quarta-feira, 27 de julho de 2016

A INUTILIDADE DE CORRER ATRÁS DO VENTO

Eclesiastes 1.1–2.26

        A palavra Eclesiastes vem do termo hebraico ת לֶ הֶֹ֣ק , ou seja, “reunir” ou “juntar”, e a sua forma
sugere algum tipo de cargo público. Era, possivelmente, um status eclesiástico de alguém que
convocava uma assembleia ou falava perante ela. A raiz da palavra Eclesiastes é a mesma usada
para o termo “igreja” ou “congregação”
Eclésia. O título do livro que estamos refletindo pode ter diversas traduções: “o Pregador, o Orador, o Presidente, o Porta-voz, o Filósofo, o Professor”.
O autor do livro é o rei Salomão, defendido pela tradição. Era conhecido pela sua sabedoria – “Palavra do Pregador, Filho de Davi, rei de Jerusalém” (Ec 1.1). A temática do livro pode ser resumida assim: “Vaidade de vaidades” diz o Pregador; “vaidades de vaidades! Tudo é vaidade” (Ec 1.2).
Ao lermos o Eclesiastes, temos a impressão de que Salomão, em um dia que não tinha muita coisa
a fazer, sentou em seu trono real e começou a meditar na vida, em tudo o que já havia feito, chegando
à conclusão de que sua vida era inútil, pois gastou muito tempo com coisas inúteis.
De fato, é um tema interessante. Em minha opinião, perece que o autor está sem otimismo, cau17
sando em nós também certo desânimo diante da vida. Reflitamos um pouco mais adiante.

1. A vaidade do ter (Ec 2.1-11)

Salomão foi um homem extremamente rico. Um pouco da sua fortuna está explícita em 1Reis
10.14-29. O capítulo 2 do Livro de Eclesiastes descreve que o mesmo investiu muito em coisas e em
pessoas: casas, jardins, bosques, gado, terras, cantores, escravos, etc. Está registrado: “Tudo quanto
desejaram os meus olhos não lhes neguei” (Ec 2.10).
Conta-se a história de certo rei que era muito infeliz. Ele consultou os sábios do seu palácio querendo
que o ajudassem a encontrar a felicidade. Os sábios lhe disseram que a única maneira de ser feliz
seria usando a camisa de um homem feliz. Então o rei mandou mensageiros por todo o reino, a
fim de encontrar um homem feliz e comprar sua camisa a qualquer preço. Eles viajaram por diversas
cidades, mas não encontraram ninguém que fosse verdadeiramente feliz. Por fim, quando já estavam
desistindo da missão, ouviram um homem cantarolando e nadando alegremente num riacho ali perto.
Eles pararam e perguntaram: “O senhor é feliz?”. Ele respondeu: “Claro que sou! Acho que sou até
o homem mais feliz do mundo! Não tenho quase nada, mas tenho a liberdade de vir para cá sempre
que quero. Aqui posso tocar meu violão, posso cantar à vontade, posso pescar, posso nadar, posso
ver o pôr do sol e os pássaros me fazem companhia”. Então, os mensageiros do rei desceram do cavalo, pegaram uma grande quantia de dinheiro e disseram ao homem: “O rei precisa da sua camisa e ele quer comprá-la”. Aquele sujeito começou a sorrir e disse: “Diga ao rei que o homem mais feliz do mundo não tem camisa”.
Sobre a temática do conto acima, o Cristo nos ajuda dizendo: “porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12.15). Salomão chegou também a esta conclusão.
Vejamos: “Mas, quando pensei em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para conseguir fazê-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito. Era como se eu estivesse correndo atrás do vento” (Ec 2.11 - NTLH).

2. A vaidade da sabedoria (Ec 2.12-17)

Você saberia me informar quantas horas tem um ano? Sabe quantos segundos tem um dia?
Sabe quantos dias dura a primavera? Sabe qual é o diâmetro da terra? Que perguntas esquisitas
a essa hora – você pode pensar – mas se soubesse respondê-las, na ponta da língua, eu diria que
você é um gênio. Essas informações para Salomão era fácil, pois ele era muito sábio.
A Bíblia relata que “de todos os povos vinha gente a ouvir a sabedoria de Salomão” (1Rs 4.34). Relata também que um dia recebeu uma visita ilustre, a rainha de Sabá. Vejamos o texto: “A rainha de Sabá ouviu falar da fama de Salomão e foi até Jerusalém a fim de pô-lo à prova, com perguntas difíceis...
quando se encontrou com Salomão, ela lhe fez todas as perguntas mais difíceis que podia. Ele respondeu a todas; não houve nenhuma que fosse difícil demais para ele responder” (2Cr 9.1-2 – NTLH).
A rainha ficou impressionada, simplesmente encantada com tudo o que ouviu e viu, e declarou: “Eis
que não me contaram nem a metade da grandeza da tua sabedoria” (2Cr 9.6). Salomão era “o cara” da
sua época! O que devemos perceber de interessante em tudo isso é que apesar de toda sabedoria, ele descobriu que é tolice se esforçar demais para adquirir conhecimento (Ec 2.15-17), pois o final da vida do sábio é o mesmo da vida de quem não sabe nada – ambos caem no esquecimento.
O sábio teria dito assim: “De que me adiantou gastar anos e anos para descobrir o diâmetro
da Terra, se tanto eu como aqueles que nem sabem que a Terra tem diâmetro, vamos todos acabar no
mesmo buraco, debaixo da terra?”. Mas o que fazer diante disso tudo? Deixar de estudar e buscar a
sabedoria? Claro que não devemos agir assim. Salomão desabafa. Assim como todos nós, quando
vivemos aqueles dias de crises e muitas reflexões.
Devemos buscar, sim, a sabedoria e o conhecimento, pois vale a pena adquirir. No entanto, a sabedoria que precisamos buscar é a de Deus. A sabedoria do alto é eterna e experiencial. É construída na vida. Não vem pronta ou enlatada. É processual! É gradual! É existencial!
Sobre a sabedoria, a carta de Tiago registra: “A sabedoria que vem do céu é antes de tudo pura;
e é também pacífica, bondosa e amigável. Ela é cheia de misericórdia, produz uma colheita de boas
ações, não trata os outros pela sua aparência e é livre de fingimento” (Tg 3.17 – NTLH).

3. A vaidade do trabalho (Ec 2.18-26)

Chegando à parte final da sua vida, Salomão realmente entendeu o quanto “correu atrás do vento”.
Ele “ralou” a vida toda para adquirir conhecimento, riqueza e fama, mas percebeu que, enquanto juntava seus “tesouros”, não tinha tempo para desfrutá-los e, no fim de tudo, outras pessoas iriam esbanjar o que ele “a duras penas” conquistou. Por isso, exclamou: “Tudo o que eu tinha e que havia conseguido com o meu trabalho não valia nada para mim. Sabia que teria de deixar tudo para o rei que ficasse no meu lugar. E ele poderia ser um sábio ou um tolo – quem é que sabe? No entanto, ele seria o dono de todas as coisas que eu consegui com o meu trabalho e ficaria com tudo o que a minha sabedoria me deu neste mundo. Tudo é ilusão” (Ec 2.18-19 – NTLH).
Trabalho não é castigo! O trabalho é uma dádiva de Deus concedida ao homem antes mesmo da
rebelião do pecado (Gn 1.28-30 e 2.19-20). No entanto, o trabalho deve ser um meio para a vida
e nunca um meio para a morte.
É trabalhar para viver e não viver para trabalhar. O trabalho é o meio pela qual contribuímos para por o mundo em ordem. Precisamos do trabalho, mas o nosso semelhante precisa mais de mim do que qualquer outra coisa. Com o meu trabalho, abençoo o meu vizinho e torno o nosso mundo mais habitável!

Para pensar e agir:

1 – De que precisamos para sermos felizes? De onde vem a felicidade? É possível ser feliz? Podemos
concluir que o homem não tem capacidade de encontrar a satisfação por seus próprios méritos, por mais que se esforce, pois “tudo é vaidade; tudo é correr atrás do vento”.
2 – Será que o seu sonho de riqueza não tem tornado sua vida um pesadelo? Será que hoje, você
não se resume apenas ao trabalho? A maneira para um viver equilibrado
está justamente quando as conquistas da criatura não dispensam o Criador; quando os alcances
de nossos conhecimentos não nos trazem arrogância de uma vida isolada, sem darmos o devido valor ao semelhante.
3 – Será que você não está correndo atrás do vento? A vida feliz passa por essas reflexões, mas
precisamos parar de correr atrás do vento e encontrarmos os caminhos que nos ajudarão a responder
o propósito de nossa existência!
4 – A sua sabedoria se resume apenas a conhecimentos e descobertas humanas ou materiais?
Como é a sabedoria de Deus para você? Você acha que é possível a felicidade pela sabedoria divina? A sabedoria divina é a educação necessária no uso de nossas habilidades e conhecimentos e descobertas humanas ou materiais?
Como é a sabedoria de Deus para você? Você acha que é possível a felicidade pela sabedoria divina? A sabedoria divina é a educação necessária no uso de nossas habilidades e conhecimentos conquistados!

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