quarta-feira, 27 de julho de 2016

 

COM A PALAVRA, O SÁBIO!

Texto Bíblico: Eclesiastes 1.1


           O nome Eclesiastes vem da tradução para o grego do nome hebraico que consta no primeiro
verso do livro: ת לֶ הֶֹ֣ק (qōheleṯ). O nome qōheleṯ vem da raiz da palavra qahal que significa “aquele que convoca uma assembleia” provavelmente com o intuito de pregar para ela. Daí, algumas traduções deste livro para “O Pregador”.
         A tradição bíblica cristã, na sua grande maioria, identifica como sendo de Salomão, a autoria dos três livros: Cântico dos Cânticos, Provérbios e Eclesiastes. Alguns já acham que apenas foi o grande inspirador dos mesmos, no entanto, outra pessoa escreveu. Sendo uma coisa ou outra, Salomão está em destaque, com sua vida e sua sabedoria.
       As lições pretendem elucidar em forma de reflexões os capítulos do Eclesiastes, não pretendendo
entrar em questões técnicas, como linguística, etc. A proposta é tratar o Eclesiastes como o diário de um sábio, analisando a nossa vida hoje pelos indicativos do pregador.  Salomão tem, ao longo do seu
diário, uma certa oscilação de humor. Alguns capítulos, por exemplo, quase nos levam a crer que
existe uma contradição instaurada. Não sei por que, mas me identifico por demais com esse diário.
       Vejo que a distância de épocas não consegue suprimir características centrais da humanidade: dias que preferimos não ter acordado, momentos que nunca desejaríamos ter vivido.

1 – O ambiente histórico

       A linguagem e o aparecimento de algumas palavras persas situam o livro firmemente no período
pós-exílico. Alguns comentaristas recentes optam pelo início do período helênico, entre 300 e 200 a.C., quando os Ptomoleus do Egito incluíram a Palestina como parte de seu império. Esses reis ptolemaicos exploravam o país com impiedosa eficiência. Deram continuidade ao sistema econômico persa anterior de se apossar da riqueza dos povos aos quais governavam, especialmente por meio de seu sistema fiscal, iniciado pelos persas e mantido sob o governo desses reis egípcios. O sistema requeria dos pequenos fazendeiros o pagamento de impostos, não com produtos agropecuários
porcentagens da colheita ou dos rebanhos ovinos e bovinos.
Em vez disso, esses reis helênicos exigiam o pagamento anual de uma soma fixa em moeda corrente,
qualquer que fosse o produto da lavoura ou da criação.
A introdução dessa economia monetária na Palestina teve um efeito devastador sobre a vida e a condição da população judaica. Em períodos de seca, de pestes, ou de redução das chuvas, muitos pequenos proprietários tinham de hipotecar ou vender sua propriedade. Às vezes, tinham até de vender a si mesmos e a família como escravos, para obter o dinheiro necessário ao pagamento dos impostos exigidos. Aumentou a distância entre os pequenos proprietários e fazendeiros e a rica classe aristocrata. Esta minoria abastada se compunha de funcionários estrangeiros que haviam se instalado tanto no país, como fora dele. Também incluía os agentes e os colaboradores desses estrangeiros, judeus de classe alta.
Muitos pequenos fazendeiros e suas famílias se viram privados de suas propriedades, enquanto que
a elite opulenta acumulava áreas cada vez maiores para si e/ou para os agentes das potências dirigentes estrangeiras, primeiro da Pérsia e depois do grupo de reis e nobres ptolemaicos. Os fazendeiros e pastores, despossuídos, agora trabalhavam a terra como meeiros ou diaristas.
Os antigos valores e relacionamentos baseados nos laços familiares e de parentesco tinham promovido a ajuda e o apoio mútuos. Mas com a nova economia monetária em expansão, essas redes de consanguinidade e de apoio começaram a se desfazer. Membros da mesma família ou do mesmo grupo viram-se separados em estratos econômicos diferentes e opostos.
Os valores e padrões mais antigos, fundados na lealdade e na compaixão humana, haviam dado lugar a valores mais materialistas de riqueza e influência, com a chegada das forças dirigentes estrangeiras
e de seus representantes.
Logo, muitas pessoas já não podiam compreender o mundo e a maneira como ele estava agora organizado, uma vez que estava estranho ao que estavam educados.
É nesse contexto de incerteza que podemos situar Coélet. Diante dessa confusão política e econômica
sob o tacão de um regente opressor, Coélet e muitos de seus companheiros judeus devem ter tido uma sensação de impotência e incapacidade de melhorar as coisas. É nessas circunstâncias, e com essas limitações, que ele se empenha em sua busca da maneira mais “sábia” de levar a vida.
Coélet responde as crises econômica, política e religiosa de seu povo de duas formas. De um lado,
volta-se como pastor compassivo para seu povo, moldando para ele uma espiritualidade marcada pelo
mais rigoroso ascetismo. Do outro, ataca os fundamentos intelectuais, a chamada “sabedoria” da economia monetária helênica, que estava causando tamanha destruição na vida de seus companheiros judeus.

2 – A estrutura do Coélet

Os estudos de Addison Wright demonstram a unidade do livro e a progressão do pensamento. O
livro tem uma estrutura simples e descomplicada, na qual estão em ação dois padrões complementares.
As palavras-chave e refrões dividem o livro em seções.
Na primeira metade do livro, Coélet descreve sua investigação da vida. Essa primeira metade se divide em oito seções, sendo cada uma delas encerrada com a fugaz “vaidade das vaidades“ e/ou “uma corrida atrás do vento”. Coélet apresenta algumas conclusões das investigações que fez.
A segunda metade também se divide em oito seções. As quatro primeiras seções terminam com o verbo “descobrir” (ou equivalente) e as quatro últimas são concluídas com o verbo “saber” (ou equivalente).
Essa estrutura, baseada nos refrões e na repetição de palavra-chave, é confirmada e complementada
pela identificação que Wright fez de padrões numerológicos que controlam a extensão do livro. Tal como no Livro dos Provérbios, o valor numérico das letras das palavras-chave parece determinante no que se refere à extensão do livro e de vários de seus segmentos.
O padrão mais óbvio se constrói a partir da palavra hebel, “vaidade”, que ocorre trinta e sete vezes. O
valor numérico das consoantes em hebel também é trinta e sete. O número de versículos de cada metade do livro é cento e onze, ou três vezes trinta e sete. Observe que os “refrões” de 1.2 e de 12.8 contém, cada um, três hebels. Wright identificou outros padrões matemáticos além desses. Porém,
basta dizer que esses padrões coincidem com as indicações estruturais proporcionadas pelos
refrões repetidos. Em outras palavras, é óbvio que o autor elaborou a obra com extremo cuidado e deu uma forma consciente e proposital ao livro, tanto em termos de extensão como de organização.

Para pensar e agir:

1 – O diário de um sábio não quer ser um guia moral para a sua vida.
Aqui não é autoajuda, psicologia barata, ou qualquer outra tentativa de moldar sua vida. Apenas acompanharemos o diário de alguém considerado o mais sábio de sua época. Retire os óculos de sua forma de ver as coisas. Tente ver além do que está escrito, enxergue além do jeito como sempre enxergou todas as coisas.
2 – O diário de um sábio pretende demonstrar a estranheza de ontem e de hoje da nossa vida. Pretende comparar como somos falíveis e, em muitos aspectos, iguais. Como
somos fracos, e também sem ação.
Como cansamos do faz de conta da religiosidade. E como desistimos até mesmo do que acabamos
de falar.
3 – O diário do sábio quer que você se sinta à vontade, se sinta bem à mesa, se sinta em casa, a
ponto de refazer e fazer, de ver e não ver, de aprender e desaprender, de vislumbrar ou não de quem
sabe desenvolver a sabedoria, de quem sabe apreender o que ainda não havia, de quem sabe construir
novas possibilidades, de quem sabe ser abençoado à luz dos desabafos e discursos do grande pregador e sábio que iniciou o seu diário com as polêmicas palavras: “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade!...”.
As lições que você tem em mãos, deseja sintetizar percepções de um jovem pastor, escritor, esposo,
filho, neto, amigo, irmão, cunhado, falho, pobre, simples, pecador, desacreditado com algumas coisas, andarilho, discípulo, amante da filosofia, servo do bem. Seja bem-vindo ao diário do sábio vaidoso; do rei invejável, mas do amigo da sabedoria!

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