segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Cristianismo Maculado

A História Do Diabo e o Cristianismo

          Ao contrário do menor interesse que passou a ter Satanás dentro do Judaísmo, os Cristãos do primeiro Século já de cara não somente introduziram a Literatura Escatológica - o Apocalipse de João -, como também os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as Epístolas de Paulo são bastante contundentes em mencionar a luta de Satanás contra Deus e contra Seus filhos. Estes textos Cristãos que compõem o Novo Testamento ampliaram os limites de atuação e "concederam" grandes poderes ao Diabo.
          Ainda assim, mesmo com todos esses detalhes sobre o Diabo (cujo termo, aqui, significa "o Opositor"), não se pode ter idéia da sua face; somente o Apocalipse nos contribuiria com algumas das formas do seu "retrato falado"
          No tempo do Imperador Cláudio I (41 - 54), os Romanos não faziam distinção entre o Cristianismo e o Judaísmo. Mas no Reinado de Nero, quando foram perseguidos pela primeira vez, já eram distinguidos nitidamente em sua particularidade. Nos dois primeiros Séculos, a perseguição aconteceu de modo esparso; até que ser Cristão passou a constituir crime. No Século III, as perseguições tornaram-se sistemáticas.
          Durante o Governo de diversos Imperadores, os problemas foram aumentando. Sétimo Severo proibiu a conversão ao Cristianismo; Décio (249 - 251) e Valeriano (257 - 258) desencadearam violentas repressões. As últimas e mais terríveis perseguições ocorreram com Diocleciano (284 -305), e depois com Galério (303 - 311).
          Depois do ano 70 d.C, quando o general Romano Tito marchou contra Jerusalém e destruiu o Templo, realmente o "Cristianismo Judaico" começou a desaparecer. Especialmente quando os Cristãos gentios abandonaram por completo o Judaísmo, uma vez que a Lei de Moisés não lhes era imposta (tônica da pregação e do Ministério do Apóstolo Paulo). Aliás, entre Judeus e Judeus Cristãos começou a haver problemas sérios, porque estes últimos já não eram bem vistos nas Sinagogas e sentiam-se excluídos de seu próprio Povo.
          A Comunidade Judaica foi dividida e os Cristãos em geral começaram a encarar a Ordem Religiosa Judaica, que se recusava a aceitar o Messias, como demoníaca (podemos até mesmo dizer que as raízes do anti-semitismo começaram a implantar-se desde então).
          O livro de Atos começa uma Missão voltada primeiro aos Judeus, mas ao longo da narrativa, termina quase que praticamente voltada aos gentios. Iniciou-se em Jerusalém, mas terminou em Roma. O relato inicial é de um Cristianismo Judaico, mas depois se conclui com um Cristianismo mais "puro", relacionado à formação das Igrejas Gentias e as viagens do Apóstolo Paulo. O principal Apóstolo dos Judeus, Pedro, tem grande participação no início do Livro de Atos, mas Paulo logo o substitui, como o maior Missionário dos Gentios.
          A despeito da Literatura agora abundante, a corporificação do Diabo Cristão consumiu pelo menos 400 anos de debates e somente veio a ser consolidada no Século VII, por meio da Arte Cristã, pois - quer acreditem ou não - o Diabo até então não tinha rosto nem aparência definida.
          Nesse período, a figura horripilante dos Demônios começa a aparecer nos vitrais, colunas e tetos das Igrejas. Também nas ruas, em murais, estimulando a imaginação do Povo, de todos, e abrindo caminho para as práticas mais obscuras da Idade Média. O ápice ocorre com a Inquisição.
          Padres já haviam dito: "O Demônio é uma criatura que seduz, apresentando-se muitas vezes como tentação da carne e da beleza". Assim acreditavam estes Padres. "Às vezes, se apresenta sob forma humana, possuidor de uma beleza sedutora, como um anjo de luz". Esta foi a maneira de descrever o Diabo pelos primeiros Cristãos Gregos, que o pintaram como sendo jovem e encantador, dizendo com isso que o Mal é tão poderosamente sedutor e tão atraente que os homens cedem e consentem com ele. Porém essas idéias não tiveram a penetração daquela divulgada pela Arte no Século VII
          Essa lenta construção da imagem física do Diabo é até compreensível, pois nos primeiros três Séculos, os Cristãos, membros de uma "seita" perseguida, não precisavam perder tempo com isso: imaginar uma face para Satanás, já que a conheciam sob a forma dos Gladiadores e leões, que os destruíam em pedaços nas arenas Romanas.
          Todos nós já ouvimos falar do que aconteceu a muitos dos nossos primeiros irmãos na fé. Parte da hostilidade que era atribuída pelos Romanos aos Cristãos não era exatamente pelo fato de cultuarem um outro Deus, pois o Politeísmo imperava... um Deus a mais, um a menos...
          O problema era o caráter exclusivista (tanto dos Judeus, primeiramente) quanto dos Cristãos; os primeiros sempre tinham realizado seus Cultos entre eles, com ausência de cerimônias públicas e ruidosas; sempre nas Sinagogas, além dos atos litúrgicos, acontecia a leitura e exposição das Escrituras de um modo que se assemelhava às aulas ministradas pelos filósofos a seus discípulos.
          Sabe-se que poderia haver uma certa "dor-de-cotovelo" aí, e devem ter sido julgados muito presunçosos. Esse comportamento gerou antipatia popular. O Cristianismo certamente herdou parte desta antipatia, e muito mais, uma vez que o Judaísmo nunca foi proibido no Império Romano, e o Cristianismo, sim. Além da antipatia "herdada", também pelo fato de Jesus ter sido Judeu, o fato é que os Cristãos também se mantinham ostensivamente separados dos pagãos, rejeitavam seus Cultos e evitavam os jogos circenses.
          De outro lado, eram absolutamente desprezados pela classe mais abastada, a qual considerava um absurdo cultuar Jesus, alguém que havia morrido como escravo! Desagradavam também diretamente ao Imperador por recusarem-se a participar do Culto em sua Homenagem; nem pensar em sacrifícios aos deuses, e também servir ao Exército. O pior: pelo que se podia depreender esse comportamento dos Cristãos estava enraizado numa crença indestrutível, por isso começou a gerar tanto desconforto.
          Sua vida cotidiana explicitava claramente sua diferença com todos os demais. A irredutibilidade e intransigência aparentes do Cristianismo - que conquistara a alma dos pobres, dando-lhes elementos de incrível resistência - punham em cheque, pelo simples fato de existir, o poder e a autoridade sem limites das Camadas Opressoras Romanas e do próprio Estado Imperial. E esse era o ponto particularmente INTOLERÁVEL!
          Com o Cristianismo, os humildes ousaram divergir, ao menos em matéria religiosa, do Sistema Dominante. Mas foi nesse ponto que se desenvolveram as sementes do triunfo da nova Religião.
          Então, apesar de toda essa perseguição, o Cristianismo veio a se tornar a mais poderosa Religião do Império, sob a direta proteção do Imperador (foi uma jogada de Mestre do Opositor!). Em 313, Constantino estabeleceu a tolerância através do Edito de Milão.
          "(...) Assim, pois, tomamos esta saudável e retíssima determinação de que a ninguém lhe seja negada a faculdade de seguir livremente a Religião que escolheu para o seu espírito, seja a Cristã, ou qualquer outra que creia mais conveniente (...). Outorgamos aos Cristãos plena e livre faculdade de praticar a sua Religião (...)." -Trecho do Edito de Milão.
          Depois de Constantino, todos os Imperadores foram Cristãos, com exceção de Julliano (361 - 363), que, por retornar ao paganismo, estimulando sua difusão, foi cognominado "o Apóstata". Não obstante, no reinado de Teodósio, o Cristianismo ganhou o estatuto de Religião Oficial do Estado.
          Assim, no Século IV, quando o Cristianismo aparentemente triunfava, primeiro sob o domínio do Império nas mãos de Constantino, e depois como Religião Oficial, os Cristãos talvez pensassem que isso significava uma derrota do anticristo e uma iminente vitória final. Mas não aconteceu assim. Embora a época das perseguições tivesse terminado, a Igreja entrou num período onde as influências pagãs incrustadas na cultura, filosofia e Religião morosamente contaminaram a fé pura legada pelos Apóstolos e seus primeiros seguidores.
          Veja só... Constantino, em troca de conceder aos Cristãos liberdade para conduzir seus assuntos sem medo, exigiu participação e voz ativa nos negócios da Religião. Aí... bom, dá pra ver, né? Esse pacto da Igreja com o Estado, embora já existisse oficialmente antes, com a própria Religião Romana, agora cooperavam mais entre si. Isso perdura até hoje. Direta ou indiretamente, as posturas teológicas acabam sendo concernentes com a Sociedade Secular da época e o Estado.
          Entraram dentro da Igreja práticas pagãs: adoração a "relíquias" cristãs, veneração de mártires e de santos, e todas as formas de superstição. Ao invés de ser uma Instituição que se levantava contra o mundanismo como um testemunho Profético de Cristo, tornou-se uma entidade do Mundo, disposta a pagar- e bem caro -para adaptar-se às formas de politeísmo e paganismo prevalecentes dentro do Império Romano que logo entraria em colapso.
          No caso do Império Romano, a associação da Igreja à estrutura do Estado Imperial criou uma burocracia própria e muito dispendiosa, pois o Cristianismo foi se definindo gradativamente como um sistema rigidamente hierarquizado, corporificado pela Igreja e assimilado pelo Estado e camadas dominantes.             Os gastos para manter essa estrutura contribuíram para agravar a  persistente crise financeira do Império, que duraria não muito mais do que 100 anos. Se a vasta extensão territorial foi o principal motivo da grandeza de Roma, com o tempo acabou sendo a causa de sua fraqueza. Já não havia mais como expandir, e as fortunas arrecadadas deixaram de entrar, bem como os escravos.
          O fim da expansão e a estabilização das fronteiras assinalaram a crise do escravismo (aumento de preço dos escravos nos séculos I e II), e do sistema Imperial. Sem expansionismo e sem despojos de guerra para a Nobreza e o Exército, só aumentou a turbulência militar. As ameaças externas cresceram, vindas do Oriente, com os Persas, e do Ocidente com os Germânicos.
          Esse já é o fim da nossa história em Roma, mas vamos devagar... voltemos à Igreja.
          Depois de virar Religião Oficial, apesar de cessar a hostilidade do Império, a continuidade de conflitos outros e as desigualdades na Sociedade e no Mundo da época sedimentaram a crença de que o Mal continuava a existir mesmo num Mundo dominado por Cristo (aparentemente - pois era a Religião Oficial). Isso seria um passo primordial para que os Cristãos, num futuro não muito distante, passassem a impor através da força e da violência a sua doutrina, o que vai muito longe de tudo o que Cristo pregou e ensinou.
          Uma vez que Satanás não pretendia arrefecer e teimava em disputar com Deus a hegemonia do Mundo e da Raça Humana, era imperativo o Cristianismo, única forma de "escapar" do Mal. Portanto, precaver-se contra o  Mal tornou-se algo obsessivo na Idade Média. Via-se o Diabo e seus demônios em todo canto!
          Nos primeiros cinco Séculos do Cristianismo, ocorreu um importante evento dentro da Igreja com a formação de cinco grandes cidades que se tornaram centros de atividade Cristã: Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Roma.
          Várias cidades tinham um Bispo nomeado, porém os das maiores Igrejas gradualmente foram sendo reconhecidos como superiores aos das Comunidades Cristãs menores. Então os cinco Bispos das maiores Igrejas - os daquelas cinco cidades - foram reconhecidos como os mais importantes e chamados de patriarcas. Note que quatro das cinco grandes cidades estavam localizadas no lado Oriental do Império. Roma era o único centro patriarcal do Ocidente.
          A Igreja em Jerusalém foi reconhecida como a mãe de todas, pelo menos no IV Século. Gradualmente, Jerusalém foi suplantada por Antioquia (onde, no I Século, os discípulos de Jesus foram chamados de Cristãos pela primeira vez - At 11. 26).
          Desta cidade, o Cristianismo estendeu-se para todo o Mundo Gentio, e muitos Bispos foram ordenados ali. A importância de Alexandria está em ser o maior centro Cultural do Oriente e era notável por seus grandes teólogos. Marcos desenvolveu trabalho Missionário ali. Constantinopla era importante porque o Imperador Constantino lá viveu.
          Antes, a cidade era chamada Bizâncio, tendo sido renomeada em sua homenagem. E Roma, evidentemente, era o centro do Império. Talvez por esse motivo, do ponto de vista Religioso, cada vez mais a atividade Cristã era direcionada para lá. O livro de Atos termina com o Apóstolo Paulo aprisionado nesta cidade.
          Gradualmente, como já comentamos, as histórias de conquistas e invasões continuavam, como desde os primórdios da nossa História. No início do Século V, em plena virada do ano e no meio de rigoroso inverno, Bárbaros de origem Germânica (Godos, Hunos, Vândalos e Visigodos, Burgúndios) começaram a forçar as portas e fronteiras do Império Romano. Visigodos na Espanha, Ostrogodos na Itália, Vândalos no norte da África, Burgúndios na Sabóia. Apesar de serem guerreiros, eram em bem menor número do que os Romanos, correndo risco de serem conquistados por eles. Então, foram cuidadosos na sua entrada dentro do Império: tendo conquistado algumas terras, em poucos meses a fome se espalhou devido à pilhagem dos conquistadores.
          Esta acabou por atingi-los também, e aceitaram a condição proposta pelo Império, a de federados. Ocupando principalmente a região espanhola, mantiveram-se separados juridicamente; Romanos e Germânicos permaneceram, cada qual, regidos por suas próprias Leis. Em termos religiosos, mesmo convertidos alguns ao Cristianismo, os Germânicos não aderiram ao Cristianismo Ortodoxo, mas à Heresia Ariana, criando assim uma Igreja Germânica separada.
          Foi basicamente um erro do Império que permitiu a entrada dos Bárbaros. Como medo dos Hunos, povo citado nas antigas crônicas chinesas como sendo nômade e guerreiro, oriundo das estepes asiáticas, invencíveis e os melhores cavaleiros do Mundo, os Romanos permitiram a entrada de 200.000 Visigodos que fugiam dos Hunos em território do Império. Mas, uma vez que se pilharam ali, livres da ameaça dos Hunos, avançaram devastando o que viam pela frente, em direção ao Mediterrâneo.
          O Imperador da porção Oriental decidiu enfrentar os Visigodos (379), mas foi aniquilado com seu Exército. Felizmente para os Romanos, o sucessor Teodósio impediu que os Visigodos tomassem Constantinopla, forçando-os a fazer um acordo que os tornava federados, ocupando a região da Trácia. Morto Teodósio, os Visigodos retomaram as conquistas, saquearam e incendiaram Roma durante 3 dias, levaram reféns, inclusive a irmã do Imperador.
          Pretendiam ir para o Norte da África, mas com a morte súbita de seu chefe, mudaram de planos e procuraram reconciliar-se com o Império Romano; acabaram como federados no sul da Gália.
          Preocupado em defender-se dos Visigodos, o Império começou a sofrer as ondas invasoras Germânicas que culminaria na queda do Império Romano do Ocidente. Com a unidade seriamente comprometida, e já conformados Com a presença Germânica em seu território, não demorou muito para que estes últimos rompessem os tratados e reiniciassem o seu próprio movimento expansionista.
          Depois de contornada a primeira onda invasora e postados como liderados na Espanha, esse clima de aparente equilíbrio começou a mudar com uma segunda onda invasora Germânica, desta vez integrada por Francos, Anglo-Saxões e Lombardos.
          Esses grupos conquistaram, respectivamente, a Gália, a Inglaterra e o norte da Itália, territórios por onde se expandiram. Estes segundos conquistadores não precisaram percorrer grandes distâncias, pois quando os Francos conquistaram a Gália, toda a sua população já tinha se esvaído para a Bélgica, fugindo. Os Anglo-Saxões estavam concentrados no norte da Alemanha, de frente para a Inglaterra.
          Os Lombardos estavam no sul da Áustria, a um passo da Itália. Essa proximidade entre os conquistadores favoreceu um reforço populacional constante, um fluxo que possibilitava que cada avanço fosse bem consolidado. Outro detalhe importante é que estes povos, agora em grande número, nada negociaram, simplesmente tomavam as terras e pronto!
          O Império se via acuado e cercado. Os Hunos, sob comando do famoso Átila, mudaram suas pretensões em ficar no Oriente, mudando para o Ocidente. O Império Romano Oriental se safa às custas do Ocidental. Contra eles se formou uma coligação romano- bárbara, o que foi providencial, pois rechaçou os temíveis Hunos. Mas eles tornaram a voltar, e rumavam em direção a Roma, cuja população ficou espavorida.
          Para surpresa de todos, o Papa Leão I (440 - 461) tomou a iniciativa de negociar com Átila e ofereceu enorme quantia para que ele não atacasse Roma. Incrivelmente, foi aceita e ele se retirou da Itália. A união temporária entre bárbaros e romanos não eliminou a instabilidade do Império Ocidental. Em 476, Hérulos e Godos reivindicavam tornar-se federados, o que lhes daria a posse de terras.
          Diante da negativa Imperial, um dos chefes bárbaros derrubou o fraco Imperador da época e assenhoreou-se da Itália. Desapareceria, assim, o Império Romano do Ocidente. O Cristianismo, porém, sobreviveu à destruição do Império, tendo se tornado o principal herdeiro da tradição Romana e fonte da sua propagação e perpetuação em meio à desorganização que se seguiu à invasão Germânica. Temos que retomar a história da Igreja para entender tudo isso, inclusive como surgiram os Papas, que acabaram de ser mencionados neste estudo. Espere só um pouquinho.......
          Com a queda do Império Romano no final do Século V (476), começa então o período da Idade Média, que durou quase 1000 anos. Podemos distinguir dois períodos distintos: do Século V ao XI, denominamos Alta Idade Média; e o outro, que se estende do Século XI ao XV, é a Baixa Idade Média.
          Ao longo da primeira fase há a formação e dissolução dos Reinos Germânicos num processo de acentuada ruralização da Economia. Na fase seguinte, a vida urbana é revigorada pelo desenvolvimento do Comércio. Porém, no Século XIV, a Sociedade Medieval é atingida por uma grave crise que irá assinalar o final da Idade Média, que é marcada pela queda do Império Romano do Oriente (1453), com a queda de Constantinopla. Repare que a Idade Média fica compreendida entre o final do Império Romano Ocidental e o final do Império Romano Oriental. Vista como a Idade "do Meio" entre duas épocas "brilhantes", a anterior (Antigüidade) e a posterior (Moderna), ficou marcada pelos Historiadores como uma época longa dominada pelo obscurantismo, superstição e ignorância - uma espécie de Idade das "Trevas".
          Bem, caindo o Império Romano em conseqüência das invasões que fracionaram o território, ficou ali um vácuo político que foi, muito estrategicamente, preenchido pela Igreja, única Instituição remanescente. Vamos entender como a Igreja sobreviveu sem o Império com quem tinha parceria. Estabelecida em Roma e cercada por vários Reinos Germânicos, a Igreja Ocidental não se desenvolveu como braço espiritual dependente do Estado.
          Em confronto com os invasores bárbaros, o Bispado de cada região do antigo Império Romano assumiu o comando da defesa e direção política de sua comunidade. O cabeça em Roma era seu Bispo, que assumiu obrigações e responsabilidades políticas cada vez maiores; esse processo culminou com o estabelecimento do Santo Império Romano.
          Cada vez mais, claro, os Bispos Ocidentais tiveram que reconhecer a supremacia do Bispo de Roma. A palavra latina Papa, que significa "pai", foi aplicada pela primeira vez a Sirício, Bispo de Roma, em 384 - 399.
          Embora ele "possuísse a primazia da confissão, e não do cargo, a primazia da fé e não da posição", ainda assim a noção incutida em todos da grandeza do Bispo de Roma como cabeça da Igreja estava pronta para emergir. Isso aconteceu como resultado de um poderoso conflito entre as Igrejas do Oriente e as do Ocidente.
          O Papado se viu obrigado a defender as suas prerrogativas diante dos patriarcas do Oriente (especialmente Constantinopla e Alexandria) que consideravam o Bispo de Roma apenas "mais um patriarca", devendo manter sua Jurisdição apenas no Ocidente.
          Contudo, contendas à parte, em 440 ficou claro que Roma tinha a primazia sobre toda a Cristandade, alegação feita por Leão I, o Grande, o que estabeleceu o início de uma nova fase da Igreja. Pelo visto, bem a tempo de negociar com Átila, o que foi fundamental - não para o Império, mas para o destino da Igreja. O título Papa foi aplicado a cada sucessor do Bispo de Roma (imagine a fogueira de vaidades e os arranjos escusos por trás destas nomeações... não sejamos ingênuos, porque o poder sempre fascinou o homem... e quase sempre o corrompeu. Vê onde estava indo, que rumo tomava a pregação pura do Filho de Deus e dos Apóstolos???...).
          Muitos Historiadores argumentam que, quando a Igreja passou do estágio de um movimento milenarista, consciente da realidade escatológica e da iminente volta de Cristo, para tornar-se uma Igreja totalmente absorvida" e aculturada e contaminada pelo Império Romano, deixou de representar o verdadeiro caráter do Cristianismo.
          Argumentam ainda que este desenvolvimento levou a Igreja à deterioração. Assim como Israel corrompeu-se pelas Religiões pagãs, o mesmo aconteceu com a Noiva do Cordeiro. Não somos nós que dizemos isso, mas a História assim o comprova! A Doutrina pura e verdadeira parecia perdida para todo sempre...

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