Lição 3
– O testemunho apostólico
Texto bíblico: Gálatas 1.11-24
Texto áureo: 2Timóteo 1.8
Neste
estudo, abordaremos um depoimento pessoal de Paulo, o apóstolo dos gentios (Ef 3.8; 1Tm 2.7). Interessa-nos,
principalmente, destacar a fonte, a natureza e os desdobramentos desse
testemunho apostólico, procurando, assim, estabelecer uma relação com a proclamação
da igreja de Cristo, hoje.
A fonte do testemunho apostólico
É
muito importante o destaque dado por Paulo à origem de seu apostolado, por dois
motivos:
(1) primeiro,
para esclarecer que ele não traz uma mensagem nova, mas, simplesmente, passa a
mensagem divina adiante. Ao cumprir sua missão, Paulo tornou-se o principal
intérprete das profecias messiânicas do Antigo Testamento (1Tm 1.15).
(2) segundo,
para defender-se daqueles que procuravam denegrir sua imagem e seu testemunho
perante a igreja (Gl 5.11). Esses opositores induziam os gálatas ao erro, movidos
por inveja e sentimento faccioso (Gl 5.26). Portanto, ao apelar para a revelação de Jesus Cristo como a fonte do
seu testemunho (Gl 1.1,12; 1Co 9.1), o grande mestre cristão desnuda seus
opositores. Nenhum deles havia passado pela experiência do encontro com o
Salvador e, por essa razão, não andam na verdade do evangelho (Gl 2.5).
O
fator que sobressai no apostolado de Paulo é a graça soberana de Deus por
intermédio de Cristo (Gl 1.12,15). A revelação de Jesus causou não apenas a radical
conversão de Paulo –
pelo abandono da atitude extremista farisaica (At 26.11; Fp 3.4-6) – mas também
sua consequente vocação para pregar aos gentios (At 9.15; Gl 1.16).
Nossa fonte de revelação, hoje
O mesmo
evangelho da livre graça que fora dado a Paulo, por revelação direta da parte de Jesus
Cristo[1],
encontra-se disponível à igreja, hoje.
Não nos
referimos com isso às revelações especiais que suscitam os apostolados modernos,
mas tão somente à revelação do mistério da fé, que é Cristo, esperança da
glória (Cl 1.26,27).
Portanto,
a fonte divina do testemunho da igreja ao mundo é a palavra da verdade, o evangelho da salvação (Ef 1.13). Por meio das
Boas-Novas, descortina-se o eterno propósito divino, pelo sangue de Cristo, de
oferecer ao mundo a redenção, segundo a
riqueza da sua graça (Ef 1.7-9).
O
desvendar do mistério do evangelho, pelo testemunho da pregação, apresenta as
implicações seguintes:
•
suscita, da parte da igreja, a vigilância em oração com o intuito de encorajar
os mensageiros diante da qualquer resistência (Ef 6.18,19; Cl 4.3);
•
exige a exposição profética das Sagradas Escrituras e uma resposta de fé da
parte dos ouvintes (Rm 16.25,26).
ð Como podemos intensificar nossa relação com a Bíblia Sagrada, fonte
inesgotável de vida e de salvação?
ð De que maneira podemos estimular a oração pelo pastor e demais
pregadores do evangelho na igreja?
A
natureza do testemunho apostólico
O
que podemos depreender da atividade apostólica em o Novo Testamento? Que
significados podem ser extraídos da expressão “apóstolo”?
Dentre
os sentidos do termo apóstolo,
destacam-se as definições seguintes:
(1) alguém
escolhido para levar uma mensagem;
(2) alguém
enviado por outrem com uma mensagem a transmitir;
(3) alguém
que recebeu uma comissão diretamente de Deus para representá-lo.
Em
Gálatas 1.17, Paulo fala dos primeiros apóstolos. Foram homens nomeados e
treinados por Jesus para dar continuidade à sua missão redentora (At 1.21.22). Entre os principais deveres apostólicos
estavam a pregação (At 4.33; 1Co 1.17), o ensino (2Pe 3.2; Mc 6.30) e a
administração da igreja[2]
(At 4.34-37; 15.6,22; 16.4).
O
evento que desencadeia o testemunho apostólico é o encontro com o Senhor
ressurreto (1Co 15.6,7) – fato, inclusive, alegado por Paulo (1Co 15.8). A
ênfase dada a essa tarefa testemunhal leva Paulo a designar alguns de seus cooperadores
como apóstolos[3],
não como termo técnico, mas como “mensageiros
autorizados do evangelho” (2Co 8.23; Fp 2.25; Rm 16.7).
ð Quais os desdobramentos da ressurreição do Senhor Jesus para o
testemunho cristão? (Rm 1.4; 1Pe 1.3)
Nosso
testemunho, hoje
No Brasil, em anos recentes, o termo apóstolo vem sendo retomado por grupos neopentecostais de
diferentes denominações. Essas instituições alegam que seus apóstolos – e
apóstolas – pertencem à mesma linha sucessória que se desenvolveu nos
primórdios da igreja primitiva. Afirmam, também, que seu ministério é resgatar
para a igreja a sua verdadeira vocação e missão, a partir do que denominam “um
genuíno mover de Deus”[4].
Nós, batistas, não cremos nesse conceito caricato de uma
igreja que precisa ser resgatada. Ela é – e continuará sendo – coluna e esteio da verdade (1Tm 3.15b).
Seu resgate deu-se pelo sacrifício eficaz de Jesus, na cruz (Mc 10.45).
Também não cremos em sucessão apostólica, pois não foi
essa a ênfase de Jesus, ao indicar aqueles que dariam continuidade à sua
missão. Os apóstolos foram escolhidos para salvaguardar a mensagem do evangelho
autêntico. Neste anúncio, eles transmitiram, da parte de Deus e de seu Filho
Jesus, o testemunho que deu forma e dinâmica ao corpo de Cristo (1Co 15.22).
ð Qual tem sido a ênfase dos ministérios eclesiásticos em nossos dias?
Tem-se enfatizado a mensagem, ou o mensageiro? O conteúdo evangélico, ou
estratagemas humanos?
A confirmação do testemunho apostólico
Demonstrações
de poder e grandes sinais seguiram os atos dos apóstolos de Jesus. Esses milagres
incluíam a expulsão de demônios e a cura de enfermos, sempre acompanhando a
pregação do evangelho (At 2.43; 2Co12.12; Hb 2.3b,4). Dessa forma, confirmava-se
diante de todos a realidade da comissão divina.
Em
Gálatas, entretanto, o apostolado de Paulo ressalta outros dois fatores
comprobatórios da validade de seu testemunho, os quais passamos a considerar:
1) Sua nova vida em Cristo, confirmada
pelos demais cristãos
O
ponto de partida para testemunho do evangelho de Cristo é a cidade de Jerusalém,
que constituía a base do culto judaico e o berço da igreja cristã. Nessa
cidade, Paulo relata seu encontro com os apóstolos Pedro e Tiago, o irmão do
Senhor (Gl 1.18,19), e afirma que se deu a conhecer aos cristãos que ali viviam (Gl
1.22). Sua reputação como pregador do evangelho havia se espalhado rapidamente
e a igreja glorificava a Deus por esse redirecionamento (Gl 1.24).
Quando
“aprouve a Deus” (Gl 1.15a), o perseguidor passou a ser perseguido; o
destruidor de vidas passou a edificá-las (Gl 1.23). Todos reconheceram a
mudança na vida do mais voraz perseguidor da igreja, pois, em favor da salvação
pela graça, Paulo abriu mão de tudo por amor a Jesus Cristo (Fp 3.8). Essa é a
mais importante evidência na vida de um pregador.
2) As vidas transformadas, em
decorrência da sua pregação
Paulo
esperava que sua conversão fosse um paradigma para os cristãos da Galácia (Gl
4.12), pois a segunda evidência que confirma seu testemunho apostólico é a
transformação na vida dos ouvintes da mensagem cristã.
Dentre
os muito exemplos bíblicos, dois sobressaem:
• a
vida de Tito, companheiro de Paulo e seu filho na fé, que é descrito por ele como “o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por
todas as igrejas” (2 Co 8.18);
• os cristãos da igreja em Corinto. Paulo ressalta que os
efeitos da pregação ali demonstram, conclusivamente, a validade da mensagem que
lhes fora pregada (2Co 1.6).
ð O impacto deixado por Cristo em nossa vida é perceptível à
sociedade?
Conselhos úteis
A
igreja não reproduz apóstolos,
simplesmente permanece fiel à doutrina apostólica (At 2.42; Tt 1.9), a fim de
oferecer ao mundo o testemunho de Deus (At 4.33; 1Co 2.1). Assim é que os
discípulos de Jesus tornam-se embaixadores
de Cristo (2Co 5.20a) e, dessa forma, cumprem com autenticidade sua vocação
missionária (1Pe 2.9).
Não
devemos e não podemos nos envergonhar do testemunho do Senhor, apesar das
provas e tribulações deste mundo. Pelo contrário, estimulados pelo poder do
Espírito, lutemos em favor do evangelho e ofereçamos um modelo digno de ser
seguido, para a honra e glória do nosso Deus (2Tm 1.8).
[1]
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo
Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1981, p. 293
[2]
HARRISON, E.F. Artigo Apóstolo, apostolado.
(in: Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova,
1993, Vol. I, p. 103).
[3]
O termo grego traduzido como mensageiros em 2Coríntios 8.23 e Filipenses 2.25 é
apóstolos.
[4] WWW.cieab.com.br/2011/br/biografia.php
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