O julgamento do Calvário
A morte entrou no mundo por
meio da queda do homem. Aqui se faz referência à morte espiritual que separa o
homem de Deus. Entrou por meio do pecado no princípio e continuou fazendo-o
desde então. A morte sempre chega através do pecado. Notemos o que nos diz
Romanos 5:12 sobre este assunto. Em primeiro lugar, que «o pecado entrou no
mundo por meio de um homem». Adão pecou e introduziu o pecado no mundo.
Segundo, que «a morte (entrou no mundo) através do pecado». A morte é o resultado invariável do pecado. E, finalmente,
que como conseqüência «a morte se estendeu a todos os homens porque todos os
homens pecaram». A morte não «se estendeu a» ou «passou aos homens simplesmente,
mas sim literalmente «passou para todos os homens». A morte impregnou o
espírito, o alma e o corpo de todos os homens. Não há nenhuma parte de um ser
humano pela que não tenha passado.
Por isso é indispensável que o homem receba a vida de Deus. A
salvação não pode chegar por uma reforma humana porque «a morte» é irreparável.
O pecado tem que ser julgado antes de que possa haver resgate da morte para os
homens. Isto é exatamente o que tem feito a salvação do Senhor Jesus.
Mas como o pecado está
em sua humanidade, a morte do homem não pode expiar por seu próprio pecado. O
Senhor Jesus veio e assumiu a natureza do homem, para poder ser julgado em
lugar da humanidade. Não corrompida pelo pecado, sua santa natureza humana pôde deste
modo expiar pela humanidade pecadora por meio da morte. Morreu como substituto,
sofreu todo o castigo do pecado e ofereceu sua vida como resgate por muitos.
Como conseqüência, todo aquele que crê nEle já não será julgado (Jo. 5:24).
Quando o Verbo se fez carne, levava em si toda carne. Assim
como a ação de um homem, Adão, representa a ação de toda a humanidade, a obra
de um homem, Cristo, representa a obra de todos. Temos que ver quão completa é
a obra de Cristo antes de poder compreender o que é a redenção. Por que o
pecado de um homem, Adão, é julgado como o pecado de todos os homens passados e
presentes? Adão é o cabeça
da humanidade da qual vieram ao mundo todos os demais homens. De uma forma
similar, a obediência de um homem, Cristo, faz-se justiça de muitos, passados e
presentes, posto que Cristo constitui o cabeça de uma nova humanidade,
originada por um novo nascimento.
Como a humanidade
tem que ser julgada, o Filho de Deus — o homem Jesus Cristo — sofreu em seu
espírito, alma e corpo sobre a cruz pelos pecados do mundo.
Examinemos primeiro seus sofrimentos físicos. O homem peca
por meio de seu corpo, e neste desfruta do prazer temporário do pecado. Em
conseqüência, o corpo tem que ser o destinatário do castigo. Quem pode sondar os
sofrimentos físicos do Senhor Jesus na cruz?). Suas mãos, seus pés, sua testa, seu flanco, seu coração, todos foram
transpassados pelos homens, transpassados pela humanidade pecadora e
transpassados para a humanidade pecadora. Muitas foram suas feridas e muito lhe
subiu a febre, porque com o peso de todo seu corpo pendurando na cruz sem
nenhum apoio, seu sangue não podia circular livremente. Passou muita sede e por
isso gritou: «A língua se me pega ao paladar.» «Como tinha sede me deram vinagre para beber»
(Sl. 22:15; 69:21). As mãos têm que ser cravadas porque vão atrás do pecado. A boca
tem que sofrer porque sente prazer em pecar. Os pés têm que ser transpassados
porque pecam à vontade. A testa tem que ser coroada com uma coroa de espinhos
porque também quer pecar. Tudo o que o corpo humano tinha que sofrer se cumpriu
em Seu corpo. Desta maneira sofreu fisicamente até a
morte.
Estava em sua mão
livrar-se destes sofrimentos, mas voluntariamente ofereceu seu corpo para
suportar todas as insondáveis provações e dores sem acovardar-se nem um momento
até que soube que «tudo estava consumado» (Jo. 19:28). Só então entregou seu
espírito.
Não só seu corpo; sua alma também sofreu. A alma é o órgão da
própria consciência. Antes de ser crucificado, deram a Cristo vinho misturado
com mirra como calmante para mitigar a dor, mas Ele o rejeitou porque não
estava disposto a aceitar nenhum sedativo mas sim a estar plenamente consciente
do sofrimento. As almas humanas desfrutaram plenamente do prazer dos pecados; por
conseguinte, Jesus ia suportar em sua alma a dor destes pecados. Preferiu beber
a taça que Deus lhe deu do que a taça que anestesiaria sua consciência.
A Bíblia traz o relato de que
os soldados ficaram a roupa do Senhor Jesus (Jo. 19:23). Estava quase nu quando
o crucificaram. Esta é uma das vergonhas da cruz. O pecado nos tira nossa veste
radiante e nos deixa nus. Nosso Senhor foi despido diante de Pilatos e logo
depois de novo no Calvário. Como reagiu sua santa alma diante de semelhante mau
trato? Acaso não era um insulto à santidade de sua personalidade e uma
vergonha? Quem pode sondar seus sentimentos naquele trágico momento? Como todos
os homens tinham desfrutado da glória aparente do pecado, o Salvador tinha que
suportar a autêntica vergonha do pecado. «Verdadeiramente (Deus) cobriste-o de
vergonha.... com que os teus inimigos, ó Senhor, têm difamado os passos do teu
ungido.»; e até «suportou a cruz, desprezando a vergonha» (Sl. 89:45, 51; At.
12:2).
Ninguém poderá jamais
constatar o muito que sofreu a alma do Salvador na cruz. Contemplamos
frequentemente seus sofrimentos físicos, mas passamos por cima dos sentimentos
de sua alma. Uma semana antes da Páscoa o ouviram dizer: «Agora a minha alma
está perturbada» (Jo. 12:27). Isto assinala a cruz. No Jardim do Getsêmani o
ouviram de novo dizer: «A minha alma está triste até a morte» (Mt. 26:38). Se
não fosse por estas palavras quase não poderíamos pensar que sua alma tinha
sofrido.
Agora nossa
humanidade pecadora foi julgada totalmente porque foi julgada na humanidade sem
pecado do Senhor Jesus. Nele, a humanidade santa conquistou sua vitória. Toda
sentença sobre o corpo, a alma e o espírito dos pecadores foi lançada sobre
Ele. Ele é nosso representante. Por fé estamos unidos a Ele. Sua morte é
considerada como nossa morte, e sua sentença como nossa sentença. Nosso
espírito, alma e corpo foram julgados e castigados nele. Seria o mesmo que se tivéssemos
sido castigados em pessoa.
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