quarta-feira, 17 de agosto de 2011


O espírito, a alma e o corpo depois da queda

Adão vivia pelo fôlego de vida que se fez espírito nele. Por meio do espírito, recebia Deus, conhecia a voz de Deus e tinha comunhão íntima com Deus. Era profundamente consciente de Deus. Mas, depois da queda, seu espírito morreu.
Quando Deus falou com Adão, antes de mais nada lhe disse: «o dia em que dela comer (a fruta da árvore do bem e do mal) morrerá» (Gn. 2:17). Mesmo assim, Adão e Eva viveram centenas de anos depois de ter comido a fruta proibida. Evidentemente, isto indica que a morte que Deus tinha anunciado não era física. A morte de Adão começou em seu espírito.
O que é realmente a morte? Segundo a definição científica, a morte é «o afastamento da comunicação com o meio ambiente». A morte do espírito é o afastamento de sua comunicação com Deus.
A morte do corpo é a interrupção da comunicação entre o espírito e o corpo. Assim, quando dizemos que o espírito está morto, não implica que já não haja espírito. Só queremos dizer que o espírito perdeu sua sensibilidade para Deus e por isso está morto para Ele. A situação exata é que o espírito está incapacitado, é incapaz de ter comunhão íntima com Deus. Exemplificando: Uma pessoa muda tem boca e pulmões, mas há algo que falta em suas cordas vocais que o impede de falar. No que se refere à linguagem humana, sua boca pode ser considerada morta. De igual maneira, o espírito de Adão morreu por causa de sua desobediência a Deus. Ainda tinha seu espírito, mas estava morto para Deus porque tinha perdido seu instinto espiritual. E continua sendo assim. O pecado destruiu o profundo conhecimento intuitivo que o espírito tinha de Deus e tem feito o homem espiritualmente morto. Pode ser religioso, moral, erudito, capaz, forte e sábio, mas está morto para Deus. Inclusive pode falar de Deus, raciocinar a respeito de Deus e pregar sobre Deus, mas continua estando morto para Ele. O homem não pode ouvir ou perceber a voz do Espírito de Deus. Em conseqüência, Deus, no Novo Testamento, chama freqüentemente mortos aos que estão vivos na carne.
A morte que começou no espírito de nosso antepassado se estendeu gradualmente até alcançar seu corpo. Embora vivesse muitos anos depois de seu espírito ter morrido, mesmo assim a morte trabalhou sem cessar nele até que morreram seu espírito, sua alma e seu corpo. Seu corpo, que poderia ter sido transformado e glorificado, em vez disso voltou para o pó. Como seu homem interior tinha caído no caos, seu homem exterior devia morrer e ser destruído. Após o que, o espírito de Adão (assim como o espírito de todos seus descendentes) caiu sob a opressão da alma, e, pouco a pouco, se fundiu com a alma e as duas partes ficaram fortemente unidas. O escritor de Hebreus afirma em 4:12 que a Palavra de Deus transpassará e separará a alma e o espírito. A separação é necessária porque o espírito e a alma se tornaram um. Enquanto estão intimamente unidos, submergem o homem em um mundo físico. Tudo se faz seguindo os ditados do intelecto ou do sentimento. O espírito perdeu seu poder e sua sensibilidade, como se estivesse totalmente adormecido. O instinto que ainda tenha para conhecer e servir a Deus está completamente paralisado. Permanece em coma, como se não existisse. É a isto que se refere Judas 19 quando diz «natural, sem espírito» (literal).* Claro está que isto não significa que o espírito humano deixe de existir, porque Números 16:22 afirma claramente que Deus é «o Deus dos espíritos de toda carne». Todo ser humano continua possuindo um espírito, embora esteja obscurecido pelo pecado e impotente para ter comunhão com Deus.
Embora este espírito esteja morto para Deus, pode permanecer tão ativo como a mente ou o corpo. Deus o considera morto, mas ainda é muito ativo em outros aspectos. Em algumas ocasiões, o espírito de um homem caído pode inclusive ser mais forte que sua alma ou seu corpo, e pode conseguir o domínio sobre todo o ser. Estas pessoas são «espirituais», da mesma maneira que a maioria das pessoas são anímicas ou físicas em sua major parte porque seus espíritos são maiores que os das outras pessoas. Estes são as bruxas e os feiticeiros. É certo que mantêm contato com o mundo espiritual, mas o fazem por meio de espíritos diabólicos, não pelo Espírito Santo. Deste modo, o espírito do homem caído se alia com Satanás e seus espíritos diabólicos. Está morto para Deus, mas certamente muito vivo para Satanás e segue aos espíritos diabólicos que trabalham nele.
Ao ceder às exigências de suas paixões e desejos carnais, a alma se converteu em escrava do corpo, de maneira que o Espírito Santo não tem oportunidades para lutar com o objetivo de recuperá-la para Deus. Por isso a Bíblia afirma: «O meu Espírito não permanecerá para sempre no homem, porquanto ele é carne» (Gn. 6:3). A Bíblia diz da carne que é a combinação da alma não regenerada e da vida física, embora a maioria das vezes assinale o pecado que está na carne. Uma vez que o homem está sob o domínio da carne, não tem nenhuma possibilidade de libertar-se. A alma substituiu à autoridade do espírito. Tudo se faz independentemente e segundo os ditados de sua mente. Inclusive em assuntos religiosos, na mais apaixonada busca de Deus, tudo se leva a cabo com a força e a vontade da alma do homem, carente da revelação do Espírito Santo. A alma não é simplesmente independente do espírito, mas, além disso, está sob o controle do corpo. Lhe pede que obedeça, que execute e que satisfaça os desejos carnais, as paixões e as demandas do corpo. Assim, todo filho de Adão não só está morto em seu espírito, mas sim também é «da terra, um homem do pó» (1 Co. 15:47).
Os homens caídos estão sob o domínio total da carne, atuando em resposta aos desejos de sua vida anímica e de suas paixões físicas. São incapazes de ter comunhão íntima com Deus. Às vezes desenvolvem seu intelecto, em outras ocasiões sua paixão, mas o mais freqüente é que desenvolvam tanto seu intelecto como sua paixão. Sem empecilhos, a carne controla firmemente o homem todo.
Isto é o que se expõe no Judas 18 e 19: «escarnecedores, andando segundo as suas ímpias concupiscências.. Estes são os que causam divisões; são sensuais, e não têm o Espírito.». Ser anímico é contrário a ser espiritual. O espírito, nossa parte mais nobre, a parte que pode unir-se a Deus e que deveria governar a alma e o corpo, agora está sob o domínio da alma, essa parte de nós que é mundana em seus motivos e em suas metas. O espírito foi destituído de sua posição original. A condição atual do homem é anormal. Por isso é descrito como se não tivesse espírito. O resultado de ser anímico é tornar-se escarnecedor, perseguir paixões ímpias e criar divisões.
1 Coríntios 2:14 fala destas pessoas não regeneradas da seguinte maneira: «O homem natural (anímico) não recebe os dons espirituais de Deus porque para ele são loucura, e não pode compreendê-los porque se discernem espiritualmente.» Estes homens se encontram sob o controle de suas almas e com seus espíritos reprimidos contrastam totalmente com as pessoas espirituais. Podem ser portentosamente inteligentes, capazes de apresentar idéias e teorias com autoridade, mas não admitem as coisas do Espírito de Deus. Não estão capacitados para receber a revelação do Espírito Santo. Esta revelação é absolutamente diferente das idéias humanas. Os homens podem pensar que o intelecto e o raciocínio humanos são todo-poderosos, que o cérebro pode compreender todas as verdades do mundo, mas o veredicto da Palavra de Deus é: «vaidade de vaidades».
Enquanto o homem está em seu estado anímico freqüentemente percebe a insegurança desta vida e em conseqüência busca a vida eterna do mundo vindouro. Mas, se o faz, continua sem poder desvelar a Palavra de vida com seus muitos raciocínios e teorias. Quão pouco dignos de confiança são os raciocínios humanos!
Com freqüência observamos como pessoas muito inteligentes se chocam em suas diferentes opiniões. As teorias conduzem o homem facilmente  ao engano. São castelos no ar que o afundam na escuridão eterna.
Quão certo é que, sem a direção do Espírito Santo, o intelecto não somente é pouco confiável, mas  também é extremamente perigoso, porque freqüentemente confunde o bom e o mau. Um ligeiro descuido pode provocar, não simplesmente uma perda temporária, mas inclusive um dano eterno. A mente obscurecida do homem freqüentemente o leva à morte eterna. Se as almas não regeneradas pudessem ver isso, que bom seria!
No entanto o homem carnal pode controlar outra coisa além da alma: também pode estar sob a direção do corpo, porque a alma e o corpo estão fortemente entrelaçados. Como o corpo do pecado abunda em desejos e paixões, o homem pode cometer os pecados mais espantosos. O corpo vem  do pó e por isso sua tendência natural é para a terra. A introdução do veneno da serpente no corpo do homem converte todos seus desejos legítimos em desejos carnais. Uma vez que a alma cedeu diante do corpo, ao desobedecer a Deus, encontra-se obrigada a ceder sempre. Os baixos desejos do corpo podem desse modo expressar-se através da alma. O poder do corpo se torna tão entristecedor que a alma não pode fazer outra coisa que converter-se em uma escrava obediente.
O plano de Deus para o espírito era que tivesse a preeminência, que governasse nossa alma. Mas uma vez que o homem se torna carnal, seu espírito fica escravizado à alma. A degradação aumenta quando o homem se torna «corporal» (do corpo), porque o corpo, que é mais baixo, sobe até ser o soberano.
Então o homem desceu do «controle do espírito» ao «controle da alma», e do «controle da alma» ao «controle do corpo». Cada vez se afunda mais e mais. Que lamentável é quando a carne consegue o domínio.
O pecado deu morte ao espírito: por isso a morte espiritual alcança a todos, porque todos estão mortos em pecados e transgressões. O pecado tornou a alma independente: em conseqüência a vida anímica não é mais que uma vida egoísta e obstinada. Finalmente o pecado deu plenos poderes ao corpo: por conseguinte, a natureza pecadora reina por meio do corpo.


* Aqui o espírito não é o Espírito Santo mas sim o espírito humano, porque vai precedido da palavra «natural», que literalmente é «anímico». Como «anímico» corresponde ao homem, então aqui «espírito» também corresponde ao homem.

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