vida natural como muito corrupta, e até depois de haver-se humilhado diante de Deus — considerando que suas vidas são as piores do mundo—, essas pessoas, apesar disso e ironicamente, terminam considerando-se mais humildes que os outros. Se envaidecem de sua humildade! O orgulho está encravado neles até a medula dos ossos.

As obras dos crentes anímicos

Os anímicos não cedem a ninguém em questão de obras. São os mais ativos, zelosos e dispostos. Mas não trabalham porque tenham recebido a ordem de Deus; trabalham, em troca, porque têm o zelo e a capacidade de fazê-lo. Acreditam que fazer a obra de Deus é muito bom, sem perceber que só o fazer a obra que Deus ordenou é verdadeiramente elogioso. Estes indivíduos nem têm o ânimo para confiar nem o tempo para esperar. Nunca procuram sinceramente fazer a vontade de Deus. Ao contrário, operam conforme suas idéias, com a mente cheia de planos e esquemas. Devido a que trabalham com diligência, estes cristãos caem no engano de ver-se como mais adiantados que outros irmãos deles que vão mais pausadamente. Quem pode negar, não obstante, que com a graça de Deus estes últimos podem ser facilmente mais espirituais que os primeiros?
O trabalho dos crentes anímicos depende principalmente dos sentimentos. Ficam a trabalhar só quando os emprega; e se estes sentimentos apropriados cessam enquanto estão trabalhando, deixam de fazê-lo imediatamente. Podem dar testemunho a outros durante horas sem cessar e sem cansaço se experimentam em seus corações um desejo ardente e um sentimento de contentamento inexprimível. Mas se tiverem que suportar um desprezo ou uma insipidez logo que vão falar, ou não falarão em absoluto, inclusive frente à maior necessidade, nem mesmo diante de uma situação no leito de morte. Com calor estimulante podem correr milhares de milhas; sem ele não vão dar um passo. Não podem prescindir de seus sentimentos até o ponto de falar com o estômago vazio a uma mulher samaritana ou com os olhos sonolentos a um Nicodemos.
Os cristãos carnais trabalham com gosto; contudo, entre os muitos trabalhos são incapazes de manter a calma de seu espírito. Não podem cumprir as ordens de Deus quietamente como seus irmãos espirituais. O muito trabalho os transtorna. A confusão exterior lhes causa uma inquietação interna. Seus corações são governados por questões externas. «As muitas coisas os angustiam» (Lc. 10:40). Isso é característico da obra do cristão anímico. Os cristãos carnais se desanimam facilmente por causa de MEUS esforços. Falta-lhes a tranqüila confiança que se apóia em Deus para fazer a obra. Estando regidos por suas sensações internas e o ambiente externo, não podem apreciar a «lei da fé». Diante do sentimento de que falharam, por mais que não seja verdade, estão dispostos a renunciar. Se deprimem quando o ambiente se nubla e fica desanimado. Não entraram ainda no repouso de Deus.
Como lhes falta poder ver ao longe, estes crentes que confiam na alma se desanimam facilmente. Só podem ver o que têm imediatamente diante de si. As vitórias momentâneas injetam-lhes gozo; as derrotas temporárias os entristecem. Não descobriram a maneira de ver o fim da obra através dos olhos da fé. Desejam um êxito imediato como consolo e distração para seu coração; a falha em consegui-lo os faz incapazes de seguir adiante, imperturbáveis, e confiar em Deus em meio às trevas circundantes.
Os crentes anímicos são peritos em descobrir faltas, embora eles não sejam por necessidade fortes. São prontos a criticar e lentos em perdoar. Quando investigam e corrigem as deficiências de outros exsudam uma espécie de auto-suficiência e uma atitude de superioridade. Sua maneira de ajudar às pessoas gente é correta e legal, mas sua motivação nem sempre é reta.
A tendência a apressar-se marca com freqüência aos que partem ao ritmo de sua alma. Não esperam a Deus. Tudo o que fazem é precipitado, impetuoso, com pressa. Operam, mais por impulso que por princípios. Inclusive na obra de Deus, estes  cristãos são impulsionados por seu zelo e paixão, até o ponto que não podem esperar que Deus deixe clara sua vontade e seu caminho.
A mente do carnal está ocupada completamente em seus empreendimentos. Consideram e planejam, fazem esquemas e predizem. Algumas vezes pressagiam um futuro esplêndido, por isso estão fora de si de gozo; outras vezes captam só olhadas de trevas e imediatamente são presa de um estado de miséria inexprimível.
Dessa forma, estão pensando em seu Senhor? Não, pensam mais em seus trabalhos. Para eles, o fazer a obra do Senhor é de importância suprema, mas com freqüência se esquecem de que o Senhor é o que dá a obra. A obra do Senhor ocupa o centro, mas o Senhor da obra retrocede ao fundo.
As pessoas anímicas carecem de penetração espiritual, por isso são guiadas por pensamentos súbitos que, como brilhos, cruzam velozes sua mente; suas palavras e obras, portanto, são com freqüência inapropriadas. Falam, em primeiro lugar, não porque se sentem chamados a fazê-lo, mas sim simplesmente porque supõem que é necessário fazê-lo. E, então, podem fazer recriminações, quando deveriam mostrar simpatia ou consolação. Tudo isto é devido a sua deficiência em discernimento espiritual. Confiam muito em seus pensamentos limitados e limitantes. E até depois que se viu que suas palavras são improcedentes, negam-se a aceitar o veredicto dos feitos. Devido a que possuem oceanos de planos e montanhas de opiniões é muito penoso trabalhar com os cristãos carnais. Tudo o que lhes parece bom deve ser aceito como bom pelos outros. A condição essencial para operar com eles é estar perfeitamente de acordo com suas idéias ou interpretações. Não podem tolerar qualquer opinião diferente que alguém possa manifestar. Embora o crente anímico saiba que não deveria aferrar-se a opiniões, assegura-se de que sempre que alguma opinião tenha que ser descartada, que não seja a sua! O sectarismo — admite — não é espiritual; mas nunca é sua seita particular a que deve desaparecer. Tudo o que ele não aceita, o considera como uma heresia. (Não é de se estranhar que outros cristãos — anímicos como ele — lhe paguem com a mesma moeda, negando a autenticidade de sua fé.) Sente grande apego a sua obra. Ama a seu pequeno círculo, digamos íntimo, e é por isso incapaz de trabalhar conjuntamente com outros filhos de Deus. E insiste em denominar somente filhos de Deus aos que são de sua própria filiação. Quando chegamos ao sermão, o anímico não pode depender inteiramente em Deus. Ou põe sua confiança em algumas histórias ilustrativas boas, ou em palavras engenhosas ou em sua personalidade. Há alguns pregadores notáveis que possivelmente dependam completamente de si mesmos: como eu disse, todos tem que escutar! Podem depender de Deus, mas também, ao mesmo tempo, dependem deles mesmos. Daí sua cuidadosa preparação. Passam mais tempo analisando e recolhendo os materiais, e pensando com esforço, que orando e procurando a mentalidade de Deus e esperando o poder de cima. Memorizam suas mensagens e logo as pregam literalmente. Seus pensamentos ocupam um lugar primário nesta obra. Com um enfoque assim, estes crentes, naturalmente, vão pôr mais confiança na mensagem que no Senhor. Em vez de confiar no Espírito Santo para que lhes revele a necessidade do homem, e a provisão de Deus para seus ouvintes, dependem de modo exclusivo das palavras que pronunciam para comover os corações dos homens. Aquilo em que esses crentes carnais fazem insistência e no que confiam é só em suas palavras. Possivelmente suas mensagens transmitam a verdade, mas sem ser avivada pelo Espírito Santo, até a verdade é uma vantagem pequena. Haverá muito pouco fruto espiritual se alguém se apoiar nas palavras mais que no Espírito Santo. Por muito que essas mensagens sejam aclamadas, só fazem impacto na mente dos ouvintes, não em seus corações.
Os crentes anímicos desfrutam empregando palavras altissonantes e frases destiladas. Pelo menos a esse respeito estão tratando de imitar ao que é genuinamente espiritual, que, tendo recebido muita experiência, é capaz de ensinar com precisão, superior a de todos seus predecessores. O carnal considera isto altamente atrativo, por isso se deleita em empregar maravilhosa imaginação na mensagem. Sempre que lhe ocorre uma idéia que acredite superior — seja andando, conversando, comendo ou dormindo — a anota para uso futuro. Nunca se pergunta se essa idéia foi revelada pelo Espírito Santo ou é meramente um pensamento que irrompeu em sua mente.
Alguns cristãos que são verdadeiramente anímicos acham um deleite especial em ajudar a outros. Isto não significa que não tenham conhecimento; na realidade têm muito. Ao descobrir algum elemento impróprio ou quando lhes falam de alguma dificuldade, imediatamente adotam a atitude do crente veterano, ávidos de ajudar com a visão limitada que têm. Esbanjam ensinos escriturais e prodigalizam em abundância as experiências de santos. Inclinam-se a dizer tudo o que sabem, quer dizer, mais do que sabem, chegando com isso ao reino da hipótese. Estes crentes «veteranos» exibem uma atrás da outra, todas as verdades que se armazenaram em suas mentes, sem se inquirir se aqueles a quem falam têm realmente a necessidade delas ou podem absorver tanto ensino em uma sessão. São como Ezequias, que abriu as portas do tesouraria e exibiu todos seus tesouros.
Algumas vezes sem nenhum estímulo externo,  mas porque simplesmente foram movidos por uma emoção interna, derramam ensinos espirituais sobre outros, muitos dos quais meramente teorias. Desejam, além disso, desdobrar seu conhecimento.
Entretanto, nem todas as peculiaridades antes mencionadas existem em cada um dos filhos de Deus de caráter anímico. Varia com as diferentes personalidades. Alguns ficam quietos, sem dizer nem uma sílaba. Até em meio de uma necessidade desesperam-se, e quando deveriam falar, mantêm a boca fechada. Não alcançaram ainda a libertação do acanhamento e do temor natural. Podem estar sentados junto a aqueles crentes faladores e criticá-los no coração, mas seu silêncio não os faz menos anímicos.
Devido a que não estão enraizados em Deus e, portanto, não aprenderam a esconder-se nele, as pessoas carnais desejam ser vistas. Procuram posições proeminentes na obra espiritual. Se assistem a reuniões esperam serem ouvidos, embora eles não escutem a outros. Experimentam um gozo inexprimível quando são reconhecidos, respeitados e recebem homenagem.
O anímico ama usar fraseologia espiritual. Aprendem de memória um copioso vocabulário espiritual que empregam invariavelmente em qualquer oportunidade conveniente. Usam-no tanto ao pregar como ao orar, mas não de coração.
Os que vivem no reino da alma possuem uma voraz ambição. Seu desejo ocupa com freqüência o primeiro lugar. Se vangloriam da obra do Senhor. Aspiram a ser operários poderosos, usados grandemente pelo Senhor. Por que? Para que possam obter um lugar, conseguir um pouco de glória. Gostam de comparar-se a si mesmos com outros: provavelmente nem tanto com aqueles a quem eles não conhecem como com aqueles com quem colaboram. Este disputar e contender pode ser muito intenso. Desprezam os que espiritualmente buscam a Deus, considerando-os como ociosos; rebaixam os que são espiritualmente grandes, visualizando-os como quase seus iguais. Sua firmeza se aplica a ser grandes, a estar na cabeça. Esperam a prosperidade de sua obra, com o objetivo de que se fale deles. Esses desejos, naturalmente, estão profundamente escondidos em seus corações e podem ser apenas perceptíveis aos outros. Embora esses desejos possam estar muito bem escondidos e mesclados com motivos mais puros, a presença desses desejos inferiores é um fato irrefutável.
Os crentes anímicos são muito satisfeitos de si mesmos. Se o Senhor os usar para salvar uma alma,  se enchem de júbilo e se consideram espiritualmente vitoriosos.  Se alcançam algum triunfo, enchem-se de  orgulho. Um pouco de conhecimento, um pouco de experiência, um pequeno êxito facilmente os faz sentir como se houvessem conseguido muito. Este traço comum entre os cristãos anímicos pode ser comparado ao copo pequeno que se enche facilmente. Não enxergam o vasto e profundo oceano de água que fica de fora. Conquanto seu balde esteja transbordando já estão satisfeitos. Não se perderam em Deus, pois senão encarariam todas estas coisas como sem valor, porém seus olhos estão sempre enfocados em seu eu insignificante e por isso se sentem muito afetados por qualquer simples e pequeno ganho ou perda.
Essa capacidade limitada é a razão pela qual Deus não pode usá-los mais. Se essa jactância tiver como resultado ganhar só dez almas para o Senhor, o que aconteceria se tivessem ganhado mil?
Depois de terem experimentado algum êxito na pregação, uma idéia permanece nesses crentes anímicos: foram verdadeiramente magníficos! Insistir em sua superioridade lhes rende grande gozo. Que diferentes são dos outros, inclusive «maiores que o maior dos apóstolos!» Pois bem, algumas vezes se sentem magoados em seus corações se os outros não os estimam conforme acreditam merecer. Lamentam a cegueira dos que não reconhecem que um profeta pode proceder de Nazaré e que está ali presente. Às vezes, quando esses crentes anímicos pensam que suas mensagens contêm revelações que ninguém tenha descoberto antes, sentem apreensão de que sua audiência possa não apreciar a maravilha das mesmas. Depois de cada êxito vão passar horas, senão dias, felicitando-se a si mesmos. Debaixo desse engano, não é de se estranhar que frequentemente se convençam de que a igreja de Deus deveria perceber que grande evangelistas ou pregadores de avivamentos ou escritores eles são. Que desgosto sentem se as pessoas não percebem isso!
Os crentes carnais carecem de princípios fixos. Suas palavras e feitos não seguem máximas determinadas. Vivem em conformidade com sua emoção e sua mente. Operam conforme sentem ou pensam, algumas vezes de modo diferente e até oposto à sua pauta usual. Essa mudança pode ser vista de modo muito vívido depois da pregação. Mudam de acordo com o que pregaram recentemente. Se, por exemplo, falaram sobre paciência, durante os dois dias seguintes se mostram extremamente pacientes. Se exortaram a louvar a Deus, começam a louvar sem cessar. No entanto, isso não vai durar. Como obram segundo o que sentem, suas próprias palavras vão ativar suas emoções e assim se comportarão de uma maneira determinada. Mas, uma vez passada a emoção, tudo termina e voltam a ser como antes.
Outro ponto especial com referência aos cristãos anímicos é que parecem ser superdotados. Os crentes envolvidos no pecado não mostram tantos talentos; nem tampouco os que são espirituais. Aparentemente, Deus concede dons abundantes aos anímicos a fim de que estes possam voluntariamente entregar seus dons à morte, e, uma vez renovados e glorificados na ressurreição, recebê-los de volta. Contudo, esses santos de Deus resistem a consignar estes dons à morte, e em vez disso os usam ao máximo. As habilidades concedidas por Deus deveriam ser usadas por Deus e para Sua glória, mas os crentes carnais com freqüência as consideram como suas próprias. Enquanto sirvam a Deus nesse estado mental vão continuar usando-as em conformidade com suas idéias, sem permitir que o Espírito Santo os guie. E quando têm êxito, atribuem a si próprios toda a glória. Naturalmente, uma autoglorificação e autoadmiração assim, são muito veladas; entretanto, por muito que tentem parecer humildes e oferecer a glória a Deus, não podem evitar de estarem centrados em si mesmos. A glória pode ser de Deus, sim; mas é para Deus e para mim!
Pelo fato dos carnais terem muitos talentos — ativos no pensamento e ricos na emoção —, facilmente estimulam o interesse das pessoas e comovem seus corações. Em conseqüência, os cristãos anímicos possuem personalidades magnéticas. Podem rapidamente ganhar a aclamação do povo comum. Contudo, persiste o fato de que realmente carecem de poder espiritual. Não têm o fluxo vivo do poder do Espírito Santo. O que têm é o seu próprio. As pessoas notam que possuem algo, mas esse algo  não dá vitalidade espiritual aos outros. Os vêem muito ricos; mas na realidade são muito pobres.
Concluindo: um crente pode ter alguma ou todas as experiências já mencionadas, antes de ser libertado inteiramente do jugo do pecado. A Bíblia e a experiência real juntas dão prova do fato de que muitos crentes são controlados simultaneamente, por um lado, por seu corpo para incorrer em pecado, e influenciados, por outro, por sua alma para viver conforme si mesmos. Na Bíblia os dois são rotulados como «da carne».
Algumas vezes, em suas vidas, os cristãos seguem o pecado do corpo e outras a vontade própria da alma. Pois bem, se um crente pode encontrar muitos dos deleites da alma permitindo-se não menor indulgência nos desejos do corpo, não é igualmente possível ter muitas sensações da alma associadas com muitas experiências do espírito? (Naturalmente, não podemos ignorar que alguns concluem uma fase antes de entrar nas outras fases.) A experiência de um cristão, por conseguinte, é algo bem mais complexo. É imperativo que determinemos por nós mesmos se fomos libertos do baixo e ignóbil. O fato de termos experiências espirituais não nos faz espirituais. Só depois de libertos do pecado e do eu, podemos ser considerados espirituais.

quarta-feira, 13 de junho de 2012


COMO VENCER TUDO ISTO?



Texto bíblico: Romanos 8.31-39 Texto áureo: Romanos 8.37 Olhando ao redor, talvez muitos de nós concluamos que a vida está muito difícil. E difícil para todo mundo. Os que são otimistas, não por conta de qualquer sentimento sem base, mas por conta da esperança cristã que foi plantada em seus corações, hão de olhar para as dificuldades e ver nelas oportunidades de crescimento. Isso é bom. Enquanto houver esperança, haverá sonhos; e enquanto houver sonhos, haverá chance de mudar o real. Muitos veem nos evangélicos a solução para o país. Mas, para que os evangélicos ocupem o seu lugar no Brasil e no mundo, é preciso que Jesus ocupe o seu lugar na vida e no coração dos evangélicos. Queremos conquistar o mundo, mas ainda não fomos civilizados. Queremos governar, mas ainda não nos submetemos totalmente ao senhorio de Cristo. E enquanto isto não ocorrer, a igreja continuará apequenada; sofrendo do mal de estar perto e não conseguir chegar. O que fazer? Como vencer tudo isto? Vamos procurar mostrar alguns desafios que se apresentam para a igreja de Cristo no alvorecer deste novo século. Mais que isto: de que forma a família pode representar e refletir estes anseios mais caros do evangelho e que precisam ser vividos para serem passados como herança às gerações vindouras? Esta é a pergunta central que vamos procurar responder neste estudo. O desafio da compreensão de seu lugar no mundo Que papel deve desempenhar uma família cristã hoje? De que forma esta família pode ser significativa para a sociedade em que vive? O que será que os outros, os não cristãos, esperam das famílias cristãs? Estas são perguntas de grande relevo, visto que nos levam a refletir sobre a participação que devemos ter como famílias cristãs em nossos dias. E o que Deus espera de nós? Vivemos o eterno conflito do "estar no mundo sem ser do mundo" (Jo 15.19). Isto nos aponta dois aspectos básicos que precisam ser experienciados com sabedoria: 1º) Somos família como qualquer outra. Ou seja, somos uma família normal. Temos direito de nos angustiar, quando alguma coisa nos aflige; chorar, quando estamos entristecidos; sorrir, quando há alegria; divertir-nos, quando há motivo para isso. Vivemos a experiência da vida dentro dos parâmetros normais da humanidade que em nós ainda fala alto, e por isso amamos, cantamos, gritamos, corremos, saltamos, nos cansamos, comemos, bebemos e dormimos. Somos o que somos nos louvores ou nos folguedos; nas ambições ou nos fracassos; nas conquistas ou nas esperas. Enfrentamos as filas do INSS; o aperto do salário pequeno; o desgaste das filas de banco; a dor da perda de um ente querido; as derrotas do Fluminense; o cansaço de um dia fastiento; as inseguranças de um filho; as doenças de um familiar e muito mais. Ser família, para nós, iclui todos os componentes naturais de uma família moderna que precisa acordar cedo para o trabalho ou a escola, que precisa ser responsável e ter o seu ganha-pão, que precisa se imbuir de esperança, coragem e forças para enfrentar todas as vicissitudes da vida. Nada foge à regra da existência comum debaixo desse sol que continua sempre o mesmo: a brilhar e a aquentar maus e bons desde a fundação dos tempos (Ec 1.9; Mt 5.45). 2º) Somos família de uma forma diferente. Quer dizer, não dá para anunciar que somos salvos, que temos a Cristo como nosso Salvador pessoal, e não mostrar para o mundo, e para a vizinhança de forma especial, a nova vida em Cristo. É preciso que nossa vivência familiar na rua em que moramos e no bairro de nossa residência demonstre alguma coisa diferente, que é exatamente esta presença restauradora de Cristo em nós. Seremos famílias normais, mas famílias que se pautam por um diferencial: o reinado de Cristo sobre nossas vidas; famílias em que há lutas e dificuldades; mas há força de vontade, há comunhão, há harmonia, há desejo de superação, há expectativas, tudo isso a partir da atuação vitoriosa de Deus em nossas vidas. As pessoas lá fora, quando têm problemas, enchem a cara de cachaça, se drogam, se prostituem e tornam suas vidas mais caóticas ainda. Nós, pela presença do Espírito de Deus, enfrentamos as crises familiares com joelhos no chão, em oração; com dependência de Deus, em submissão à sua vontade. Temos este grande desafio de compreender o nosso papel como famílias cristãs, vivermos o evangelho condignamente e ser sal e luz para aqueles que precisam do nosso testemunho para se encontrar com Deus. O desafio da manutenção de valores Outro desafio para a família cristã, que nos levará a ser mais do que vencedores sobre os problemas deste mundo (Rm 8.31-39), é a manutenção dos valores cristãos. Também, neste ponto, poderemos ser tidos como "esquisitões" pelos lá de fora; tachados de "extraterrestres espirituais" ou alcunhas semelhantes, mas disso não poderemos escapar e isto não devemos temer. É de bom tom que a igreja, mesmo em pleno Século XXI, continue a condenar o uso de bebidas alcoólicas (a bebida mata mais que as outras drogas e a sociedade finge não ver!); o cigarro e derivados; qualquer espécie de droga; as jogatinas, sejam elas legalizadas (Baú da Felicidade, raspadinhas, loto, loteria, loteca, lotomania etc.) sejam clandestinas (nem tanto: jogo do bicho, bingos, cassinos, máquinas caça-níqueis); os bailes, as danças e similares. E todo comportamento inadequado para o cristão, que menospreze sua fé e embote a atuação de seu Deus. Permanecer nos valores do amor, da graça, da misericórdia, da piedade, da justiça e de tantas outras virtudes como exemplificadas no "fruto do Espírito" (Gl 5.22,23), deve ser o objetivo da família cristã que quer vencer este mundo presente. O desafio da busca de relacionamentos conforme a vontade de Deus A família cristã também vence os problemas do mundo moderno com um padrão de relacionamento, seja conjugal (marido e mulher), filial (pais e filhos), fraternal (irmãos em Cristo) e vivencial (vizinhança e colegas diversos) vivendo-o em moldes superiores aos demonstrados por aqueles que não têm o temor de Deus (Mt 5.20). Como conseguir isto? Por intermédio da experiência de fé e dependência de Deus. Para tanto, precisa-se cultivar o sadio hábito da comunhão na Palavra, diariamente, no lar. Ler a Bíblia e orar todos os dias com as crianças e todos da casa constrói valores e molda o caráter de uma forma que só podemos aquilatar quando nos tornamos adultos. O relacionamento de um casal crente há de ser na base do amor, da espiritualidade, da compreensão, do diálogo, do carinho, do respeito mútuo e da aceitação da humanidade de um e de outro. Quando um casal procura ajustar-se, entendendo-se e fortalecendo-se mutuamente, fica mais fácil enfrentar as lutas da vida. Da mesma forma, o relacionamento com os filhos há de ser respeitoso, ordeiro, amoroso, altruísta e pleno de espiritualidade. A harmonia do lar precisa ser sentida em cada instante, desde os momentos mais difíceis até aqueles em que se desfrute de abundância. Devem, também, os membros da família cristã procurar manter-se firmes na busca de dar testemunho vivo da presença de Cristo em suas vidas. A boa convivência com os outros; o relacionamento amistoso com a vizinhança, respeitando-se as regras do bom viver; tudo isto contribuirá para a conquista de um mundo melhor. Aplicações para a vida Vamos focar esta afirmação de Jesus para encerrar o estudo, aplicando-o em nosso viver: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5.16). 1ª) A família precisa resplandecer a luz de Cristo - Cada crente precisa entender que não tem luz própria, é planeta, não estrela, portanto, precisa refletir a luz de Cristo. Só ela nos garante qualidade de vida. 2ª) A família precisa mostrar qualidade dentro e fora do lar - O resplandecimento da família cristã é para dentro e para fora. É diante dos homens, que nos observam como somos em casa e como somos fora de casa. 3ª) A família precisa evidenciar obras espirituais - Se não tivermos boas obras para mostrar, por onde andará a nossa fé? Como disse Tiago, "a fé sem obras é morta" (Tg 2.17). 4ª) A família precisa entender que tudo o que fizer será para a glória do Pai - A humildade é uma das mais nobres virtudes cristãs. A família precisa desenvolvê-la e saber que tudo o que fizer na demonstração da luz de Cristo será para a glória de Deus e não para a vanglória humana. LEITURAS DIÁRIAS segunda - João 15.12-19 terça - Romanos 8.31-39 quarta - 1Coríntios 2.1-16 quinta - Gálatas 5.16-26 sexta - Mateus 5.13-16 sábado - Tiago 2.14-26 domingo - Mateus 5.38-48

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terça-feira, 12 de junho de 2012


As armas eficazes contra a dor de cabeça

Cientistas definem os remédios que realmente previnem e tratam a doença e indicam métodos capazes de aliviar os sintomas

Monique Oliveira
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Olhe ao seu redor. A cada dez pessoas que você vê, sete sentem dores de cabeça eventuais ou frequentes, segundo a Organização Mundial da Saúde. São vários os sintomas. Dor latejante em um dos lados ou dos dois do crânio, sensação de pressão, de pontadas. Algumas estão associadas ao esforço físico, à tensão e até à relação sexual. A maioria das pessoas tenta resolver o desconforto com um analgésico. Se o remédio não fizer o efeito esperado, o comportamento mais comum é engolir mais um comprimido e esperar pelo alívio, que nem sempre chega porque o problema já se tornou crônico. Dentre os indivíduos acometidos regularmente pelas cefaleias – o nome científico das dores de cabeça –, pelo menos um deles sofre de uma das formas mais intensas e recorrentes do problema, a chamada enxaqueca.

Felizmente, a medicina está avançando na compreensão das causas e no desenvolvimento de terapias mais eficientes para controlar o mal-estar. “Acreditem: mais de 50% das dores de cabeça e crises de enxaqueca podem ser evitadas com bons tratamentos preventivos”, disse à ISTOÉ o neurologista americano Stephen Silberstein, membro da respeitada Academia Americana de Neurologia (AAN), formada por 25 mil especialistas. Ele é autor, com outros cinco colegas, de um guia recém-lançado pela instituição que indica, entre todos os medicamentos disponíveis, os que realmente funcionam para evitar as temidas crises de enxaqueca, que pode ser hereditária. A equipe verificou a metodologia e os resultados dos principais estudos publicados em revistas científicas na última década. As diretrizes da AAN são referência mundial e devem ser seguidas para assegurar o adequado enfrentamento da mais aguda dor de cabeça. 

Os tratamentos mais eficientes para evitar essas crises, conforme os neurologistas americanos, devem ser selecionados entre três classes de medicamentos com ação no cérebro. Uma delas é composta pelos neuromoduladores, remédios que atuam na regulação de compostos liberados pelo nervo trigêmeo (cujas raízes estão na parte posterior da cabeça) e que são responsáveis pela deflagração de reações inflamatórias nos vasos sanguíneos da dura mater, uma das membranas que recobrem o sistema nervoso. Esse processo é a fagulha inicial da perturbação que pode durar horas ou até mesmo dias e se propaga em ondas por todo o cérebro. Outra categoria competente são os betabloqueadores, drogas apropriadas para tratar problemas cardiovasculares. Em dose menor, eles diminuem a pressão intracraniana que se manifesta em alguns tipos de dor de cabeça. Por fim, os neurologistas americanos destacam a eficácia dos anti-inflamatórios, que impedem a dilatação dos vasos sanguíneos.
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A AAN referendou ainda os efeitos preventivos do remédio fitoterápico Petasite, feito com uma planta nativa de regiões montanhosas da Europa com ação anti-inflamatória similar à cortisona. O produto não é usualmente comercializado nas farmácias do País. 

As recomendações do novo consenso americano estão sendo adotadas no Brasil, que tem dado contribuições relevantes para aprimorar, por exemplo, o uso dos neuromoduladores. “Um dos maiores problemas são os efeitos colaterais sentidos por alguns pacientes, como a dificuldade de cognição, o que leva muita gente a desistir do tratamento”, diz Abouch Krymchantowski, do Rio de Janeiro, autor de um estudo que testou o uso do remédio ministrado em menor dose em parceria com outro composto, o divalproato de sódio. “De 38 pacientes, 27 reportaram maior tolerância e se mantiveram no tratamento”, comemora o especialista. 

Nos episódios em que a crise sobrepuja esses esquemas de prevenção e se instala, as recomendações mais atuais da neurologia indicam que os melhores resultados são obtidos com compostos que simulam o neurotransmissor serotonina, uma substância que faz a comunicação entre as células nervosas do cérebro e está associada ao controle do humor, do ciclo vigília-sono e tem efeito analgésico comprovado. Esses remédios pertencem a uma família denominada triptanos. “Agem especificamente na fase aguda da enxaqueca”, explica o neurologista Milberto Scaff, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor clínico do Hospital Sírio-Libanês. Se nada disso for suficiente para aliviar o sintoma, o guia da AAN manda reforçar o arsenal. “Hoje, a combinação de triptanos com anti-inflamatórios é o tratamento com mais sucesso na hora da crise”, diz o neurologista Abouch Krymchantowski, um dos mais prestigiados especialistas do País no tratamento das variadas formas de cefaleias. Nesta área, há um novo medicamento que une esses dois gêneros de substâncias em uso nos Estados Unidos e que está em fase de aprovação no Brasil.
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A esperança de encontrar armas ainda mais potentes e com menores efeitos colaterais tem levado os pesquisadores a explorar o envolvimento de cada parte do cérebro nas dores de cabeça. Um dos últimos achados é a participação do tálamo, área que regula a percepção do espaço, a consciência, o sono e os estados de alerta, que são algumas das habilidades seriamente comprometidas durante as crises. A estrutura também retransmite os impulsos sensoriais que recebe para o córtex, a camada mais externa do cérebro e na qual várias informações são processadas. Os cientistas acreditam que uma disfunção nesse mecanismo de repasse sirva como gatilho para crises. “O tálamo atua como uma espécie de estação de redistribuição dos impulsos, repassando-os, por exemplo, aos receptores de dor situados em várias partes no cérebro”, explicou à ISTOÉ Allan Purdy, chefe do Centro de Estudos em Neurologia do Hospital Elizabeth II, no Canadá. “Essa mediação pode interferir na intensidade das dores, tornando-as piores”, diz ele.

A importância desses estudos sobre o papel do tálamo é grande. Eles estão contribuindo, por exemplo, para explicar a fotofobia (sensibilidade ou aversão à luz), um sintoma comum da enxaqueca. Os especialistas suspeitam que existe uma forte relação entre o tálamo e o nervo óptico com papel crucial na manifestação e na intensidade desse sintoma, como evidenciou um estudo da Universidade de Harvard. “Constatamos que pacientes cegos por doenças que lesionam o nervo óptico, como o glaucoma, sentem menos enxaqueca do que aqueles que mantiveram essa estrutura preservada”, disse à ISTOÉ Rami Burstein, professor da Escola de Medicina de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos. 

A partir dessa observação, os especialistas perceberam que a luz ativa o nervo óptico, que, por sua vez, excita o tálamo, interferindo na maneira como essa estrutura redistribui os estímulos no cérebro. Agora, os cientistas estão buscando novas terapias baseadas no bloqueio das moléculas que transmitem esses impulsos através do nervo óptico. “É um caminho promissor para prevenir a ocorrência da fotofobia durante a enxaqueca e, como consequência, a dor”, diz Burstein. Outra linha de pesquisa importante para a investigação de novas terapias está no genoma humano. O entendimento de variações genéticas que podem predispor uma pessoa a dores talvez forneça a explicação, por exemplo, dos motivos que levam um simples gole de vinho a deflagrar uma dor de cabeça insuportável em alguém e deixar outra pessoa incólume.
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O mapeamento dos percursos cerebrais dessas dores também está conduzindo os cientistas a novas abordagens. Um exemplo é o trabalho de um grupo de pesquisadores das Universidades Michigan e Harvard, nos Estados Unidos. Eles desenvolveram uma tecnologia de estimulação cerebral que pode diminuir a recorrência das crises de enxaqueca em 37%. A técnica consiste em promover uma neuroestimulação por meio da descarga de pulsos elétricos de baixa voltagem no cérebro, ministrados através de eletrodos posicionados sobre a cabeça. “Esses estímulos podem atingir até mesmo regiões mais profundas do cérebro” disse à ISTOÉ Marom Bikson, professor de engenharia biomédica na Escola de Engenharia Groove, em Nova York, que tomou parte no desenvolvimento da técnica. Os cientistas afirmam que a descarga elétrica modifica a química cerebral de forma positiva para afastar dores de cabeça. “Com a estimulação, houve liberação imediata de endorfinas, neutrotransmissor que é um dos principais mecanismos analgésicos do sistema nervoso e está relacionado com as crises de enxaqueca”, diz o brasileiro Alexandre da Silva, pesquisador do método e professor associado na Universidade de Michigan. A intenção das equipes de Harvard e Michigan é que o aparelho seja portátil (ele teria o tamanho de uma carta de baralho) e possa ser usado pelo paciente em qualquer lugar de maneira profilática. “Antes que isso aconteça, porém, será necessário testar seus efeitos em estudos clínicos com grandes populações”, explica Silva. 

Outro recurso para o controle do sintoma na sua forma mais severa foi testado em um estudo feito pelo Centro de Dor de Cabeça da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Trata-se da aplicação de doses altas de ácido acetilsalicílico, a aspirina, na veia, no momento da crise. Segundo os pesquisadores, o método se revelou tão bom no combate à dor quanto os triptanos, com a vantagem de ter menos efeitos colaterais. No trabalho, os pacientes registraram três pontos a menos do que antes ao responder a perguntas de uma escala de classificação da dor. Essa variação pode diferenciar uma crise severa de uma moderada. “Isso mostra que, hoje, há tratamentos mais baratos e menos tóxicos à disposição de médicos e pacientes”, disse Peter Goadsky, professor da Universidade da Califórnia e autor do estudo.

Simultaneamente ao surgimento de novas opções terapêuticas, outras estão perdendo credibilidade. É o caso da toxina botulínica – substância produzida por uma bactéria capaz de paralisar os músculos e que, em pequena quantidade, ameniza rugas. Um artigo publicado na revista da Associação Médica Americana (“JAMA”) em abril comparou a ação da terapia ao efeito de tratamentos placebo. O veredito foi dado após uma revisão dos estudos que embasaram a aprovação da toxina para a terapia das dores de cabeça constantes e intensas. “O uso desse método é uma falácia. Pode ter um efeito placebo poderoso, mas há outras técnicas de fato eficientes para reduzir a tensão associada a algumas dores de cabeça intensas”, diz o médico Paulo Bittencourt, de Santa Catarina.
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Uma delas é o emprego cada vez mais frequente de sessões de terapia cognitivo-comportamental, técnica que é focada na mudança de pensamentos e crenças e dos padrões de comportamento a eles vinculados. A terapia tem se mostrado bastante útil na identificação e no controle de condutas que levam alguns pacientes a crises reiteradas e, por fim, crônicas. Na origem de tudo está a repetição de algumas atitudes. “Há pacientes com problemas recorrentes no casamento ou no trabalho, o que aumenta a tensão. Isso pode ser fundamental para o agravamento do quadro”, diz o neurologista Bittencourt. “Nestes casos, a terapia ajuda muito.” Em tais circunstâncias, técnicas de ioga também podem ter êxito. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Médica Jaipur, na Índia, mostrou que bastou uma sessão de 60 minutos por semana para diminuir consideravelmente os acessos de dor de cabeça. No trabalho, com duração de um ano, 60% dos voluntários reportaram que o número de crises ficou em torno de cinco por mês, bem menos do que registravam antes. 

A acupuntura é igualmente eficiente no alívio da cefaleia tensional, conforme a Universidade de Munique, na Alemanha. A curto prazo (cerca de três meses), ela reduziu os sintomas na maioria dos participantes do estudo. A longo prazo, porém, os especialistas concluíram que ela não é suficiente para amenizar dores mais persistentes e severas. Deve, portanto, ser associada a outros tratamentos. De posse de toda a produção científica acumulada nos últimos anos, a AAN faz uma recomendação clara para quem sofre de dor de cabeça: analgésicos podem ser indicados apenas nos casos em que a crise acontece menos de uma vez por mês. Se ocorrer com mais frequência, o caminho mais produtivo para resolver o problema é iniciar um programa de prevenção.
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domingo, 10 de junho de 2012


Mal de Alzheimer

Ficheiro:Alois Alzheimer 002.jpg 
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Alzheimer
Star of life caution.svg Aviso médico
Classificação e recursos externos
Alois Alzheimer 002.jpg
O Mal de Alzheimer foi descrito pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer
CID-10G30F00
CID-9331.0290.1
OMIM104300
DiseasesDB490
MedlinePlus000760
Mal de AlzheimerDoença de Alzheimer (DA) ou simplesmente Alzheimer é uma doença degenerativa atualmente incurável mas que possui tratamento. O tratamento permite melhorar a saúde, retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida ao idoso e sua família. Foi descrita, pela primeira vez, em 1906, pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, de quem herdou o nome. É a principal causa de demência em pessoas com mais de 60 anos no Brasil e em Portugal, sendo cerca de duas vezes mais comum que a demência vascular, sendo que em 15% dos casos ocorrem simultaneamente. [1] Atinge 1% dos idosos entre 65 e 70 anos mas sua prevalência aumenta exponencialmente com os anos sendo de 6% aos 70, 30% aos 80 anos e mais de 60% depois dos 90 anos.[2]

Prevalência

No mundo o número de portadores de Alzheimer é cerca de 25 milhões, com cerca de 1 milhão de casos no Brasil[3] e cerca de 100 mil em Portugal.[4]
Existe uma relação inversamente proporcional entre a prevalência de demência e a escolaridade. Nos indivíduos com oito anos ou mais de escolaridade a prevalência é de 3,5%, enquanto que nos analfabetos é de 12,2%.[5]

[editar]Sintomas


As áreas mais afetadas são as associadas a memória, aprendizagem e coordenação motora
Cada paciente de Alzheimer sofre a doença de forma única, mas existem pontos em comum, por exemplo, o sintoma primário mais comum é a perda de memória. Muitas vezes os primeiros sintomas são confundidos com problemas de idade ou de estresse. Quando a suspeita recai sobre o Mal de Alzheimer, o paciente é submetido a uma série de testes cognitivos e radiológicos. Com o avançar da doença vão aparecendo novos sintomas como confusão mental, irritabilidade e agressividade, alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e o paciente começa a desligar-se da realidade. Antes de se tornar totalmente aparente o Mal de Alzheimer vai-se desenvolvendo por um período indeterminado de tempo e pode manter-se não diagnosticado e assintomático durante anos. [6]
A evolução da doença está dividida em quatro fases.

[editar]Primeira fase dos sintomas

Os primeiros sintomas são muitas vezes falsamente relacionados com o envelhecimento natural ou com o estresse. Alguns testes neuropsicológicos podem revelar muitas deficiências cognitivas até oito anos antes de se poder diagnosticar o Mal de Alzheimer por inteiro. O sintoma primário mais notável é a perda de memória de curto prazo(dificuldade em lembrar factos aprendidos recentemente); o paciente perde a capacidade de dar atenção a algo, perde a flexibilidade no pensamento e o pensamento abstrato; pode começar a perder a sua memória semântica. Nessa fase pode ainda ser notada apatia, como um sintoma bastante comum. É também notada uma certa desorientação de tempo e espaço. A pessoa não sabe onde está nem em que ano está, em que mês ou que dia. Quanto mais cedo os sintomas forem percebidos mais eficaz é o tratamento e melhor o prognóstico.

[editar]Segunda fase (demência inicial)

Com o passar dos anos, conforme os neurônios morrem e a quantidade de neurotransmissores diminuem, aumenta a dificuldade em reconhecer e identificar objectos (agnosia) e na execução de movimentos (apraxia).
A memória do paciente não é afetada toda da mesma maneira. As memórias mais antigas, a memória semântica e a memória implícita (memória de como fazer as coisas) não são tão afectadas como a memória a curto prazo. Os problemas de linguagem implicam normalmente a diminuição do vocabulário e a maior dificuldade na fala, que levam a um empobrecimento geral da linguagem. Nessa fase, o paciente ainda consegue comunicar ideias básicas. O paciente pode parecer desleixado ao efetuar certas tarefas motoras simples (escrever, vestir-se, etc.), devido a dificuldades de coordenação.

[editar]Terceira fase

A degeneração progressiva dificulta a independência. A dificuldade na fala torna-se evidente devido à impossibilidade de se lembrar de vocabulário. Progressivamente, o paciente vai perdendo a capacidade de ler e de escrever e deixa de conseguir fazer as mais simples tarefas diárias. Durante essa fase, os problemas de memória pioram e o paciente pode deixar de reconhecer os seus parentes e conhecidos. A memória de longo prazo vai-se perdendo e alterações de comportamento vão-se agravando. As manifestações mais comuns são a apatia, irritabilidade e instabilidade emocional, chegando ao choro, ataques inesperados de agressividade ou resistência à caridade. Aproximadamente 30% dos pacientes desenvolvem ilusões e outros sintomas relacionados. Incontinência urinária pode aparecer.

[editar]Quarta fase (terminal)

Durante a última fase do Mal de Alzheimer, o paciente está completamente dependente das pessoas que tomam conta dele. A linguagem está agora reduzida a simples frases ou até a palavras isoladas, acabando, eventualmente, em perda da fala. Apesar da perda da linguagem verbal, os pacientes podem compreender e responder com sinais emocionais. No entanto, a agressividade ainda pode estar presente, e a apatia extrema e o cansaço são resultados bastante comuns. Os pacientes vão acabar por não conseguir desempenhar as tarefas mais simples sem ajuda. A sua massa muscular e a sua mobilidade degeneram-se a tal ponto que o paciente tem de ficar deitado numa cama; perdem a capacidade de comer sozinhos. Por fim, vem a morte, que normalmente não é causada pelo Mal de Alzheimer, mas por outro fator externo (pneumonia, por exemplo).

[editar]Histopatologia.


Histopatologia da fase pré-senil das placas senis. A proteína beta-amilóide, que tem efeitos tóxicos sobre os neurônios.[7]
A base histopatológica da doença foi descrita pela primeira vez pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer em 1909, que verificou a existência juntamente com placas senis (hoje identificadas como agregados de proteína beta-amilóide), de emaranhados neurofibrilares (hoje associados a mutações e consequente hiperfosforilação da proteína tau, no interior dos microtúbulos do citoesqueleto dos neurónios). Estes dois achados patológicos, num doente com severas perturbações neurocognitivas, e na ausência de evidência de compromisso ou lesão intra-vascular, permitiram a Alois Alzheimer caracterizar este quadro clínico como distinto de outras patologias orgânicas do cérebro, vindo Emil Kraepelin a dar o nome de Alzheimer à doença por ele estudada pela primeira vez, combinando os resultados histológicos com a descrição clínica.
As placas senis têm o aspecto esférico e no centro há denso acúmulo de proteína beta-amilóide A/4 que é circundada por um anelformado de partículas de neurônios anormais, células microgliais e astrócitos reactivos. Além disso, conforme os neurônios criam nós em peças essenciais de sua estrutura interna, os microtúbulos retorcidos e emaranhados prejudicam o funcionamento da rede neural. A provável causa é um defeito no cromossoma 19, responsável pela produção de uma proteína denominada apolipoproteína E4 (ApoE4).[8]

[editar]Fisiopatologia


Perda de conexões entre neurônios, formação de emaranhados neurofibrilares e placas de amilóides são as principais características identificadas no Alzheimer
Segundo pesquisas recentes, o Alzheimer começa no tronco cerebral, mais especificamente numa área denominada núcleo dorsal da rafe, e não no córtex, que é o centro do processamento de informações e armazenamento da memória.[9]
Caracteriza-se clinicamente pela perda progressiva da memória. O cérebro de um paciente com a doença de Alzheimer, quando visto emnecrópsia, apresenta uma atrofia generalizada, com perda neuronal específica em certas áreas do hipocampo, mas também em regiões parieto-occipitais e frontais. O quadro de sinais e sintomas dessa doença está associado à redução de neurotransmissores cerebrais, como acetilcolinanoradrenalina e serotonina. O tratamento para o mal de Alzheimer é sintomático e consiste justamente na tentativa de restauração da função colinérgica, noradrenérgica e serotoninérgica.[10]
A perda de memória causa a estes pacientes um grande desconforto em sua fase inicial e intermediária. Já na fase adiantada não apresentam mais condições de perceber-se doentes, por falha da autocrítica. Não se trata de uma simples falha na memória, mas sim de uma progressiva incapacidade para o trabalho e convívio social, devido a dificuldades para reconhecer pessoas próximas e objetos. Mudanças de domicílio são mal recebidas, pois tornam os sintomas mais agudos. Um paciente com doença de Alzheimer pergunta a mesma coisa centenas de vezes, mostrando sua incapacidade de fixar algo novo. Palavras são esquecidas, frases são trocadas, muitas permanecendo sem finalização.

[editar]Evolução

A evolução da piora é em torno de 5 a 15% da cognição (consciência de si próprio e dos outros) por ano de doença, com um período em média de oito anos de seu início e seu último estágio. Com a progressão da doença passa a não reconhecer mais os familiares ou até mesmo a não realizar tarefas simples de higiene e vestir roupas. No estágio final necessita de ajuda para tudo. Os sintomas depressivos são comuns, com instabilidade emocional e choros. Delírios e outros sintomas de psicose são frequentes, embora difíceis de avaliar nas fases finais da doença, devido à total perda de noção de lugar e de tempo e da deterioração geral. Em geral a doença instala-se em pessoas com mais de 65 anos, mas existem pacientes com início aos quarenta anos, e relatos raros de início na infância, de provável cunho genético. Podem aparecer vários casos numa mesma família, e também pode acontecer casos únicos, sem nenhum outro parente afetado, ditos esporádicos.

[editar]Prevenção


O Alzheimer é quatro vezes mais comum em analfabetos do que em pessoas com mais de oito anos de estudo formal
Todos os estudos de medidas para prevenir ou atrasar os efeitos do Alzheimer são frequentemente infrutíferos. Hoje em dia, não parecem existir provas para acreditar que qualquer medida de prevenção é definitivamente bem sucedida contra o Alzheimer. No entanto, estudos indicam relações entre factores alteráveis como dietas, risco cardiovascular, uso de produtos farmacêuticos ou atividades intelectuais e a probabilidade de desenvolvimento de Alzheimer da população. Mas só mais pesquisa, incluídos testes clínicos, revelarão se, de facto, esses factores podem ajudar a prevenir o Alzheimer.
A inclusão de fruta e vegetais, pão, trigo e outros cereais, azeite, peixe, e vinho tinto, podem reduzir o risco de Alzheimer. Algumasvitaminas como a B12B3C ou a B9 foram relacionadas em estudos ao menor risco de Alzheimer, embora outros estudos indiquem que essas não têm nenhum efeito significativo no início ou desenvolvimento da doença e podem ter efeitos secundários. Algumas especiarias como a curcumina e o açafrão mostraram sucesso na prevenção da degeneração cerebral em ratos de laboratório.
O risco cardiovascular, derivado de colesterol alto, hipertensãodiabetes e o tabaco, está associado com maior risco de desenvolvimento da doença, e as estatinas (fármacos para fazer descer o colesterol) não tiveram sucesso em prevenir ou melhorar as condições do paciente durante o desenvolvimento da doença. No entanto, o uso a longo prazo de anti-inflamatórios não-esteroides (AINEs) está também associado à menor probabilidade de desenvolvimento de Alzheimer em alguns indivíduos. Já não se acredita que outros tratamentos farmacêuticos, como substituição de hormonas femininas, previnam a doença. Em 2007, estudo aprofundado concluiu que havia provas inconsistentes e pouco convincentes de que o ginkgo tenha algum efeito positivo em reduzir a probabilidade de ocorrência do Mal de Alzheimer.
Atividades intelectuais como ler, escrever com a mão esquerda, disputar jogos de tabuleiro (xadrezdamas, etc.), completar palavras cruzadas, tocar instrumentos musicais, ou socialização regular também podem atrasar o início ou a gravidade do Alzheimer. Outros estudos mostraram que muita exposição a campos magnéticos e trabalho com metais, especialmente alumínio, aumenta o risco de Alzheimer. A credibilidade de alguns desses estudos tem sido posta em causa até porque outros estudos não encontraram a mínima relação entre as questões ambientais e o desenvolvimento de Alzheimer.
Atitudes simples do dia a dia podem reduzir as chances de desenvolver a doença. Uma delas é reduzir ao máximo o contato de alimentos com o alumínio. Ele está presente em panelas que armazenam as sobras do almoço para o jantar, ou vice-versa. Ao ficarem na geladeira, por exemplo, aos poucos a panela solta pequenas partículas de alúminio que contaminam o alimento, dê preferência por armazenar as sobras em recipientes de plástico, e volte para a panela somente quando for aquecer. Evite também o uso excessivo de papel alumínio para embrulhar os alimentos, sobretudo em lanche para as crianças. Dê preferência por potes de plástico, que além de conservar melhor o alimento sem amassá-lo, evita o gasto com o papel e ajuda a natureza na hora de reciclar, reduzindo o lixo produzido.
Muitas vezes não é possível discernir todas as fases da doença. Pois um paciente que ainda está na primeira fase já pode apresentar dificuldades de locomoção por exemplo, e outro paciente que já se encontra em fase terminal ainda fala com fluencia (embora sejam frases sem sentido nenhum e até mesmo xingamentos).
Em 2009, cientistas do Reino Unido e França anunciaram a descoberta de três genes [clusterina (ou CLU), PICALM e CR1] que poderiam reduzir em até 20% seus índices de incidência na população.[11]

Tratamento