quinta-feira, 28 de março de 2013
terça-feira, 26 de março de 2013
segunda-feira, 25 de março de 2013
As coisas da carne
A carne tem muitas saídas. Aprendemos que é hostil a Deus e não pode Lhe agradar de nenhum modo. Entretanto, nem o crente nem o pecador podem avaliar genuinamente a absoluta inutilidade, perversidade e contaminação da carne da maneira que o vê Deus, se não o mostra o Espírito Santo. Só quando Deus, por seu Espírito, revela ao homem a verdadeira condição da carne tal como Deus a vê, pode o homem enfrentar-se com sua carne.
As manifestações da carne são
bem conhecidas. Se um homem for rigoroso consigo mesmo e se negar a seguir,
como costumava, «os desejos do corpo e da mente» (Ef. 2:3), se dará conta com
facilidade de quão sujas são estas manifestações. A carta do Paulo aos Gálatas
dá uma lista destes pecados da carne para que ninguém se possa confundir:
«Ora, as obras da carne são
manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria,
a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as
dissensões, os partidos (literalmente, "seitas"), as invejas, as
bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos
previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não
herdarão o reino de Deus.» (5:19-21).
Podemos dividir estas obras
da carne em cinco grupos:
1) pecados que mancham o
corpo, tais como a imoralidade, a impureza, a libertinagem;
2) comunicações sobrenaturais
pecaminosas com as forças satânicas, tais como a idolatria, a bruxaria;
3) temperamento pecaminoso e
suas peculiaridades, tais como inimizade, lutas, ciúmes, ira;
4) seitas e bandos
religiosos, tais como o egoísmo, as dissensões, o espírito partidarista, a
inveja; e
5) lascívia, tais como a embriaguez
e as orgias. Cada uma destas é facilmente observável. Os que as fazem são da carne.
Nestes cinco grupos
distinguimos alguns pecados que são menos pecaminosos e outros que sujam mais,
mas apesar de que possamos considerá-los mais repugnantes ou mais refinados,
Deus revela que todos têm a mesma procedência: a carne. Aqueles que cometem com
freqüência os pecados mais degradantes sabem que são da carne; entretanto, como
é difícil para os que triunfam sobre estes pecados relativamente mais degradantes,
reconhecer que são carnais!
O primeiro passo na obra do
Espírito Santo é nos convencer e nos declarar culpados de nossos pecados. Assim
como sem a iluminação do Espírito Santo um pecador nunca verá a maldade de seu
pecado e não fugirá da ira futura para a obediência de Cristo, também um crente
precisa ver seu pecado pela segunda vez. Um cristão deveria reprovar a si mesmo
pelo seu pecado. Como poderá ser espiritual se não se der conta de toda a
perversa e desprezível que é sua carne e não se detesta a si mesmo? Oh, seja
como for que pequemos, continuamos pertencendo à carne! Agora é o momento de
nos prostrar humildemente diante de Deus, dispostos a que o Espírito Santo nos convença
de novo de nossos pecados.
O espírito, a alma e o corpo depois da queda
Adão vivia pelo fôlego de
vida que se fez espírito nele. Por meio do espírito, recebia Deus, conhecia a
voz de Deus e tinha comunhão íntima com Deus. Era profundamente consciente de
Deus. Mas, depois da queda, seu espírito morreu.
O que é realmente a morte?
Segundo a definição científica, a morte é «o afastamento da comunicação com o
meio ambiente». A morte do espírito é o afastamento de
sua comunicação com Deus.
A morte do
corpo é a interrupção da comunicação entre o espírito e o corpo. Assim, quando
dizemos que o espírito está morto, não implica que já não haja espírito. Só queremos dizer que o espírito
perdeu sua sensibilidade para Deus e por isso está morto para Ele. A situação exata é que o espírito está incapacitado, é
incapaz de ter comunhão íntima com Deus.
O pecado destruiu o
profundo conhecimento intuitivo que o espírito tinha de Deus e tem feito o
homem espiritualmente morto. Pode ser
religioso, moral, erudito, capaz, forte e sábio, mas está morto para Deus.
Inclusive pode falar de Deus, raciocinar a respeito de Deus e pregar sobre
Deus, mas continua estando morto para Ele. O homem não pode ouvir ou perceber a
voz do Espírito de Deus. Em conseqüência, Deus, no Novo Testamento, chama
freqüentemente mortos aos que estão vivos na carne.
A morte que começou no espírito de nosso antepassado se
estendeu gradualmente até alcançar seu corpo. Seu corpo, que poderia ter sido transformado e glorificado,
em vez disso voltou para o pó. Como seu homem interior tinha caído no caos, seu
homem exterior devia morrer e ser destruído.
O escritor de Hebreus afirma em 4:12 que a Palavra de Deus
transpassará e separará a alma e o espírito. A
separação é necessária porque o espírito e a alma se tornaram um. Enquanto
estão intimamente unidos, submergem o homem em um mundo físico. Tudo se
faz seguindo os ditados do intelecto ou do sentimento. O espírito perdeu seu poder e sua sensibilidade, como se estivesse totalmente adormecido. O instinto que ainda tenha para conhecer e servir a
Deus está completamente paralisado. Permanece em coma, como se não existisse. É
a isto que se refere Judas 19 quando diz «natural, sem espírito» (literal).* Claro está que isto não significa que o
espírito humano deixe de existir, porque Números 16:22 afirma claramente que
Deus é «o Deus dos espíritos de toda carne». Todo ser humano
continua possuindo um espírito, embora esteja obscurecido pelo pecado e
impotente para ter comunhão com Deus.
Embora este espírito esteja
morto para Deus, pode permanecer tão ativo como a mente ou o corpo. Deus o
considera morto, mas ainda é muito ativo em outros aspectos. Em algumas
ocasiões, o espírito de um homem caído pode inclusive ser mais forte que sua
alma ou seu corpo, e pode conseguir o domínio sobre todo o ser. Estas pessoas
são «espirituais», da mesma maneira que a maioria das pessoas são anímicas ou
físicas em sua major parte porque seus espíritos são maiores que os das outras
pessoas. Estes são as bruxas e os feiticeiros. É certo que mantêm contato com o
mundo espiritual, mas o fazem por meio de espíritos diabólicos, não pelo
Espírito Santo. Deste modo, o espírito do homem caído se alia com Satanás e
seus espíritos diabólicos. Está morto para Deus, mas certamente muito vivo para
Satanás e segue aos espíritos diabólicos que trabalham nele.
Ao ceder às exigências de suas
paixões e desejos carnais, a alma se converteu em escrava do corpo, de maneira
que o Espírito Santo não tem oportunidades para lutar com o objetivo de
recuperá-la para Deus. Por isso a Bíblia afirma: «O meu Espírito não permanecerá
para sempre no homem, porquanto ele é carne» (Gn. 6:3).
A Bíblia diz da carne que é a combinação da alma não regenerada e da vida
física, embora a maioria das vezes assinale o pecado que está na carne. Uma vez que o homem está sob o domínio
da carne, não tem nenhuma possibilidade de libertar-se. A alma substituiu à
autoridade do espírito. Tudo se faz independentemente e segundo os ditados de
sua mente. Inclusive em assuntos religiosos, na mais apaixonada busca de Deus,
tudo se leva a cabo com a força e a vontade da alma do homem, carente da
revelação do Espírito Santo.
A alma não é simplesmente independente do espírito, mas, além disso, está sob o controle do corpo. Lhe pede que obedeça, que execute e que satisfaça os desejos carnais, as paixões e as demandas do corpo. Assim, todo filho de Adão não só está morto em seu espírito, mas sim também é «da terra, um homem do pó» (1 Co. 15:47).
1 Coríntios 2:14 fala destas
pessoas não regeneradas da seguinte maneira: «O homem natural (anímico) não
recebe os dons espirituais de Deus porque para ele são loucura, e não pode
compreendê-los porque se discernem espiritualmente.» Estes homens se encontram
sob o controle de suas almas e com seus espíritos reprimidos contrastam
totalmente com as pessoas espirituais. Podem ser portentosamente inteligentes, capazes
de apresentar idéias e teorias com autoridade, mas não admitem as coisas do
Espírito de Deus. Não estão capacitados para receber a revelação do Espírito
Santo. Esta revelação é absolutamente diferente das idéias humanas. Os homens
podem pensar que o intelecto e o raciocínio humanos são todo-poderosos, que o
cérebro pode compreender todas as verdades do mundo, mas o veredicto da Palavra
de Deus é: «vaidade de vaidades».
Quão certo é que, sem a
direção do Espírito Santo, o intelecto não somente é pouco confiável, mas também é extremamente perigoso, porque
freqüentemente confunde o bom e o mau. Um ligeiro descuido pode provocar, não
simplesmente uma perda temporária, mas inclusive um dano eterno. A mente
obscurecida do homem freqüentemente o leva à morte eterna. Se as almas não
regeneradas pudessem ver isso, que bom seria!
No entanto o homem carnal
pode controlar outra coisa além da alma: também pode estar sob a direção do
corpo, porque a alma e o corpo estão fortemente entrelaçados. Como o corpo do
pecado abunda em desejos e paixões, o homem pode cometer os pecados mais
espantosos. O corpo vem do pó e por isso
sua tendência natural é para a terra. A introdução do veneno da serpente no
corpo do homem converte todos seus desejos legítimos em desejos carnais. Uma
vez que a alma cedeu diante do corpo, ao desobedecer a Deus, encontra-se
obrigada a ceder sempre. Os baixos desejos do corpo podem desse modo
expressar-se através da alma. O poder do corpo se torna tão entristecedor que a
alma não pode fazer outra coisa que converter-se em uma escrava obediente. coisa que converter-se em uma
escrava obediente.
O plano de Deus para o
espírito era que tivesse a preeminência, que governasse nossa alma. Mas uma vez
que o homem se torna carnal, seu espírito fica escravizado à alma. A degradação
aumenta quando o homem se torna «corporal» (do corpo), porque o corpo, que é
mais baixo, sobe até ser o soberano.
Então o
homem desceu do «controle do espírito» ao «controle da alma», e do «controle da
alma» ao «controle do corpo». Cada vez se afunda mais e mais. Que lamentável é
quando a carne consegue o domínio
* Aqui o espírito não é o
Espírito Santo mas sim o espírito humano, porque vai precedido da palavra
«natural», que literalmente é «anímico». Como «anímico» corresponde ao homem,
então aqui «espírito» também corresponde ao homem.
sexta-feira, 22 de março de 2013
O conflito entre o novo e o velho
É essencial a uma pessoa regenerada que compreenda o que
obteve com o novo nascimento e o que persiste de seus dotes naturais. Esse
conhecimento a ajudará em sua peregrinação espiritual. Neste ponto pode ser útil explicar tudo o que é
entendido da carne do homem e também a maneira com que o Senhor Jesus trata com
os componentes dessa carne, em sua redenção. Em outras palavras, o que herda um
crente na regeneração?
A regeneração bíblica é um
nascimento pelo qual a parte mais íntima do ser do homem, o espírito,
profundamente oculto, é renovado e habitado pelo Espírito de Deus. Tem que
passar um tempo até que o poder desta nova
vida alcance o exterior: ou seja, até que se estenda do centro até a
circunferência. Por isso não podemos esperar encontrá-lo forte nos jovens nem a
experiência dos pais, manifestadas na vida de um bebê em Cristo. Embora um
crente recentemente nascido possa comportar-se fielmente, amando ao Senhor e
distinguindo-se com seu zelo, ainda necessita tempo para ter ocasião de saber
mais da maldade do pecado e do eu e para saber mais da vontade de Deus e dos
caminhos do Espírito. Por muito que possa amar ao Senhor ou amar à verdade,
este novo crente ainda anda no mundo dos sentimentos e dos pensamentos e ainda
não foi provado nem refinado com fogo.
Um cristão recém-nascido não
pode evitar ser carnal. Embora esteja cheio do Espírito Santo, mesmo assim não
conhece a carne. Como pode alguém ser libertado das obras da carne se não
reconhecer que essas obras nascem da carne? Por isso, considerando sua
autêntica condição, os cristãos que são crianças recém-nascidas são em geral da
carne.
A Bíblia não espera que os
novos cristãos sejam espirituais instantaneamente, mas se depois de muitos anos
continuam sendo crianças, então sua situação é verdadeiramente muito
lamentável. Paulo mesmo diz aos coríntios que, no princípio, os tinha tratado
como homens da carne porque eram meninos recém-nascidos em Cristo e que agora —
quando lhes escrevia — deveriam ser já adultos. Em vez disso, tinham esbanjado
suas vidas, continuavam sendo meninos e por isso ainda eram carnais.
quinta-feira, 21 de março de 2013
A salvação de Deus
O apóstolo afirma que «Deus
tem feito o que a lei, debilitada pela carne, não podia fazer: enviando o seu
próprio Filho na semelhança da carne de pecado, e no concernente ao pecado,
condenou o pecado na carne» (Rm. 8:3). Isto revela a situação real da classe
moral de quão carnais sejam, possivelmente estão muito resolvidos a observar a
lei. É verdade que podem estar observando alguns de seus pontos. No entanto,
debilitados pela carne, não podem observar toda a lei.*
Porque a lei deixa muito claro que «o que fizer estas coisas, por elas viverá»
(Gl. 3:12 mencionando Lv. 18:5) ou senão será condenado à perdição.
Alguém pode perguntar: Quanto
da lei, tem que se observar? Toda a lei, porque «o que observa toda a lei, mas
falha em um ponto, faz-se culpado de toda» (Tg. 2:10). «Porque nenhum ser
humano será justificado a seus olhos pelas obras da lei, posto que da lei vem o
conhecimento do pecado» (Rm. 3:20). quanto mais se deseja observar a lei, mais
se descobre quão pecador é e quão impossível é observá-la.
A reação de Deus à pecaminosidade de todos os homens é
ocupar-se Ele mesmo da tarefa da salvação. Seu método é «enviar a seu próprio Filho à semelhança
da carne pecaminosa». Seu Filho é sem pecado, por isso é o único qualificado
para nos salvar. A expressão: «À semelhança da carne pecaminosa»
descreve sua encarnação: como toma um corpo humano e se une com a
humanidade. O único Filho de Deus é mencionado em outro ponto como «o Verbo»
que «se fez carne» (Jo. 1:14). Enquanto viveu na carne, permaneceu
como Filho de Deus e sem pecado. Entretanto, como possui a semelhança da carne pecaminosa,
está estreitamente unido aos pecadores do mundo que vivem na carne.
Como sacrifício pelo pecado, Cristo sofre por todos os que
estão na carne. Mas e o poder do pecado que enche os carnais? «Condenou ao
pecado na carne.» O, que é sem pecado, é feito pecado por nós para que morra
pelo pecado. Ele é «morto na carne» (1 Pe. 3:18). Ao morrer na carne leva à
cruz o pecado na carne. Isto é o que quer dizer a frase «condenou o pecado na carne».
Condenar é julgar ou impor um castigo. O julgamento e o castigo do pecado é a
morte. Por isso o Senhor Jesus dá morte ao pecado em sua carne. Por
conseguinte, podemos ver em sua morte que não só são julgados nossos pecados
mas também inclusive é julgado o próprio pecado. Assim, o pecado já não tem nenhum poder sobre os que se uniram à
morte do Senhor e em conseqüência têm o pecado condenado em sua carne.
A regeneração
A regeneração
A libertação do castigo e do poder do pecado, que Deus dá, se
realiza na cruz de seu Filho. Agora põe
esta salvação diante de todos os homens para que todo o que queira aceitá-la
seja salvo.
Deus sabe que no
homem não há nada bom. Nenhuma carne pode
lhe agradar. Está corrompida sem
possibilidade de reparação. Posto que é tão irremediável, como pode o homem
agradar a Deus depois de ter acreditado, se Ele mesmo não lhe dá algo novo?
Graças a Deus que outorgou uma vida nova, sua vida não criada, aos que
acreditam na salvação do Senhor Jesus e O recebem como seu Salvador pessoal.
Isto se chama «regeneração» ou «novo nascimento». Embora Deus não possa
modificar nossa carne, nos dá sua vida. A carne do homem permanece tão corrupta
nos que nasceram de novo como nos outros. A carne de um santo é tal e qual a de
um pecador. Na regeneração, a carne não se transforma. O novo nascimento não
exerce nenhuma influência sobre a carne. Permanece tal como é.
Deus não nos transmite sua
vida para educar ou adestrar à carne. Ao contrário, a dá a nós para vencer a
carne.
Na regeneração o homem passa a estar vinculado a Deus pelo
novo nascimento. A
regeneração significa nascer de Deus. De maneira que, nossa vida carnal nasce
de nossos pais, nossa vida espiritual nasce de Deus. O significado do
nascimento é «transmitir vida». Quando dizemos que nascemos de Deus, significa
que recebemos uma nova vida dEle. O que recebemos é uma vida autêntica.
* É obvio que deveríamos
observar que há outra classe, reconhecida em Romanos 8:7, que não se preocupa
absolutamente de observar a lei de Deus: «a mente que está assentada na carne é
hostil a Deus; não se submete à lei de Deus, seriamente não pode»).
. A carne e a
salvação
A palavra «carne» é basar
em hebreu e sarx em grego. É usada com freqüência na Bíblia e de diversas
maneiras. O sentido mais significativo, observado e esclarecido nos escritos do
Paulo, faz referência à pessoa não regenerada. Falando de seu velho «eu» diz em
Romanos 7: «sou carnal» (v.14). Não simplesmente é carnal sua natureza ou uma
determinada parte de seu ser. O «eu» — todo o ser de Paulo — é carnal. Reforça
este pensamento no versículo 18 ao afirmar: «dentro de mim, quer dizer, em minha
carne». Se deduz claramente que «carne» na Bíblia assinala a tudo o que é uma
pessoa não regenerada. Em relação a este uso de «carne» temos que recordar que
no princípio o homem foi feito espírito, alma e corpo. Como é a sede da
personalidade e da consciência do homem, a alma está relacionada com o mundo
espiritual por meio do espírito do homem. A alma deve decidir se tem que
obedecer ao espírito, e por conseguinte estar unido a Deus e à sua vontade, ou
se tem que ceder diante do corpo e de todas as tentações do mundo material. Na
queda do homem, a alma se opôs à autoridade do espírito e ficou escravizada ao
corpo e suas paixões. Deste modo o homem se converteu em um homem carnal, não
em um homem espiritual. O espírito do homem foi despojado de sua nobre posição
e foi rebaixado à de um prisioneiro.
Assim, deveríamos destacar
brevemente estas três outras maneiras de usar «carne» na Bíblia.
Primeira, «carne» referindo-se à parte branda do corpo
humano. Sabemos que um corpo humano é composto de carne, ossos e sangue.
A carne é a parte do corpo por meio da qual percebemos o mundo que nos rodeia.
Por conseguinte uma pessoa carnal é uma que segue ao mundo. Vai ter
simplesmente carne, vai atrás da sensação de sua carne.
Segunda, «carne» referindo-se ao corpo humano. Em
termos muito amplos significa o corpo humano tanto vivo como morto. Segundo a
última parte de Romanos 7, o pecado da carne está relacionado com o corpo
humano: «vejo em meus membros outra lei em guerra com a lei de minha mente que faz-me
cativo da lei do pecado que vive em meus membros» (v. 23). Em seguida, o
apóstolo continua no capítulo 8 explicando que se queremos vencer a carne
devemos «dar morte às ações do corpo» por meio do Espírito (v. 13). Por isso a
Bíblia usa a palavra sarx para indicar não só a carne psíquica mas
também a carne física.
Terceira, «carne» referindo-se à totalidade da humanidade. Todos os
homens deste mundo são nascidos da carne, e em conseqüência todos são carnais.
Sem nenhuma exceção, a Bíblia considera todos os homens carne. Todo homem é
controlado pela composição da alma e do corpo que chamamos carne, e vai atrás dos
pecados de seu corpo e do eu de sua alma. Por isso sempre que a Bíblia fala de
todos os homens, sua frase característica é «toda carne». Em conseqüência, basar
ou sarx se referem aos seres humanos em sua totalidade.
Como o homem se torna carne?
1) O que é a carne?
«O
que nasce da carne é carne.» O que nasce da carne? O homem. Por conseguinte
o homem é carne, e tudo o que o homem herda de seus pais pertence à carne.
Não se faz
distinção de se o homem for mau, ímpio, estúpido, inútil e cruel. O homem é carne. Todo o que o homem tem ao nascer pertence à carne e se encontra
dentro desse mundo. Tudo aquilo com que nascemos e o que desenvolvemos
posteriormente fica incluído na carne.
2) Como o homem se torna carne?
«Todo o que nasce da carne é
carne.» O homem não se
torna carnal aprendendo a ser mau com uma prática progressiva do pecado, nem
entregando-se a atos licenciosos, ávido de seguir o desejo de seu corpo e de
sua mente até que finalmente todo ele é vencido e controlado pelas más paixões
de seu corpo. O Senhor Jesus afirmou com ênfase que uma pessoa é carnal
assim que nasce. Isto não é determinado nem por sua
conduta nem por seu caráter. Há uma coisa que é decisiva neste ponto: de
quem nasceu? Todo homem deste mundo foi engendrado de pais humanos e por
conseguinte Deus o considera que é da carne (Gn. 6:3). Como pode alguém que nasce
da carne não ser carne? Segundo a palavra de nosso Senhor, um homem é carne porque nasce do sangue, da vontade da carne
e da vontade do homem (Jo. 1:13) e não pela maneira que viva ele ou seus
pais.
3) Qual é a natureza da carne?
«O que nasce da carne é
carne.» Não existe nenhuma exceção nem distinção. Nem a educação, nem as
melhoras, nem a cultura, nem a moralidade ou a religião podem fazer que o homem
deixe de ser carnal. Nenhuma ação ou poder humano pode
modificá-lo. Se não
for regenerado da carne, permanecerá como carne. Nenhum sistema humano pode
fazer que deixe de ser o que era ao nascer. O Senhor Jesus disse «é»,
pelo que esse assunto ficou decidido para sempre. A carnalidade
de um homem não vai ser determinada por ele mesmo, mas sim por seu nascimento.
Se nascer da carne, todos os planos para sua transformação serão infrutíferos.
Não importa como mude externamente; seja através de uma mudança diária ou de
mudanças bruscas, o homem continua sendo carne tão firmemente como sempre.
A regeneração
O conceito de regeneração
conforme o encontramos na Bíblia fala do processo de passar da morte para a
vida. O espírito de um homem antes da regeneração está afastado de Deus e é
considerado morto, porque a morte é a dissociação da vida e de Deus, que é a
fonte da vida. Em conseqüência, a morte é a separação de Deus. O espírito do
homem está morto e por conseguinte é incapaz de ter comunhão íntima com Ele. Ou
sua alma o controla e o submerge em uma vida de idéias e imaginações, ou os
desejos carnais e os costumes de seu corpo o estimulam e reduzem a sua alma à
escravidão.
O espírito do homem tem que ser avivado porque nasceu morto.
O novo nascimento de que falou o Senhor Jesus com Nicodemos é o novo nascimento
do espírito. É obvio que não é um nascimento físico como acreditava Nicodemos,
nem tampouco anímico. Devemos nos fixar cuidadosamente em que o novo nascimento
transmite a vida de Deus ao espírito do homem. . O novo nascimento é algo que acontece totalmente no
espírito: não tem nenhuma relação com a alma ou o corpo.
A alma do homem não está relacionada diretamente com Deus.
Segundo a Bíblia é seu espírito que tem relação com Deus. Deus é Espírito, e em
conseqüência todos os que o adoram devem adorá-lo em espírito.
Em vista deste fato, recordemos que Deus decretou que tratará
com o homem unicamente por meio de seu espírito e que terá que levar a cabo
seus conselhos por meio do espírito do homem.
A vida de uma pessoa não regenerada está quase por inteira
governada pela alma. Pode estar vivendo com temor, curiosidade, alegria,
orgulho, piedade, prazer, delícia, estranheza, vergonha, amor, arrependimento,
gozo. Ou pode estar cheia de ideais, imaginações, superstições, dúvidas, suposições,
interrogações, induções, deduções, análise, introspecções. Ou pode ser impulsionada
— pelo desejo de poder, reconhecimento social, riqueza, liberdade, posição,
fama, glória, conhecimento — a tomar decisões atrevidas, a entrar pessoalmente
em compromissos, a expressar opiniões obstinadas, ou inclusive a resistir a
testes pacientemente.
O novo nascimento bíblico acontece
em uma área muito mais profunda que o corpo ou a alma humana, sim, é no
espírito do homem onde recebe a vida de Deus por meio do Espírito Santo.
Antes da regeneração, a alma
do homem controla a seu espírito, enquanto seu próprio «eu» governa a sua alma
e sua paixão governa a seu corpo. A alma se converteu na vida do corpo. Na regeneração,
o homem recebe a própria vida de Deus em
seu espírito e nasce de Deus. Em conseqüência disso, agora o Espírito Santo
governa o espírito do homem, que, por sua vez, é equipado para recuperar o controle
sobre sua alma e, por meio da alma, governar seu corpo. Como o Espírito Santo
se converte na vida do espírito do homem, este se converte na vida de todo o
ser do homem. O espírito, a alma e o corpo são restaurados segundo o propósito
original de Deus para toda pessoa nascida de novo.
Tem que usar sua fé para
comprometer-se — seu espírito, alma e corpo — na união com o Senhor Jesus. Quer
dizer, tem que considerar a morte do Senhor Jesus como sua própria morte e a ressurreição
do Senhor Jesus como sua própria ressurreição. Este é o significado de João
3:16: «Todo aquele que nele (literalmente) crê, não pereça mas tenha vida
eterna.» O pecador deve ter fé e acreditar no Senhor Jesus. Ao fazê-lo, se une
a Ele em sua morte e ressurreição e recebe a vida eterna (Jo. 17:3) — que é a
vida espiritual — para sua regeneração.
A regeneração
A regeneração
A libertação do castigo e do poder do pecado, que Deus dá, se
realiza na cruz de seu Filho. Agora põe
esta salvação diante de todos os homens para que todo o que queira aceitá-la
seja salvo.
Deus sabe que no
homem não há nada bom. Nenhuma carne pode
lhe agradar. Está corrompida sem
possibilidade de reparação. Posto que é tão irremediável, como pode o homem
agradar a Deus depois de ter acreditado, se Ele mesmo não lhe dá algo novo?
Graças a Deus que outorgou uma vida nova, sua vida não criada, aos que
acreditam na salvação do Senhor Jesus e O recebem como seu Salvador pessoal.
Isto se chama «regeneração» ou «novo nascimento». Embora Deus não possa
modificar nossa carne, nos dá sua vida. A carne do homem permanece tão corrupta
nos que nasceram de novo como nos outros. A carne de um santo é tal e qual a de
um pecador. Na regeneração, a carne não se transforma. O novo nascimento não
exerce nenhuma influência sobre a carne. Permanece tal como é.
Deus não nos transmite sua
vida para educar ou adestrar à carne. Ao contrário, a dá a nós para vencer a
carne.
Na regeneração o homem passa a estar vinculado a Deus pelo
novo nascimento. A
regeneração significa nascer de Deus. De maneira que, nossa vida carnal nasce
de nossos pais, nossa vida espiritual nasce de Deus. O significado do
nascimento é «transmitir vida». Quando dizemos que nascemos de Deus, significa
que recebemos uma nova vida dEle. O que recebemos é uma vida autêntica.
LIVRO. O HOMEM ESPIRITUAL - Watchman Nee
O julgamento do Calvário
A morte entrou no mundo por
meio da queda do homem. Aqui se faz referência à morte espiritual que separa o
homem de Deus. Entrou por meio do pecado no princípio e continuou fazendo-o
desde então. A morte sempre chega através do pecado. Notemos o que nos diz
Romanos 5:12 sobre este assunto. Em primeiro lugar, que «o pecado entrou no
mundo por meio de um homem». Adão pecou e introduziu o pecado no mundo.
Segundo, que «a morte (entrou no mundo) através do pecado». A morte é o resultado invariável do pecado. E, finalmente,
que como conseqüência «a morte se estendeu a todos os homens porque todos os
homens pecaram». A morte não «se estendeu a» ou «passou aos homens simplesmente,
mas sim literalmente «passou para todos os homens». A morte impregnou o
espírito, o alma e o corpo de todos os homens. Não há nenhuma parte de um ser
humano pela que não tenha passado.
Por isso é indispensável que o homem receba a vida de Deus. A
salvação não pode chegar por uma reforma humana porque «a morte» é irreparável.
O pecado tem que ser julgado antes de que possa haver resgate da morte para os
homens. Isto é exatamente o que tem feito a salvação do Senhor Jesus.
Mas como o pecado está
em sua humanidade, a morte do homem não pode expiar por seu próprio pecado. O
Senhor Jesus veio e assumiu a natureza do homem, para poder ser julgado em
lugar da humanidade. Não corrompida pelo pecado, sua santa natureza humana pôde deste
modo expiar pela humanidade pecadora por meio da morte. Morreu como substituto,
sofreu todo o castigo do pecado e ofereceu sua vida como resgate por muitos.
Como conseqüência, todo aquele que crê nEle já não será julgado (Jo. 5:24).
Quando o Verbo se fez carne, levava em si toda carne. Assim
como a ação de um homem, Adão, representa a ação de toda a humanidade, a obra
de um homem, Cristo, representa a obra de todos. Temos que ver quão completa é
a obra de Cristo antes de poder compreender o que é a redenção. Por que o
pecado de um homem, Adão, é julgado como o pecado de todos os homens passados e
presentes? Adão é o cabeça
da humanidade da qual vieram ao mundo todos os demais homens. De uma forma
similar, a obediência de um homem, Cristo, faz-se justiça de muitos, passados e
presentes, posto que Cristo constitui o cabeça de uma nova humanidade,
originada por um novo nascimento.
Como a humanidade
tem que ser julgada, o Filho de Deus — o homem Jesus Cristo — sofreu em seu
espírito, alma e corpo sobre a cruz pelos pecados do mundo.
Examinemos primeiro seus sofrimentos físicos. O homem peca
por meio de seu corpo, e neste desfruta do prazer temporário do pecado. Em
conseqüência, o corpo tem que ser o destinatário do castigo. Quem pode sondar os
sofrimentos físicos do Senhor Jesus na cruz?). Suas mãos, seus pés, sua testa, seu flanco, seu coração, todos foram
transpassados pelos homens, transpassados pela humanidade pecadora e
transpassados para a humanidade pecadora. Muitas foram suas feridas e muito lhe
subiu a febre, porque com o peso de todo seu corpo pendurando na cruz sem
nenhum apoio, seu sangue não podia circular livremente. Passou muita sede e por
isso gritou: «A língua se me pega ao paladar.» «Como tinha sede me deram vinagre para beber»
(Sl. 22:15; 69:21). As mãos têm que ser cravadas porque vão atrás do pecado. A boca
tem que sofrer porque sente prazer em pecar. Os pés têm que ser transpassados
porque pecam à vontade. A testa tem que ser coroada com uma coroa de espinhos
porque também quer pecar. Tudo o que o corpo humano tinha que sofrer se cumpriu
em Seu corpo. Desta maneira sofreu fisicamente até a
morte.
Estava em sua mão
livrar-se destes sofrimentos, mas voluntariamente ofereceu seu corpo para
suportar todas as insondáveis provações e dores sem acovardar-se nem um momento
até que soube que «tudo estava consumado» (Jo. 19:28). Só então entregou seu
espírito.
Não só seu corpo; sua alma também sofreu. A alma é o órgão da
própria consciência. Antes de ser crucificado, deram a Cristo vinho misturado
com mirra como calmante para mitigar a dor, mas Ele o rejeitou porque não
estava disposto a aceitar nenhum sedativo mas sim a estar plenamente consciente
do sofrimento. As almas humanas desfrutaram plenamente do prazer dos pecados; por
conseguinte, Jesus ia suportar em sua alma a dor destes pecados. Preferiu beber
a taça que Deus lhe deu do que a taça que anestesiaria sua consciência.
A Bíblia traz o relato de que
os soldados ficaram a roupa do Senhor Jesus (Jo. 19:23). Estava quase nu quando
o crucificaram. Esta é uma das vergonhas da cruz. O pecado nos tira nossa veste
radiante e nos deixa nus. Nosso Senhor foi despido diante de Pilatos e logo
depois de novo no Calvário. Como reagiu sua santa alma diante de semelhante mau
trato? Acaso não era um insulto à santidade de sua personalidade e uma
vergonha? Quem pode sondar seus sentimentos naquele trágico momento? Como todos
os homens tinham desfrutado da glória aparente do pecado, o Salvador tinha que
suportar a autêntica vergonha do pecado. «Verdadeiramente (Deus) cobriste-o de
vergonha.... com que os teus inimigos, ó Senhor, têm difamado os passos do teu
ungido.»; e até «suportou a cruz, desprezando a vergonha» (Sl. 89:45, 51; At.
12:2).
Ninguém poderá jamais
constatar o muito que sofreu a alma do Salvador na cruz. Contemplamos
frequentemente seus sofrimentos físicos, mas passamos por cima dos sentimentos
de sua alma. Uma semana antes da Páscoa o ouviram dizer: «Agora a minha alma
está perturbada» (Jo. 12:27). Isto assinala a cruz. No Jardim do Getsêmani o
ouviram de novo dizer: «A minha alma está triste até a morte» (Mt. 26:38). Se
não fosse por estas palavras quase não poderíamos pensar que sua alma tinha
sofrido.
Agora nossa
humanidade pecadora foi julgada totalmente porque foi julgada na humanidade sem
pecado do Senhor Jesus. Nele, a humanidade santa conquistou sua vitória. Toda
sentença sobre o corpo, a alma e o espírito dos pecadores foi lançada sobre
Ele. Ele é nosso representante. Por fé estamos unidos a Ele. Sua morte é
considerada como nossa morte, e sua sentença como nossa sentença. Nosso
espírito, alma e corpo foram julgados e castigados nele. Seria o mesmo que se tivéssemos
sido castigados em pessoa.
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