segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Roma- uma herança do Egito.

Nos séculos I e II d.C., Roma dominou um vasto território, espalhando-se da Bretanha ao Norte da África, e da Espanha à Ásia Menor. Embora a veneração ao Imperador encorajasse algum grau de unidade religiosa, continuava existindo enorme diversidade de práticas locais (o próprio Cristianismo nascente e o Judaísmo faziam parte delas). Houve novamente um certo amálgama com as práticas reinantes.
          Fora os Cultos domésticos e Oficiais, também havia cultos de mistério, com ritos e iniciações secretas, como o culto a Baco (equivalente ao Dionísio Grego), que atraía veneração orgiástica. Outros cultos incluíam os de Ísis e Osíris, de origem Egípcia, e de Mitra, divindade Celta. Esses cultos coexistiam com a Religião Estatal de veneração aos Césares, e ainda quando o Cristianismo começou a se difundir no Império, no início do Século I.
          Sofreram perseguições periódicas, não porque os Romanos não fossem religiosamente flexíveis, pois o eram, mas provavelmente porque os Cristãos se recusavam a venerar outro deus além do seu próprio. Essa recusa ameaçava a Pax deorum e talvez não tenha sido por acaso que as perseguições estivessem associadas com algumas catástrofes cuja culpa poderia ser imputada aos Cristãos, como no caso do grande incêndio em Roma, no Reinado de Nero (64 AC).
          Mesmo assim, no IV Século, como sabemos, o Cristianismo tornou-se a Religião Oficial do Império; ainda assim as Religiões Romanas tinham grande influência, pois ocorreu uma fusão de imagens cristãs e pagãs. Por exemplo, o Orfeu Grego sendo representado como o Bom Pastor.
          Como se vê, nem Gregos nem Romanos tinham uma personificação clara e definida do Mal. Ia de acordo com a veneta dos deuses, que, embora imortais, tinham os mesmos defeitos dos seres humanos, as mesmas fraquezas, e por isso estavam sujeitos a fazer tanto o bem quanto o Mal.

          Pérsia: O conhecimento que temos sobre a Religião dos antigos Persas baseia-se principalmente no Zendavesta, o Livro Sagrado daquele Povo.
          Zoroastro foi o fundador de sua Religião, em 660 a.C. que substituiu o politeísmo natural da Pérsia por um Monoteísmo pragmático. Seu sistema se tornou a Religião dominante na Ásia Ocidental a partir do tempo de Ciro (550 a.C.) até a conquista da Pérsia por Alexandre, o Grande (Magno). Por esse motivo, os exilados Judeus na Babilônia, na Pérsia e em todas as regiões para onde se espalharam e formaram uma Comunidade Judaica, até mesmo no Oriente, estiveram debaixo de grande influência do Zoroastrismo.
          Foi na Pérsia que surgiu, talvez, a primeira representação "verdadeira" do Diabo, em VI a.C (se levarmos em conta que as "Regiões Infernais" gregas não eram necessariamente regidas ou coordenadas por um ser maléfico em especial). O profeta Zoroastro ensinava a existência de um ser supremo, que criou dois outros seres poderosos e dividiu com eles sua própria natureza até o ponto que lhe pareceu conveniente. Desses dois, Ahura Mazda permaneceu fiel a seu criador e foi considerado a fonte de todo' Bem.
          Ariman, em contrapartida, tornou-se o "príncipe das trevas", rebelando-se e tornando-se o autor de todo Mal que há na Terra. O Mal e o Bem se misturaram em todas as partes do Mundo, e os seguidores do Bem e do Mal - adeptos de Mazda e Ariman - passaram a travar incessante guerra. Chegará, porém, o tempo em que o Bem triunfará sobre o Mal, e Ariman e seus seguidores serão condenados às Trevas Eternas. Parece uma crença bastante interessante para ser tão antiga!
          Essas duas divindades expressam a polaridade existente no Universo e dentro da própria alma humana. Aqui se fala em um Mal que habita o ser humano, não sendo jogado para longe, simplesmente. Ainda que o "culpado" por espalhar o Mal seja Ariman, seus seguidores são capazes de fazer o mal tanto quanto ele o faz.
          Os Ritos Persas de certa forma eram simples, pois não exigiam a estrutura de um Templo, no entanto... que progresso cultuar ao ar livre, nos cumes dos montes e das Montanhas, sem qualquer trabalho de erigir colunas e paredes majestosas! (os Celtas só fariam isso Séculos depois). Os sacrifícios persas eram oferecidos dessa maneira, e os Ritos e Celebrações sempre ao encargo dos Sacerdotes.
          Estes ficaram conhecidos como "Magos", e os seus conhecimentos relacionavam-se à astrologia, astronomia, ciência (e encantamentos, podemos pressupor, pois eram Sacerdotes). Tornaram-se extremamente célebres no Mundo da época, pelo saber e erudição. Observe como Byron expressa-se sobre a Religião dos Persas:
          "Não era sem razão que o persa antigo  seus altares erguia nas Montanhas mais altas e, num Templo sem paredes, adorava o espírito  que despreza os Templos pelos homens construídos.
          Comparai, comparai, com as colunas e as moradas dos ídolos que os Gregos e os Godos levantaram. Esses altares erguidos pela própria Natureza, só pela terra e pelo ar rodeados, onde não há paredes nem abóbadas que possam
aprisionar a vossa prece".  (Childe Harold - Byron)

          Mesmo depois do advento do Cristianismo, ainda no Século III, a Religião de Zoroastro era predominante no Oriente. Isso foi assim até que surgiu o Islamismo e a Pérsia foi conquistada pelos Árabes no Século VII (650 d.C.) o que obrigou a maior parte dos Persas a renunciar à sua antiga fé. Os que se negaram a abandonar a fé fugiram para a Índia.
          Ainda existem seguidores de Zoroastro hoje, com o nome de "Parses". Os Árabes os denominam "Guebros", ou infiéis. Mesmo assim, os Parses destacam-se por uma vida reta, esclarecida e próspera, possuindo hoje inúmeros Templos do Fogo, que adoram como divindade.
          Durante o cativeiro na Babilônia os Hebreus tiveram contato com o Zoroastrismo Persa, o que, segundo alguns Historiadores, foi fundamental para a concepção do que viria a ser o Satã do Judaísmo e do Cristianismo. Um "personificador" do Mal. No Antigo Testamento, ele agiria como o "colaborador" de Jeová, o Deus Judaico-Cristão, para testar a lealdade ou castigar os seus escolhidos - como Jó, por exemplo (visão histórica, nunca se esqueça).

          Mitologia Nórdica: As histórias e Religiões até agora são importantes mas, há, contudo, outro ramo de antigas superstições que não podem ser ignoradas de todo, especialmente porque pertenceram às Nações às quais está associada a nossa origem, através de antepassados ingleses que mesclaram a cultura dos Estados Unidos e, indiretamente, atingiram o Brasil. E a Cultura Nórdica. Eles também têm sua visão de Criação do Mundo, como já notamos ser um traço característico de quase todos os Povos e Sociedades.
          O que há de interessante para se notar é que eles também admitem a criação de um deus, e dele mesmo, a sua esposa, da raça dos gigantes, de quem nasceram três irmãos. Esses três irmãos criaram a terra com o corpo, sangue, ossos, cabelos, crânio, cérebro e a testa do gigante Ymir, gigante do Gelo que existia antes deles. Maneira estranha de criar a terra, mas percebe-se que toda a mitologia Nórdica é bem pouco poética neste aspecto, apelando bastante para atos de violência e crueldade. Os deuses notaram que faltava algo na criação, e fizeram o homem e a mulher.
          Eles também aceitavam a existência de três regiões no Universo. Asgard, a Morada dos deuses; Jotunheim, morada dos Gigantes; Niffleheim, região das trevas e do frio, alimentada pela fonte da escuridão. Deuses como Odin e Thor são dois dos mais famosos entre os Nórdicos, bem como as Valquírias, virgens guerreiras cujo nome quer dizer "aquelas que escolhem os mortos".
          Havia, contudo, uma divindade cuja personificação já é mais próxima daquilo que desejamos demonstrar. Loki. Era este o caluniador dos deuses e articulador de todas as fraudes e atos condenáveis. Belo e bem feito de corpo, porém dotado de temperamento caprichoso e maus instintos. Tinha três filhos: o lobo Fenris, a serpente Nidgard e Hela (a Morte).
          Os deuses não ignoravam que esses monstros acabariam por crescer e causar muito mal aos homens e deuses bons. Odin - principal divindade, responsável por parte da criação e de grande poder - mandou chamá-los e lançou a Serpente Nidgard no profundo oceano pelo qual a Terra é cercada. O monstro, porém, crescera a tal ponto que, enfiando a cauda na boca, rodeou toda a Terra. Hela, a Morte, foi atirada por Odin ao Niffleheim e recebeu o poder de dominar nove Mundos ou regiões, nos quais distribui aqueles que lhes são enviados, isto é, os que morrem em conseqüência de velhice ou doença. A fisionomia de Hela era pavorosa, e seu corpo, metade cor de carne e metade azul (provavelmente cianótico) não era a coisa mais linda do mundo. Já o lobo Fenris deu muito trabalho antes que conseguissem acorrentá-lo.
          Entretanto, o próprio Loki jamais cessou de fazer o Mal entre os homens e os deuses. Não escapou do merecido castigo, pois chegou o momento em que os deuses se indignaram contra ele e o acorrentaram, suspendendo sobre sua cabeça uma serpente cujo veneno cai constantemente sobre seu rosto, gota a gota. Ele se contorce de horror, com tal violência, que a Terra inteira treme, produzindo o que os homens chamam de terremoto.
          Além de Loki e seus filhos, havia os Elfos, bons e maus. Seu país era Alffheim, e embora fossem inferiores aos deuses, ainda assim eram dotados de grande poder. A linguagem dos maus era o eco das solidões, e suas moradas as cavernas e covas subterrâneas. Supunha-se que eles tinham surgido como larvas, produzidas pela carne em decomposição do cadáver de Ymir, e receberam depois, dos deuses, uma forma humana e grande inteligência.
          Distinguiam-se particularmente pelo conhecimento dos poderes misteriosos da Natureza e pelos caracteres que grafavam e explicavam.
          O crepúsculo dos deuses era esperado também, e vemos na narrativa alguns elementos interessantes: os nórdicos acreditavam que chegaria um tempo em que seriam destruídos, com toda a criação visível, os deuses das três regiões. Mas o pavoroso dia da destruição não viria sem aviso.
          Para anunciá-lo, viria primeiro um Inverno Tríplice, sem Verão para contrastá-lo; a neve cairia dos quatro cantos do céu, o congelamento seria rigoroso e o vento cortante. Haveria tempo tempestuoso e o sol não traria alegria.
          Depois, três outros Invernos viriam, durante os quais a guerra e a discórdia se espalhariam peio Universo. A própria Terra ficaria amedrontada e começaria a tremer (terremotos?), o mar sairia de seu leito, o céu se abriria e os homens morreriam em grande número enquanto as águias se regozijariam sobre seus cadáveres. O Lobo e a Serpente conseguirão soltar-se e, com Loki, também liberto de suas cadeias, juntar-se-ão aos inimigos dos deuses (um verdadeiro Apocalipse, hein?!).
           Os deuses avançarão, chefiados por Odin, que atacará o lobo mas cairá vítima do monstro. Este, por sua vez, é morto por um dos filhos de Odin. Thor destaca-se matando a serpente, mas cai morto sufocado pelo veneno que o monstro moribundo vomita sobre ele. Loki enfrenta um dos deuses e ambos caem mortos.
          Tendo caído na Batalha tanto os deuses quanto seus inimigos, o Elfo mais importante, deus do sol, acaba morto e todo o Universo incendeia-se, consumido pelo fogo. O Sol se apaga, a terra se afunda no Oceano, as estrelas caem do céu, e deixa de haver o Tempo (que Apocalipse mesmo!).
          Depois disso, Alfadur, o "todo-poderoso" fará com que surjam do mar um novo céu e uma nova terra, que contará com abundantes recursos que darão seus frutos sem que haja necessidade de trabalho para cultivá-los, ou preocupação. A maldade e a miséria não serão mais conhecidas e os deuses e os homens enfim viverão felizes.

          Hebreus: os Hebreus primitivos não tinham necessidade de corporificar uma Entidade Maligna, pois isso não foi ensinado no Antigo Testamento, cuja Figura Central é Jeovah. Para eles, Jeovah era um Deus Único, e como tal, superior aos deuses das populações vizinhas, que terminavam naturalmente fazendo o papel de adversários, expressões naturais da Maldade.
          Não é surpresa que, ao ser personificado, recebeu nomes como Belzebu, um deus filisteu, e Asmodeo, deus da tempestade na Mitologia Persa. Admite-se que a influência Persa forneceu material para o dualismo Judeu, a dicotomia entre Bem e Mal que até hoje define a Religiosidade Ocidental, que assimilou perfeitamente a crença em espíritos benéficos e maléficos (novamente: trata-se de uma visão puramente Histórica, fruto de Sincretismo religioso principalmente; mas sabemos que há muito mais além disso). Indo adiante, a mudança de perspectiva teológica fica mais evidente a partir do séc II a.C, com um desenvolvimento paralelo à tradição judaica ortodoxa e erudita: uma literatura apocalíptica sobre o Demônio.
          No Livro dos Jubileus (Apócrifo - sem autenticidade comprovada), escrito entre 135 e 105 a.C., são mencionados espíritos malignos acorrentados no "lugar da condenação".
          No Testamento dos Doze Patriarcas (também Apócrifo), escrito entre 109 e 106 a.C, pela primeira vez Satã aparece personalizado na figura de Belial.
          Percebe-se que ambos são mais ou menos da mesma época. Ainda que não seja o cerne do AT, as crenças populares Judaicas sobre o Diabo eram conhecidas e reconhecidas no tempo de Jesus, e isso teria sido herdado, em muitos aspectos, de uma cultura "descendente" e "sincretizada" com a cultura Mesopotâmica. Que por si só, ela mesma, já era uma enorme fusão de crenças, mitos e Religiões (novamente: postura desprovida de fé). Se assim não fosse - se os Judeus do tempo de Jesus não tivessem uma idéia clara da personificação do Mal -, talvez deixassem de acusá-Lo tão veementemente de "ter parte com Belzebu".
          O fato de usarem o nome filisteu não diminuía a crença real na malignidade e personificação do Mal; eles apenas não sabiam qual era o nome que deveriam dar ao Diabo. O famoso relato de Jó, conhecido dos Judeus e fazendo parte do AT usa a palavra Satanás (qual seria a original???), além de citar a queda do "anjo de luz" dos Céus no texto de Ezequiel (foi usada a palavra Lucifer?). Mas com o tempo, e sem nenhuma associação com o Cristianismo, os Rabinos perderam o interesse no Diabo, tornando-o figura de pouca ou nenhuma serventia.

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