quarta-feira, 17 de agosto de 2011


Uma igreja expressão do Reino e não empresa da fé

Texto Bíblico: Atos 20.17-38

Introdução
Ao longo dos anos, a igreja tem sido vista de diversas formas: um clube religioso; um grupo de ação política pressionando contra os males da sociedade; a vitrine de Deus no mundo; um reformatório; um hospital para curar as feridas da alma; uma agremiação de fanáticos religiosos; uma espécie de tábua de salvação; um meio de ganhar dinheiro; o ópio (entorpecente que causa dependência) do povo; uma democracia religiosa que deseja apresentar as regras morais para o mundo; e uma empresa para comercializar os produtos da fé. Apesar de na prática de vida da igreja encontrarmos vários equívocos e inúmeras fraquezas, também percebemos sua influência positiva, a sua poderosa força na defesa do bem e na restauração da dignidade dos seres humanos; sendo luz na escuridão (Mt 5.14,15) e sal para retardar o alastramento da corrupção moral na sociedade (Mt 9.50); atuando como um tempero de alta qualidade para trazer sabor à vida; quebrando as barreiras étnicas e de classes em nome de Cristo, que nos fez um n’Ele (Rm 10.12;12.5); livrando as pessoas do medo, da culpa, da vergonha e da ignorância. A igreja do Senhor não é uma empresa da fé. Seus objetivos são divinos e não humanos. Seus resultados são trabalhados no tempo, mas voltados para a eternidade e sua finalidade principal vai muito além de lucros e bens materiais.
O Senhor Jesus recomendou que a sua igreja construísse tesouros nos céus (Mt 6.19,20), lugar inatingível às ações dos malfeitores. Será então pecado adquirir bens, e levar uma vida mais folgada financeiramente? Claro que não! Mas a motivação principal da igreja não é essa. Não dá para colocar o transitório à frente do permanente, o que perece na frente do imperecível e o que é da terra suplantando o que é do céu. Devemos planejar, trabalhar e construir as coisas daqui, mas não dá para ter o coração nelas (Mt 6.21). No período do Antigo Testamento o sinal de aprovação divina e bênçãos dos céus era a multiplicidade de bens materiais (Gn 12.1-8; Jó 1.1-3); já no tempo da graça, o enfoque volta-se para o caráter cristão (Mt 5.1-10), para o zelo com os salvos (At 4.34,35), para a riqueza espiritual, que se expressa na compaixão e numa nova visão de si e dos fatos da vida (Fp 4.10-19), em que se aprende a contentar-se com o que se tem, percebendo que mais bem-aventurada coisa é dar do que receber (At 20.35b). Como expressão do Reino, a igreja não se preocupa em construir impérios, em fazer grandes aquisições, com suntuosidade e com dinheiro em bancos, mas em investir em pessoas, seu maior patrimônio. Ela proclama a verdade eterna, traz direcionamento para a vida humana e pauta-se pelo evangelho de Cristo, não se desviando dos seus ensinamentos (Gl 1.6-12).

I - Tem líderes e não gerentes

Na igreja de Cristo não há clericalismo, estrutura hierárquica e governo totalitário. A relação não pode ser por imposição, mas deve ser de cordialidade, de parceria, de respeito e de cooperação mútua.
Os gerentes não se encaixam nessa visão. A função deles é de fiscalizar os projetos ou alvos de terceiros, supervisionar o que está em execução e motivar para o cumprimento das metas, visando a uma maior produção e lucratividade. Os líderes são de natureza diferente. Sua visão é de servo. Sua preocupação é com o Reino. Seu investimento é nas pessoas, de valor excedente aos resultados por elas produzidos. Sua maior realização é o crescimento pessoal dos liderados, e pela causa sacrificam a própria vida. Paulo estava de viagem para Jerusalém, desejando contato com os irmãos de Éfeso. Preferiu parar em Mileto e chamar os líderes efésios (At 20.17) para transmitir-lhes uma mensagem visando à preservação de elevada pureza na doutrina e na conduta cristã. O apóstolo proferiu uma aula magistral àqueles líderes: a mensagem que transmitimos precisa ter o respaldo da vida (At 20.18-21). Somos servos dos servos de Cristo e o nosso valor reside em servir e cumprir a missão que nos foi confiada (At 20.24), pois aqueles que servem às reais necessidades do povo servem melhor ao seu Senhor (Mt 25.34-40).
Como expressão do Reino, somos igreja que passa por perigos e privações (2 Co 11.26,27), por incompreensões e injustiças (Mt 5.11,12); que sofre pressões e abatimentos (2Co 4.8,9), mas não foge aos desafios espirituais (At 20.22,23); que anuncia o plano de salvação, mostrando o que Deus oferece, pede aos homens (At 20.27) e cuida de vidas (At 20.28), o maior patrimônio para Deus. O imperecível tesouro é visto no que somos e não no que possuímos.
É missão do líder desafiar a igreja de Deus a ter seus olhos fixados para além das coisas visíveis – nas eternas (2Co 4.16-18); a não desanimar diante das tribulações (2Co 7.4), a ser vigilante para não se ensoberbecer caindo nos laços do maligno (1Pe 5.6-9) e a envolver-se com Deus em consagração e edificação; vivenciando a sua herança entre os santificados (At 20.32), realidade que afasta a ganância e a cobiça, pois a prata e o ouro estão aquém de um coração purificado, da plenitude do Espírito e de uma vida submetida incondicionalmente à vontade de Deus.

II - Tem uma missão integral

No percurso de sua história, a igreja tem apresentado diferentes percepções sobre o sentido e a definição de sua missão no mundo. Não dá para olhar essa missão de forma fracionada, mas coesa e que se apresenta com aspectos diferentes descrevendo a mesma essência. A igreja que evangeliza é a mesma que educa, que louva e que adora e que, em amor sacrifical, desenvolve ações que traduzem de forma prática e concreta o seu amor ao próximo (Lc 4.14-21).
Os líderes de Éfeso foram instruídos quanto a investir e socorrer os que carecem (At 20.34,35), sendo generosos com as pessoas, fato que está perfeitamente de acordo com o espírito e o caráter dos ensinos de Cristo (Lc 6.38).
A missão da igreja deve ser entendida como koinonia, comunhão com Deus e com os homens; relacionamentos de intimidade, de respeito e de valorização; didaskalia, ensinar aos servos de Deus o aprimoramento da fé e a crescer no conhecimento (2Pe 3.18); aproximado-se da Palavra e conhecendo os mistérios de Cristo; poimenia, assistência aos que necessitam de encorajamento espiritual, dar suporte na fé e velar pelos Santos de Deus e diaconia, que é o serviço prestado ao Senhor em todos os níveis. Tudo isso nos mostra que a igreja, expressão do Reino, tem sua visão voltada para o gênero humano (Mc 1.14, 15), viabilizando qualidade de vida na dinâmica do tempo, entendendo que a suprema excelência da riqueza está reservada nos céus (Ef. 1.18; 2.7). O que conquistamos aqui é fruto da bondade de Deus e deve ser empregado para abençoar a nós mesmos e as pessoas que nos cercam; a exaltar e glorificar o nome de Jesus. Não é sábio construir tesouros para o deleite exclusivamente pessoal (1Tm. 6.17) nem esperar em Cristo só para esta vida (1Co 15.19).

III – Não tem adeptos nem celebridades, mas servos

A igreja, expressão do Reino, desenvolve relacionamentos marcados pelo amor e cordialidade espiritual. O apóstolo trabalhou os servos de Cristo, pessoas alcançadas pela graça (Rm 3.24), seladas pelo Espírito (Ef 1.13) e comprometidas com o evangelho. Sua despedida em Mileto foi marcada por oração (At 20.36), lágrimas e tristeza (Atos 20.37,38), mas os líderes se voltaram para as demandas dos ministérios deles em Éfeso, porque eram seguidores de Cristo e não de Paulo, eram servos de Cristo e não adeptos de Paulo e a igreja era de Cristo e não de Paulo ou de homem algum (1Co 1.2). Tem sido lamentável ouvir que as pessoas abrem suas igrejas, negociam essas igrejas e compram franquias, autorização para usar o nome de igreja, que é propriedade de alguém. A igreja pertence exclusivamente a Jesus. É expressão do Reino e não propriedade humana, empresa religiosa ou herança de família.
Na igreja do Senhor, o culto não é show, espetáculo nem programa de auditório; o dirigente não é artista nem apresentador e a igreja não é plateia. O culto precisa ser alegre (Fp 4. 4), reflexivo, uma festa em homenagem a Jesus Cristo; em que não há lugar para celebridades, para os que desejam a atenção e ser o centro das coisas. Só o Senhor é merecedor de toda a honra, louvor e glória (1Tm 1.17; 2Pe 1.17). É distúrbio espiritual e carência de conhecimento bíblico tratar a igreja como não sendo expressão do Reino, comprada por Jesus com preço de sangue (Ef 1.7; Ap 5.9). Usar a influência da liderança para exercer proeminência sobre as pessoas, colocando-se acima delas e puxando todas as luzes só para si (3Jo 1.9-11). É megalomania querer ser além do que se é, ter mais do que os outros e desejar que todos o vejam como celebridade. Para alguns, ser pastor, ternura de Deus para os crentes, não basta. Intitulam-se bispos, não como superintendentes, mas no sentido de hierarquia eclesiástica. Também de apóstolos e patriarcas, o que foge ao padrão da revelação bíblica, que recomenda não ser sábio aos próprios olhos (Rm 12.16) nem se julgar superior aos outros (Fp 2.3). No livro “A crise de integridade”, Warren W. Wiersbe afirma que a igreja tem tido celebridade demais e servos de menos, um número grande de pessoas com muitas medalhas, mas sem cicatrizes. A celebridade religiosa fabrica a mensagem que mais realça a sua popularidade e talvez aumente a sua renda. O servo verdadeiro se preocupa tanto com a sua integridade quanto com a sua mensagem. Para os servos de Cristo, que não são adeptos de homem algum nem desejam ser celebridades nas ribaltas da vida, é confortador lembrar: “importa que ele cresça e eu diminua” (Jo 3.30).

Para pensar e agir

A natureza da igreja é divina e não humana, conquanto seja composta de seres humanos limitados e falhos, mas regenerados, nascidos de novo de semente incorruptível, pela Palavra de Deus (1Pe 1.23). A igreja não tem como seu alvo primeiro construir bens materiais, mas espirituais, apesar de saber que tudo que Deus faz chegar às suas mãos é espiritual, só que o nosso maior empenho deve ser pelo que não perece, mas sem fechar os olhos para melhorar, em todos os níveis, a condição de nossa peregrinação por esta pátria (1Pe 1.17). Se a igreja fosse empresa da fé tinha gerentes; o dono da Razão Social seria figura proeminente, sua missão seria monetária e as pessoas seriam funcionárias e não corpo.
Como igreja, temos demonstrado a grandeza do Senhor? Representamos bem aquele que nos salvou e comissionou para fazermos discípulos de todas as nações (Mt 28.19,20)? A igreja é testemunha de Jesus em todos os lugares, começando em sua Jerusalém e indo até os confins da Terra (At 1.8). A igreja é expressão do reino de Deus, por intermédio dela Ele tempera esse mundo e trabalha na terra os que viverão na eternidade. O domínio de Deus estende-se, por meio da igreja, sobre o mundo e o seu maior patrimônio são as vidas.

Leituras Bíblicas

segunda-feira – 2Coríntios 9.1-13
terça-feira – Atos 8.14-23
quarta-feira – Mateus 20.20-28
quinta-feira – Romanos 16.1-6;17-20
sexta-feira – Lucas 4.14-30
sábado – Efésios 5.1-27
domingo – 1Coríntios 4.1-14 

Um comentário:

  1. Apesar de na prática de vida da igreja encontrarmos vários equívocos e inúmeras fraquezas, também percebemos sua influência positiva, a sua poderosa força na defesa do bem e na restauração da dignidade dos seres humanos; sendo luz na escuridão (Mt 5.14,15) e sal para retardar o alastramento da corrupção moral na sociedade (Mt 9.50); atuando como um tempero de alta qualidade para trazer sabor à vida; quebrando as barreiras étnicas e de classes em nome de Cristo, que nos fez um n’Ele (Rm 10.12;12.5); livrando as pessoas do medo, da culpa, da vergonha e da ignorância

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