Mas o que vem a ser o “Chikow”?
O doutrina Kung Fu leva em consideração a existência de três
formas de energia. A energia “li”, que é definida como sendo a nossa força
física, a força muscular propriamente dita, e que gera a capacidade de
realizar qualquer trabalho. A energia “wei” é aquela que nós, aqui no
Ocidente, entendemos como aura. É basicamente o resultado dos processos
bioquímicos e biofísicos do organismo.
E a energia “chi”. Esta última é a chamada “energia
adormecida” e acredita-se que ela esteja concentrada no plexo solar, quatro
dedos abaixo do umbigo. O seu símbolo é o de uma serpente enrolada, que também
é muito difundido na Yoga e no Tantra Yoga.
A serpente é uma figura muito respeitada na China, e
representa Poder. Aliás, o Hu Lai Shien, ou estilo do “Punho da
Serpente Sagrada”, é um dos mais temidos na China. A “serpente adormecida”, ou “chi”,
é a forma mais poderosa de energia do ser humano.
Compreendido isto teoricamente é necessário aprender a
liberá-la. Caso contrário ela ficará sempre fora de uso. Realmente como uma
serpente enrolada, adormecida, inerte. Para isso são as técnicas de “Chikow”.
“Chi” quer dizer energia; “kow” é movimento. Literalmente falando, “Chikow”
é “energia em movimento”. Essas técnicas possibilitam fazer circular e,
por fim, canalizar a energia “chi”.
Para que o “chi” circule é necessário que os chakras
estejam desimpedidos. O que eu aprendi no Kung Fu acerca deles, mesmo antes de
conhecer Marlon, foi muito semelhante ao que mais tarde aprenderia na Escola.
Mas até então eu não tinha visto com muito interesse os resultados imediatos da
técnica, como quebrar tábuas e tijolos.
“Para quê isso?!”, eu me indagava, mais interessado nas
armas e na arte em si do que naquela demonstração de força bruta.
Mas agora entendia melhor os conceitos relacionados aos
chakras, ou melhor, aos Portais. E passei a ter uma expectativa
totalmente diferente. A Irmandade me abrira a visão. E o que antes era pura
demonstração de brutalidade ganhou um novo colorido.
Resolvi me dedicar bem mais seriamente ao “Chikow”.
Em primeiro lugar, antes de pensar em fazer circular o “chi”
com intuito de canalizá-lo os chakras têm que estar liberados. Para que isso
aconteça é preciso seguir corretamente algumas normas disciplinares. A primeira
delas é a dieta. Os orientais acreditam que uma dieta composta basicamente de
vegetais, ervas, folhas e raízes é indispensável. A carne — especialmente a
vermelha — obstrui os chakras e impede a plena circulação de energia. Nos
Templos orientais antigos, como o Templo Shaolin, e também nos templos
zen-budistas, a alimentação continha muito arroz e vegetais, mas quase nunca
carne.
Dessa forma a dieta era condição indispensável caso
quiséssemos realmente nos aprimorar na técnica de “Chikow”. A explicação
até que tem muita lógica. Se nos alimentamos com carne o processo digestivo é
moroso e pode levar até quase doze horas. Pelo menos é o que diz a Medicina
Tradicional Chinesa. Se não ingerirmos carne o tempo de digestão diminui
tremendamente. Cai, por exemplo, para duas ou três horas. O gasto energético é,
portanto, muito menor. Se o indivíduo se alimenta de forma errada três vezes
por dia ele passa vinte e quatro horas sobrecarregando o organismo e
desperdiçando energia. Ao longo do tempo o gasto desnecessário de energia e o
acúmulo de energia negativa causa um desgaste do organismo como um todo
levando à fadiga, envelhecimento precoce e doenças.
O segundo item para aprimorar o “Chikow” tem a ver
com a parte sexual. Experiências sexuais individuais não são permitidas(Mastubação). Estas
levam à perda inútil de grande quantidade de energia. A relação só é permitida
se for “homem-mulher” porque então está havendo troca de energia, e não
desperdício. O que se perde é recebido através do parceiro. Portanto não há
gasto inútil.
Igualmente, se o homem quiser acumular energia pode simplesmente
evitar a consumação do ato. É um conceito fácil de entender: toda a energia
produzida para ser utilizada no clímax da relação sexual ficaria “retida”, “acumulada”,
“guardada”. Funciona mais ou menos como se fosse rodado um dínamo ou carregada
uma bateria com alta força. Quando liberada, esta energia sai como uma explosão.
Esta forma de “carregar” o organismo com energia através do estímulo sexual não
consumado é muito utilizada no Tantra Yoga, principalmente.
Estas eram as principais recomendações: o acúmulo de
energia, a redução dos gastos, e a dieta capaz de favorecer o trânsito
energético através dos chakras.
Entenda-se que nada disso realmente “abre” os chakras,
apenas propicia as condições mais favoráveis possíveis. O que realmente “abre”
o chakra é a técnica específica orientada e realizada por meio do “Chikow”.
Basicamente envolve três aspectos: a respiração, a concentração e a
meditação.
A respiração é somente abdominal. Aprende-se a controlá-la
desta forma com exercícios. Deitados de costas no solo, com uma vareta de bambu
apoiada na região abdominal, procura-se mover apenas a vareta, e não os
pulmões.
Para sentir o fluxo de energia leva bastante tempo. Não é
nada que se consiga na primeira ou na segunda vez, ou em poucas aulas. A
técnica básica se faz através dos exercícios de meditação e concentração. São
vários os estágios a serem percorridos. Aos poucos aprendemos a imaginar e
sentir o fluxo de energia por todo o corpo. As posturas usadas são diversas,
mas basicamente a posição do cavalo fechado (kinhomah — em chinês) e a postura
da árvore, muito utilizada também no Tai-chi-chuan.
Imagina-se uma fonte de água pura, cristalina, jorrando a
partir do plexo solar e que irá percorrer todos os pontos chakras do corpo.
Esta água, sempre jorrando, sobe pelo centro do corpo atravessando o coração,
chega ao pescoço e começa a entrar pelo braço direito, flui e sai pela palma da
mão, que está voltada para cima. É “jogada” e entra pela palma da mão esquerda.
Continua o seu caminho: sobe pelo braço, pelo pescoço, volta para o outro
braço, sai de novo, entra pelo meio das sobrancelhas, sobe pela fronte, desce
pela nuca. Sempre fluindo, em movimentos, rodando, circulando.
A grosso modo é assim que funciona. As sensações
experimentadas são as mais diferentes: começa com um formigamento
principalmente nas mãos, logo nos primeiros estágios. Depois a temperatura do
corpo sofre variações. Ora, sente-se frio; outras vezes, muito calor, a ponto
de suar e ficar todo enrubescido. Estes “sintomas” eram uma prova bastante
palpável de que aquilo tudo não era uma mera alucinação. O Mestre não sugeria
as sensações. Elas apenas aconteciam de forma semelhante com todos.
É óbvio que o “Chikow” só começa a ser ensinado a
partir de um certo nível dentro da caminhada no Kung Fu. O conceito oriental da
coisa é que, em primeiro lugar, temos que moldar o “li”, ou seja, a
força física, o exterior. Apenas bem mais tarde é possível iniciar a moldagem
do “chi”.
Não deixava de ser um “arremedo” da mesma doutrina que iria
aprender no Satanismo: o desenvolvimento do “Chikow” e o pleno domínio
do “chi” leva a atingir o ápice de nosso potencial. Desenvolve a
habilidade até o patamar máximo da capacidade humana. Logicamente o bom
desempenho abrange uma série de “desbloqueios sociais”, por assim dizer. É
preciso reformular conceitos tais como “medo”, “isto ou aquilo machuca”, “não é
possível”, e assim por diante.
Da mesma forma que aprenderia na Irmandade a despir-me de
velhas doutrinas para introjetar outras, no Kung Fu este ensinamento corria
paralelo e apregoava a mesma coisa. Eu conhecia, sim, conhecia muito bem o
ditado chinês que Zórdico utilizara numa das suas primeiras aulas: “Se queres
provar meu chá tens antes que esvaziar tua xícara”.
Não deixava de ser também um ensinamento que colocava o
homem em posição introspectiva e centralizado nele mesmo: “Eu posso, eu faço”.
De fato. O homem faz. Pois ele é energia e pode dominar a energia que existe
nele. Pelo menos, assim eu aprendi. Naturalmente que no Kung Fu ninguém falou
em Entidades de dimensões paralelas para aumentar ainda mais a minha
capacidade. Isto eu tinha o privilégio de conhecer porque o Oculto me fora mais
descortinado do que a eles, meus Mestres de Artes Marciais.
Observar que os conceitos orientais ensinados tinham a ver —
ainda que de forma um pouco mais rudimentar — com o que aprendi na Irmandade,
só me fizeram confirmar ainda mais aquilo como absoluta verdade. E me entregar
de corpo e alma.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ do livro do Daniel Mastral né?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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