quinta-feira, 21 de março de 2013


O julgamento do Calvário

A morte entrou no mundo por meio da queda do homem. Aqui se faz referência à morte espiritual que separa o homem de Deus. Entrou por meio do pecado no princípio e continuou fazendo-o desde então. A morte sempre chega através do pecado. Notemos o que nos diz Romanos 5:12 sobre este assunto. Em primeiro lugar, que «o pecado entrou no mundo por meio de um homem». Adão pecou e introduziu o pecado no mundo. Segundo, que «a morte (entrou no mundo) através do pecado». A morte é o resultado invariável do pecado. E, finalmente, que como conseqüência «a morte se estendeu a todos os homens porque todos os homens pecaram». A morte não «se estendeu a» ou «passou aos homens simplesmente, mas sim literalmente «passou para todos os homens». A morte impregnou o espírito, o alma e o corpo de todos os homens. Não há nenhuma parte de um ser humano pela que não tenha passado.
Por isso é indispensável que o homem receba a vida de Deus. A salvação não pode chegar por uma reforma humana porque «a morte» é irreparável. O pecado tem que ser julgado antes de que possa haver resgate da morte para os homens. Isto é exatamente o que tem feito a salvação do Senhor Jesus.
Mas como o pecado está em sua humanidade, a morte do homem não pode expiar por seu próprio pecado. O Senhor Jesus veio e assumiu a natureza do homem, para poder ser julgado em lugar da humanidade. Não corrompida pelo  pecado, sua santa natureza humana pôde deste modo expiar pela humanidade pecadora por meio da morte. Morreu como substituto, sofreu todo o castigo do pecado e ofereceu sua vida como resgate por muitos. Como conseqüência, todo aquele que crê nEle já não será julgado (Jo. 5:24).
Quando o Verbo se fez carne, levava em si toda carne. Assim como a ação de um homem, Adão, representa a ação de toda a humanidade, a obra de um homem, Cristo, representa a obra de todos. Temos que ver quão completa é a obra de Cristo antes de poder compreender o que é a redenção. Por que o pecado de um homem, Adão, é julgado como o pecado de todos os homens passados e presentes? Adão é o cabeça da humanidade da qual vieram ao mundo todos os demais homens. De uma forma similar, a obediência de um homem, Cristo, faz-se justiça de muitos, passados e presentes, posto que Cristo constitui o cabeça de uma nova humanidade, originada por um novo nascimento.

Como a humanidade tem que ser julgada, o Filho de Deus — o homem Jesus Cristo — sofreu em seu espírito, alma e corpo sobre a cruz pelos pecados do mundo.
Examinemos primeiro seus sofrimentos físicos. O homem peca por meio de seu corpo, e neste desfruta do prazer temporário do pecado. Em conseqüência, o corpo tem que ser o destinatário do castigo. Quem pode sondar os sofrimentos físicos do Senhor Jesus na cruz?). Suas mãos, seus pés, sua testa, seu flanco, seu coração, todos foram transpassados pelos homens, transpassados pela humanidade pecadora e transpassados para a humanidade pecadora. Muitas foram suas feridas e muito lhe subiu a febre, porque com o peso de todo seu corpo pendurando na cruz sem nenhum apoio, seu sangue não podia circular livremente. Passou muita sede e por isso gritou: «A língua se me pega ao paladar.»  «Como tinha sede me deram vinagre para beber» (Sl. 22:15; 69:21). As mãos têm que ser cravadas porque vão atrás do pecado. A boca tem que sofrer porque sente prazer em pecar. Os pés têm que ser transpassados porque pecam à vontade. A testa tem que ser coroada com uma coroa de espinhos porque também quer pecar. Tudo o que o corpo humano tinha que sofrer se cumpriu em Seu corpo. Desta maneira sofreu fisicamente até a morte.
Estava em sua mão livrar-se destes sofrimentos, mas voluntariamente ofereceu seu corpo para suportar todas as insondáveis provações e dores sem acovardar-se nem um momento até que soube que «tudo estava consumado» (Jo. 19:28). Só então entregou seu espírito.
Não só seu corpo; sua alma também sofreu. A alma é o órgão da própria consciência. Antes de ser crucificado, deram a Cristo vinho misturado com mirra como calmante para mitigar a dor, mas Ele o rejeitou porque não estava disposto a aceitar nenhum sedativo mas sim a estar plenamente consciente do sofrimento. As almas humanas desfrutaram plenamente do prazer dos pecados; por conseguinte, Jesus ia suportar em sua alma a dor destes pecados. Preferiu beber a taça que Deus lhe deu do que a taça que anestesiaria sua consciência.

A Bíblia traz o relato de que os soldados ficaram a roupa do Senhor Jesus (Jo. 19:23). Estava quase nu quando o crucificaram. Esta é uma das vergonhas da cruz. O pecado nos tira nossa veste radiante e nos deixa nus. Nosso Senhor foi despido diante de Pilatos e logo depois de novo no Calvário. Como reagiu sua santa alma diante de semelhante mau trato? Acaso não era um insulto à santidade de sua personalidade e uma vergonha? Quem pode sondar seus sentimentos naquele trágico momento? Como todos os homens tinham desfrutado da glória aparente do pecado, o Salvador tinha que suportar a autêntica vergonha do pecado. «Verdadeiramente (Deus) cobriste-o de vergonha.... com que os teus inimigos, ó Senhor, têm difamado os passos do teu ungido.»; e até «suportou a cruz, desprezando a vergonha» (Sl. 89:45, 51; At. 12:2). 

Ninguém poderá jamais constatar o muito que sofreu a alma do Salvador na cruz. Contemplamos frequentemente seus sofrimentos físicos, mas passamos por cima dos sentimentos de sua alma. Uma semana antes da Páscoa o ouviram dizer: «Agora a minha alma está perturbada» (Jo. 12:27). Isto assinala a cruz. No Jardim do Getsêmani o ouviram de novo dizer: «A minha alma está triste até a morte» (Mt. 26:38). Se não fosse por estas palavras quase não poderíamos pensar que sua alma tinha sofrido.
 Seu espírito também sofreu terrivelmente. O espírito é a parte do homem que o equipa para comunicar-se intimamente com Deus. O Filho de Deus era santo, inocente, imaculado, separado do pecado. Seu espírito estava unido ao Espírito Santo em perfeita unidade. Nunca teve seu espírito um momento de perturbação nem de dúvida, porque sempre teve a presença de Deus com Ele. Jesus disse: «Não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou... E aquele que me enviou está comigo» (Jo. 8:16, 29). Por isso pôde orar: «Pai, graças te dou, porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves» (Jo. 11:41,42).Por um lado, o Espírito Santo de Deus o abandonou. Por outro, o espírito diabólico de Satanás o ridicularizou. Parece que o Salmo 22:11-13 se refere a esta fase: «Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem acuda. Muitos touros me cercam; fortes touros de Basã me rodeiam. Abrem contra mim sua boca, como um leão que despedaça e que ruge..»
Agora nossa humanidade pecadora foi julgada totalmente porque foi julgada na humanidade sem pecado do Senhor Jesus. Nele, a humanidade santa conquistou sua vitória. Toda sentença sobre o corpo, a alma e o espírito dos pecadores foi lançada sobre Ele. Ele é nosso representante. Por fé estamos unidos a Ele. Sua morte é considerada como nossa morte, e sua sentença como nossa sentença. Nosso espírito, alma e corpo foram julgados e castigados nele. Seria o mesmo que se tivéssemos sido castigados em pessoa.






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